Guerra das teles

Ex-diretor da Abin é acusado de favorecer Telecom Italia

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12 de novembro de 2007, 17h40

O ex-diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), delegado Mauro Marcelo, voltou a ser acusado de ter atuado em favor da Telecom Italia, em sua disputa com o Grupo Opportunity, do empresário Daniel Dantas, pelo controle da Brasil Telecom. Segundo o jornal Corriere della Sera, o ex-chefe de segurança da Telecom Italia, Giuliano Tavaroli, admitiu à polícia italiana que Marcelo era um aliado institucional de peso na guerra de espionagem das teles: “Sendo homem do presidente Lula, Marcelo nos garantiu seu apoio institucional, visto que Dantas era um inimigo do presidente”.

Ainda segundo o jornal, a empresa italiana recorreu ao chefe da Abin quando se tornou público que o Opportunity tinha contratado a empresa de investigação privada Kroll para espionar a Telecom Italia. Os dois grupos travavam então uma guerra de vida ou morte para assumir o controle da Brasil Telecom. Segundo Tavaroli, depois que estourou o esquema de espionagem da Kroll contra a Telecom Italia, foi Mauro Marcelo quem recomendou aos italianos a contratação do detetive particular Eloi Lacerda. Ainda segundo Tavaroli, Lacerda exigiu da Telecom Italia um pagamento de US$ 300 mil, com a alegação de que fora ele com suas informações que possibilitara à policia descobrir o esquema da Kroll.

Tavaroli, que identifica Marcelo como chefe da do setor de precatórias da polícia antes de assumir a Abin (na verdade o delegado da polícia civil de São Paulo Mauro Marcelo foi chefe da primeira delegacia especializada em crimes cibernéticos do país), relata ainda que o contato com Marcelo era feito através do gerente-geral do grupo italiano para a América Latina, Marco Bonera, “de maneira absolutamente correta”.

Palestras na Itália

Ouvido pela Consultor Jurídico, o delegado Mauro Marcelo, que foi diretor-geral da Abin entre junho de 2004 e julho de 2005, admitiu que teve um encontro com Bonera no escritório da Pirelli para tratar de palestras que ele daria na Telecom Itália sobre sua especialidade. “Lembro que fui apresentado a alguns italianos que estavam com ele. Como não falo italiano, conversamos em inglês. Pode ser que o Tavaroli seja um deles.”

Marcelo diz que não poderia ter dado “apoio institucional” à Telecom Italia porque este encontro aconteceu dois ou três anos antes de ele ir para a direção da Abin. “Nem o Lula havia sido eleito ainda. É muito exercício de futurologia.” Marcelo confirma que seu único contato com a Telecom Italia voltou a acontecer em 2004, quando o convite para dar um curso na empresa foi renovado e aceito, meses antes de ser designado para a Abin.

Tradutora ameaçada

A mesma reportagem do Corriere sustenta que Luciane Araújo, a brasileira que confirmou para a Justiça italiana o esquema de espionagem ilegal montado pelo Telecom Italia no Brasil, denunciou à polícia que depois de prestar depoimento foi seguida e ameaçada por um desconhecido. A informação foi dada pelo juiz Giuseppe Gennari.

Em depoimento á polícia italiana nos dias 4 e 24 de outubro, Luciane confirma sua entrevista à Consultor Jurídico de que foi contratada por Mario Bernardini (que é tratado como Marco Bernardini pelo Corriere), ex-chefe de segurança da Telecom Italia, para fazer traduções das conversas telefônicas interceptadas ilegalmente no esquema de espionagem montado pela empresa contra o Opportunity e Daniel Dantas.

“A minha missão era unicamente a de traduzir CDs de áudio contendo interceptações telefônicas em português entre altos dirigentes da Brasil Telecom e Telecom Italia a respeito de operações de balanço falsificadas, informações pessoais de caráter privado, movimentações financeiras sobre eventuais empreitadas, identificação de testas-de-ferro”, declarou Luciane à polícia.

Leia a reportagem do Corriere della Sera

Telecom

Aparece testemunha sobre CD do Brsil com telefonemas entre dirigentes

Intérprete denuncia intimidação: “eu traduzi as interceptações ilegais

Por Luigi Ferrarella

O juiz Giuseppe Gennari informou que “inquietantes e precisas pressões assustaram” uma testemunha estrangeira da investigação Telecom, depois que ela contou aos investigadores que “trabalhou nos escritórios da Global, em Milão (nota da redação: a empresa de um dos investigadores privados da Telecom, Marco Bernardini) como tradutora das conversas objetos de interceptações evidentemente abusivas” no Brasil.

