Banco dos réus

Prisões por corrupção provam vitalidade das instituições

Autor

14 de maio de 2007, 18h30

O brasileiro guarda a convicção de viver em um Estado corrupto. A percepção de que vivemos à sombra da corrupção molda-nos como indivíduos e como sociedade. A corrupção assola-nos e desfavorece em cada pequeno canto da vida cotidiana. Entreolha-nos por meio do atendente quando nos sonega atendimento médico. Tenta-nos em cada político que deixamos de votar. Revela-se naquele em que votamos. Manifesta-se nas formas mais inusitadas, tanto no campo público, como no privado.

O conhecido sonho americano traduz-se na possibilidade de qualquer se tornar um alpinista social. O sonho brasileiro é vencer o estigma de ser brasileiro. A cultura da corrupção, note-se bem, não é injustificada. Aprendemos que esta terra foi colonizada por degredados e aproveitadores; que foi governada por aproveitadores (que deixaram de ser degradados); que ainda é governada por alguns aproveitadores (que devem ser degredados).

Manchetes variadas nos cercam e assolam, como que a confirmar esta idéia. A última destas manchetes diz respeito à dita Operação Hurricane, da Polícia Federal, que afirma ter descoberto ramificações da chamada Máfia do Jogo dentro do Poder Judiciário. Pertenço a este Poder e, nesta qualidade, recebi várias manifestações alarmadas, de colegas e outros conhecidos sobre os prejuízos à nossa credibilidade decorrentes deste noticiário. A todos, respondi o mesmo. Bem entendida a questão, nenhum.

É óbvio que há corrupção no Poder Judiciário. Nenhuma instituição pública, com milhares de agentes, no correr da história, ficou hermética à podridão de caráter. A total extirpação da corrupção requereria reinventar a natureza humana.

O que deve ser valorado, aqui, é se os mecanismos de repreensão a este tipo de conduta estão funcionando e se a corrupção é endêmica ao Poder. Como cidadãos, devemos deixar de praguejar e começar a nos regozijar com a derrocada daqueles que desviam, criminosamente, os fins da máquina pública. Estes eventos são provas de vitalidade das instituições, da imprensa e, em última análise, da sociedade. O silêncio é o manto que todo o prevaricador deseja.

Concomitantemente ao júbilo com estes episódios, devemos perguntar se hoje é provável que qualquer pretensão que levemos à análise do Poder Judiciário seja apreciada por um corrupto. Possível? Talvez sim, conforme já fundamentei. Provável? Não.

Os magistrados e servidores que compõem o referido Poder demonstraram efetiva aptidão técnica em severos concursos públicos de provas e títulos. Muito embora não tenha sido ainda inventada uma prova que mensure aptidões morais mínimas, resta a certeza de estarmos em um caminho lento, mas correto, de prover o Estado com servidores escolhidos com base em méritos.

Um Estado no qual a meritocracia torne-se expressão de justiça e onde a corrupção seja reduzida ao que deve ser, uma mera anomalia. Não nos esqueçamos que, há menos de trinta anos, estávamos atolados em uma ditadura. Ao sair de manhã carregando um jornal onde estão plasmados os rostos de corruptos e corruptores, ainda assim, estejam onde estiverem, devemos sorrir e deixar soprar o vento da democracia.

Autores

Tags:

Encontrou um erro? Avise nossa equipe!