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Sem clamor público, jovem que matou a familia é julgado

8 de março de 2007, 14h10

Por Fernando Porfírio

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Na há mais clamor público e comoção social por causa do crime bárbaro. O tempo que passou acalmou a população da cidade onde aconteceu o delito. E a imprensa local e a nacional já não noticiam o fato ou o julgamento dos acusados. Os réus não estão com sua segurança ameaçada e não há indício de parcialidade do corpo de jurados.

Com esse fundamento o Tribunal de Justiça negou o pedido de desaforamento para o julgamento de um dos acusados de um dos crimes mais bárbaros já ocorridos no Estado de São Paulo. O pintor Carlos Fabiano Faccion, sua namorada Edna Emília Milani e um adolescente mataram a pauladas e depois degolaram cinco pessoas da família de Faccion. O motivo da chacina não poderia ser mais fútil. Os parentes do acusado eram contra o namoro dele com Edna, porque ela estaria envolvida com tráfico de drogas.

O crime aconteceu em 26 de março de 2002, no bairro Alvorada, em Batatais, cidade a 355 quilômetros da capital paulista. O julgamento de Faccion começou na quarta-feira (7/3) e a previsão da juíza que preside o Conselho de Sentença é de que será concluído ainda hoje. Edna já foi condenada a 132 anos de prisão. Como a condenação por uma das mortes lhe rendeu pena superior a 20 anos, ela terá direito a um novo julgamento, previsto para daqui a dois meses. O adolescente (C.F.S.), que participou da chacina em troca de meio quilo de maconha, ficou menos de três anos internado na Febem.

Na chacina, foram mortos os pais, duas irmãs e uma sobrinha de Faccion. Uma irmã estava grávida de nove meses. O feto também morreu. Um outro irmão do acusado, de 7 anos, e uma sobrinha, de 3, sofreram danos cerebrais por causa dos ferimentos, mas sobreviveram depois de meses internados. Somente a avó, de 72 anos, que também dormia, não sofreu ferimentos. Foram mortos Carlos Alberto Faccion, de 52 anos; Maria Aparecida da Silva, de 46 anos; Elaine Cristina, de 24 anos, grávida de 9 meses; L., de 15 anos e T. R., de 4.

A chacina foi descoberta pelo comerciante Luís Antônio Barbiero, 52 anos, patrão de Carlos Alberto Faccion numa empresa de grama, cimento e calcário. Barbiero notou o atraso do funcionário e foi à sua casa. Às 6h30, viu que o portão e a porta estavam abertos. Entrou na casa e, na cozinha, viu o corpo do funcionário. Foi até um dos quartos e viu outras duas vítimas. Chocado, chamou a polícia.

A casa foi isolada e as duas crianças sobreviventes foram levadas para a Santa Casa de Batatais e depois transferidas para o Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto. Uma denúncia anônima levou a polícia até o pintor, na época com 25 anos. Ele estava com a companheira Edna Emília Milani, então com 20 anos, e o menor C.R.S., de 13.

Faccion estava sujo de sangue e alegou que havia sido agredido na cidade vizinha de Brodowski. O casal foi detido e, na delegacia, confessou o crime com detalhes. Edna disse que se sentia ameaçada pela mãe de Faccion e planejou a chacina. Ela convenceu o rapaz a executar o plano e a contratar o adolescente em troca de meio quilo de maconha.

Faccion contou que esperou a mãe dormir. O primeiro a morrer foi o pai, atingido pelo filho na cabeça com uma barra de ferro. Em seguida, o menor cortou-lhe o pescoço. Depois, a mãe foi morta pelo filho. A irmã Elaine Cristina, de 24 anos, grávida de 9 meses, ainda resistiu e tentou proteger, com o corpo, a filha L. F. D. S., de 3 anos, e o irmão L. H., de 7. Mas,foi atingida por Edna . L., de 15 anos, tentou ajudá-las, mas morreu com a irmã T. R., de 4.

A avó Alice Faccion, de 72 anos, que também estava no quarto, nada sofreu e, abatida, foi atendida no hospital da cidade. Ela disse que nada viu e só ouviu barulhos de golpes. Na fuga, os acusados usaram a Variant do pai de Faccion, encontrada logo depois num dos trevos de Batatais. Edna disse que queria matar os adultos após o parto de Elaine e preservar as crianças, mas Faccion antecipou o plano. L. e L. H. tiveram traumatismo craniano e passaram por cirurgias.