Ouvida há apenas uma semana, em 4 de outubro, Luciane Araújo explica que fou contratada em 2004 por Bernardini “que estava iniciando um trabalho no Brasil e procurava uma tradutora. Começou a trabalhar em 3 de novembro de 2004 nos escritórios que Bernardini tinha no quinto andar do Hotel Contessa Jolanda, em Milão. A minha missão era unicamente a de traduzir CDs de áudio contendo interceptações telefônicas em português entre altos dirigentes da Brasil Telecom e Telecom Italia a respeito de operações de balanço falsificadas, informações de car[ater privado sobre pessoas, movimentações financeiras sobre eventuais empreitadas, identificação de testas-de-ferro.

Em 24 de outubro a jovem volta a prestar depoimento e conta à polícia judiciária “ter sofrido intimidações depois da audiência de 4 de outubro”. Um homem, de quem fornece a descrição física, a seguiu e a intimou a não falar;

no dia seguinte, a jovem notou que o homem a seguia novamente.

O 007 amigo e o presidente Lula — O ex chefe da Security da Telecom, Giuliano Tavaroli, na guerra com a Kroll, admite (no interrogatório de 9 de maio), de ter tido um aliado de peso: “Pudemos contar com o apoio institucional de Mauro Marcelo, que era chefe da polícia postal e se torna responsável pelos serviços de segurança no Brasil. Sendo homem do presidente Lula, Marcelo, no curso de uma reunião comigo e com Bonera (nota da redação: dirigente da Telecom na América do Sul), nos garantiu o seu apoio institucional, visto que Dantas (nota da redação: adversário de Tronchetti) era um inimigo do presidente Lula”. De acordo com Tavaroli, “a relação com Marcelo” foi administrada por Bonera, asseguro que de maneira absolutamente correta. Foi Marcelo que nos sugeriu que contássemos com a colaboração de do detetíve particular Eloi Lacerda para a Pirelli na América do Sul”.

Quando a polícia brasileira desmantelou no verão de 2004 “a central de espionagem contra nós”, Eloi “exigiu 300 mil dólares de Janone (nota da redação: homem da Security Telecom no Brasil, preso na segunda-feira), assumindo que foi ele que deu as informações à polícia brasileira”; mas “esta mesma soma foi reclamada também por um padrinho de Elói”, ou seja, exatamente “o ex-chefe da polícia postal que, sob o governo Lula, se tornou o chefe da agência de inteligência”.

Gianni Letta, o ítalo-belga e o presidente – Sobre a gravidade da “operação invasiva da Kroll” no Brasil, contra uma empresa italiana como a Telecom, Tavaroli afirma ter “procurado sensibilizar algumas instâncias institucionais. Falei especificamente sobre isso com Marco Mancini, antes que ele se tornasse chefe da divisão (nota da redação: do Sismi), com Pollari (nota da redação: chefe do Sismi), com o general Spaziante, responsável pela Região da Lombardia da Polícia Financeira, e com o general Saso quando ele se tornou chefe da II seção da Polícia Financeira”.

Além disso, “a pedido do presidente (nota da redação: Tronchetti) apresentei também uma nota a Gianni Letta, subsecretário da Presidência do Conselho com poderes para os serviços secretos”, visto que “na época a Kroll era fornecedora do governo através de Bondi (nota da redação: funcionário Parmalat) que a havia encarregado de encontrar o tesouro de Tanzi na América do Sul”.

A nota para Letta “foi preparada no momento em que ele recebeu um telefonema de um consultor ítalo-belga da Kroll, já envolvido em uma investigação em Milão, o qual pedia autorização do governo para publicar noticias comprometedoras sobre o presidente”. O relato é enigmático. Não se compreende que tipo de autorização e com qual objetivo. Somente os encarregados muito próximos aos trabalhos possam entedner o evasivo relato de Tavaroli, o perfil do analista ítalo-belga (Nunzio Rizzi) que foi interrogado em Milão como co-protagonista do vazamento de notícias sobre o fato que o braço direito do empresário Marcellino Gavio fosse interceptado pela Polícia Financeira na investigação sobre suas relações com o então presidente da província na sociedade de auto-estradas “Milão-Serravalle”.

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