Chumbo federal

Fenadepol protesta contra superintendência da Polícia Federal

Autor

4 de março de 2007, 14h11

A Federação Nacional dos Delegados de Polícia Federal, a Fenadepol, divulgou neste fim de semana um manifesto contra a superintendência da PF, em São Paulo. O manifesto foi remetido em primeira mão ao deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP), presidente da Câmara dos Deputados.

Assinado pelo presidente da entidade, o delegado federal Armando Rodrigues Coelho Neto, o documento é tido como a mais ácida carta já emitida contra uma entidade de classe da PF. Segundo a mensagem, policiais federais de longa carreira, sobretudo delegados, têm sido maltratados em São Paulo ao ponto de “as práticas nocivas já extrapolam a esfera interna e já ganham ares de impunidade e afronta à legislação vigente e ao interesse público”.

A carta diz ainda que a superintendência de São Paulo estaria praticando “absoluta impossibilidade de diálogo civilizado de servidores”.

Leia o ofício enviado ao deputado

OFÍCIO 0016/2007

Brasília, 1º de março de 2007

Excelentíssimo Senhor

Deputado Arlindo Chinaglia, presidente da Câmara Federal

A Federação Nacional dos Delegados de Polícia Federal, entidade que representa a categoria em nível nacional, tem entre seus postulados não apenas promover a dignidade de seus representados, mas também defender a Polícia Federal sob a perspectiva cidadã, oferecendo inclusive contrapontos, sob a perspectiva da sociedade.

Nesse sentido, ora em defesa de seus pares, vem perante Vossa Excelência informar que, durante Assembléia Geral Extraordinária desta entidade, com a presença de todos os Presidente de Sindicatos de Delegados, foi aprovada por UNANIMIDADE a apresentação de NOTA DE REPÚDIO E SOLICITAÇÃO DE PROVIDÊNCIAS, em desfavor do Superintendente Regional do Departamento de Polícia Federal, em São Paulo/SP, GERALDO JOSÉ DE ARAÚJO e de seu Diretor Regional Executivo — DREX, o Senhor SEVERINO ALEXANDRE DE ANDRADE MELO, pelos fatos que passa a expor.

1 -Aquele Superintendente Regional tem sido omisso em relação aos constrangimentos praticados contra os Delegados de Polícia Federal, servindo como referência inicial, o tratamento hostil deferido ao Delegado EDMILSON PEREIRA BRUNO, responsável pela apreensão de documentos no Hotel Íbis, durante as eleições passadas. Referido servidor, sem culpa formada, foi de pronto submetido à humilhações, com o imediato recolhimento da carteira funcional e afastamento, tendo sido colocado como um marginal contra a parede e teve revistadas suas partes íntimas, tudo dentro do gabinete de SEVERINO, além de ter que ouvir insultos incomuns contra uma Autoridade Policial.

2- Ainda como referência da desrespeitosa postura de referidos dirigentes, podemos ilustrar a desopinada escala de Policiais Federais grávidas para atividades no plantão da SR/DPF/SP, atividade essa, reconhecidamente estressante e periculosa, em flagrante desrespeito à dignidade da mulher e proteção do nascituro. Uma delas, tentou questionar a medida, tendo até onde se sabe, recebido como resposta “que gravidez não é doença” e, se a criança falecesse, “era só fazer outra”,

3- Também dentro dessa linha de falta de respeito no trato pessoal, e contrário aos postulados de dignificar a categoria, passou a deferir tarefas típicas de Policiais Federais recém-ingressados no órgão, para policiais da classe especial, posicionados em final de carreira. Além do desrespeito à hierarquia, observa-se que, tarefas de plantão, naturalmente mais desgastantes, não poderiam ser deferidas aos policiais mais antigos, e, consequentemente, mais expostos, ao longo dos anos, a estresse típico da atividade policial.

4- Durante recente reunião com os subalternos, o Sr. ALEXANDRE destratou os delegados da Polícia Federal, ao afirmar que eram todos “uns merdas”. Trata-se de postura que não condiz com um dirigente de uma instituição cuja imagem se projeta positivamente para a sociedade, assim como contraria deveres dos servidores públicos, assim como ofende à honra, a aura e a dignidade de todo servidor, notadamente de uma autoridade policial selecionada através de um dos mais rigorosos concursos públicos do País.

5- A falta de urbanidade e uma série de fatos que consolidam essa nefasta política de pessoal em São Paulo, exercida na prática por SEVERINO ALEXANDRE, ou é endossada ou é admitida silenciosamente pelo Superintendente Regional da PF/SP, que, no mínimo peca por omissão.

6- Serve ainda para dar o tom da desastrosa gestão o fato do tal SEVERINO ter ofendido, via telefone, um dos chefes de Delegacia daquela unidade, tendo o ofendido se deslocado até o gabinete do ofensor, ocasião em que o seu acesso foi impedido por dois Agentes adrede postados à porta.

7- As práticas nocivas já extrapolam a esfera interna e já ganham ares de impunidade e afronta à legislação vigente e ao interesse público, pois, até onde se sabe, nenhuma providência foi adotada em relação às várias denúncias feitas durante o período eleitoral e outras como a recente notícia que se encontra sob “aparente investigação” na Corregedoria da PF/SP, versando sobre a utilização de viatura oficial descaracterizada com placas clonadas (fotos em anexo). De ver-se que referido veículo estaria sendo utilizado para fins particulares. O incrível é que, até onde se sabe, tal veículo estava sendo utilizado pelo DREX Severino Alexandre.

8 – Convém lembrar que, durante os ataques da facção criminosa PCC em São Paulo, não ocorreu e não foi providenciada nenhuma medida de precaução, plano ou reunião com servidores, com a finalidade de prevenir ou reprimir qualquer ataque a pessoas e instalações, fato que demonstra o mais absoluto despreparo daqueles dirigentes. As poucas iniciativas foram dos próprios policiais que, por conta própria, atravessaram viaturas na rua, prova de que existe um corpo sem cabeça. Tal inércia , falta de criatividade, de espírito policial e comprometimento com o interesse público foram objeto de chacotas internas e externas.

9- Urge registrar ainda o mal estar generalizado vigente no âmbito da Superintendência Regional em São Paulo, assim como a absoluta impossibilidade de diálogo civilizado de servidores, entidades de classe com aqueles gestores. Urge também pontuar a existência de fatos menores que fomentam a desagregação interna, com reflexos negativos no exercício da atividade policial, tudo sempre a demonstrar a patente incapacidade dos dirigentes ali alocados.

Por todo o exposto, estamos promovendo a presente NOTA DE REPÚDIO e a implementação de providências urgentes no sentido de realizar rigorosa apuração dos fatos noticiados, bem como a imediata destituição de referidos dirigentes dos postos de comando, com vistas a restabelecer a harmonia, o respeito aos servidores policiais e legislação vigente, bem como prevenir possível RECRUDESCIMENTO da situação a níveis intoleráveis com conseqüências imprevisíveis.

Respeitosamente

Armando Rodrigues Coelho Neto, delegado de Polícia Federal e Pres. da Federação Nacional dos Delegados de Polícia Federal — Fenadepol

Amaury De Rosis Portugal, presidente do Sindicato dos Delegados de Polícia Federal/SP SinDPF/SP

Autores

Tags:

Encontrou um erro? Avise nossa equipe!