Favela da Coréia

OAB-RJ pede apuração sobre mortes em operação policial

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19 de outubro de 2007, 12h50

O presidente da OAB do Rio de Janeiro, Wadih Damous, classificou de “cenas de barbárie” as imagens exibidas pela TV Globo da ocupação pela polícia da Favela da Coréia, na zona oeste do Rio, na quarta-feira (17/10). Segundo o jornal O Estado de S. Paulo, Damous afirmou que vai pedir investigação do Ministério Público.

Entre as cenas levadas ao ar na quarta-feira, há uma seqüência em que dois homens sem camisa fogem dos tiros de um helicóptero pela mata. Em poucos segundos e após vários disparos, os dois são atingidos e mortos.

O secretário de Segurança Pública do Rio, José Mariano Beltrame, defendeu a ação, ressaltando que os suspeitos estavam armados e participaram de um ataque a uma equipe de policiais. “Eles quase mataram a tiros uma equipe da DPCA (Delegacia de Proteção a Criança e ao Adolescente) que estava em uma casa cercada por marginais. O blindado não conseguiu chegar até lá. Se não fosse a ação do helicóptero, eles teriam assassinado os policiais.”

Segundo a polícia, uma equipe da DPCA, comandada pelo delegado Deoclésio Francisco de Assis, foi cercada por duas horas por traficantes nas matas da Vila Aliança, favela vizinha da Coréia, que juntamente com a Favela do Rebu formam o Complexo do Camará. Os policiais se refugiaram em uma casa. Um carro blindado foi chamado para o socorro, mas não chegou ao local.

Nesse momento, o helicóptero foi acionado e dispersou o bando, segundo a polícia. Três se esconderam atrás de uma pedra e atiraram contra a aeronave. Os policiais revidaram e dois que desceram pela mata foram mortos pelos tiros. Um conseguiu fugir. Segundo a polícia, duas pistolas foram apreendidas com os suspeitos.

O presidente da OAB-RJ não se convenceu com os argumentos da polícia. “Vamos requisitar à Rede Globo cópia do DVD com as cenas da execução. Aos meus olhos, não ocorreu uma ação policial. As imagens mostram dois homens desarmados, que não ofereciam risco, tentando escapar, quando foram mortos. Eles foram castigados.”

O diretor do Departamento de Polícia Especializada, delegado Allan Turnowski, disse que o “tiroteio pesado é um padrão” nas favelas do Complexo do Camará. Segundo ele, a prova do poder de fogo do tráfico foi o cerco de uma hora e meia aos cinco traficantes que se refugiaram em uma casa. “Eles se entregaram apenas quando a munição acabou e, antes disso, mataram uma criança e um policial.” Outros quatro agentes foram feridos durante o cerco, incluindo o titular da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core), Rodrigo Oliveira, que teve alta na quinta-feira (18/10)

A organização não-governamental Justiça Global distribuiu nota em repúdio à ação policial. O texto, assinado por outras 30 entidades, deputados estaduais e vereadores, critica a “carta branca” que o governador Sérgio Cabral (PMDB) teria dado “para as incursões de extermínio da polícia”. Ainda de acordo com o texto, “o relator especial da ONU sobre execuções sumárias, Philip Alston, estará no Rio no dia 7 para acompanhar “as denúncias de violência geradas pela atual política de segurança pública”.

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