A voz do dono

Saiba quem foi o empresário Octavio Frias de Oliveira

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2 de maio de 2007, 13h31

A morte do empresário Octavio Frias de Oliveira, publisher do Grupo Folha, gerou uma seqüência de homenagens e reverências em número e tom bem acima do que se costuma testemunhar no país.

Seu Frias, como era tratado, secundado por seus filhos, introduziu conceitos e visão empresariais na condução de um projeto de renovação do jornalismo brasileiro, tanto em matéria de produção de conteúdo quanto no aspecto do marketing e negócios.

Na descrição feita pelo jornal Valor Econômico, Frias foi “um dos mais importantes brasileiros do setor de comunicação no século XX. Ele mudou a imprensa brasileira, depois de ingressar no ramo, já aos 50 anos, com a aquisição da “Folha”, em sociedade com Carlos Caldeira Filho, em 1962.

Sob seu comando, continua o Valor, a “Folha” tornou-se peça central de um poderoso grupo de mídia, com presença no setor gráfico e de informação eletrônica. Folha-UOL S.A. (holding) é o segundo maior grupo de comunicação do país, atrás das Organizações Globo. Folha e Globo controlam juntos o Valor. Frias fez da “Folha” um jornal ousado, cujo sucesso se baseou na independência. Em suas palavras: “A independência não é fácil. As tentações são muito grandes e ocorrem todos os dias. Mas não há preço que a pague. E está aí um dos sucessos da Folha” .

Frias disse que preferia ser lembrado como homem de negócios — uma descrição exata do que foi. Como empreendedor, administrou suas empresas com um misto de ousadia nos objetivos de longo prazo e notável prudência e parcimônia na gestão do dia-a-dia.

As apostas de Frias na Folha, e depois na diversificação, deram certo. Em 1996, a Folha atingiria tiragens recordes de 1,5 milhão de exemplares e conseguiria também a supremacia nos classificados. Nos últimos anos, o jornal consolidou sua posição no mercado, apoiado em seus princípios editoriais de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência. O grupo que Frias dirigiu faturou R$ 765 milhões em 2006 e tem a maior empresa de internet da América Latina, o UOL, com 10,67 milhões de visitantes únicos domiciliares.

O mais interessante em Frias, era seu estilo pessoal de conduzir jornalismo e negócios, sem permitir que os princípios das duas atividades colidissem. Coube a ele, por exemplo, aprofundar o espírito de autocrítica que acabou sendo importado por toda a linha de frente da imprensa brasileira. Essa prática incomodou muito, e ainda incomoda, jornalistas que preferiam o mau hábito de esconder seus erros em vez de admiti-los publicamente.

O papel do dono de um jornal, naturalmente, não é do conhecimento dos seus leitores. Ao menos da grande maioria. Essa é a explicação pela qual este site publica, abaixo, um documento raro, que mostra seu Frias em ação.

Corria o ano de 1985. Com seu filho, Otavio Frias Filho, na direção do jornal, o empresário chancelou o que se batizou de Projeto Folha. O programa, em sua teoria implícita, podia levar incautos a confundir seu texto com uma peça de retórica. Falava de metas que, aparentemente, qualquer projeto jornalístico deveria seguir. Mas ao ser aplicado na prática, podou, inclemente, uma série de regalias profissionais das quais os repórteres desfrutavam. O projeto tirava o jornalista do papel de eixo central do jornalismo, para dar esse lugar ao leitor.

O tiroteio que se segue é retrato fiel do momento em que o empresário, confrontado pela quase totalidade dos repórteres da Folha, insatisfeitos com as inovações, enfrenta a redação. Por mais evidente que seja a ascendência de um patrão sobre seus empregados, o enfrentamento fascina pela argumentação do empresário.

Do embate participaram nomes lustrosos do jornalismo como Paulo Francis e Aloysio Biondi (já falecidos), Boris Casoy, Paulo Markun, Caio Blinder, Ricardo Kotscho, José Roberto Alencar, Caio Túlio Costa, Dácio Nitrini e Matinas Suzuki, que trabalhavam na Folha à época.

Acompanhe o debate de Frias com seus jornalistas

Sr. Frias — “Vou ler o abaixo assinado entregue. Os Jornalistas e o Projeto Folha — ‘Em junho de 1984 foi caracterizado em documento do Conselho Editorial o jornalismo a ser praticado pela Folha. Trata-se’ — dizia então o documento — ‘de um jornalismo crítico, pluralista apartidário e moderno’. E acrescentava: ‘Precisamos informar mais e melhor. Chegou a hora de discutir a implantação do Projeto Folha no dia a dia’. Por que chegou a hora hoje, o documento não explicita. Por que só hoje? Ele vem sendo discutido desde a sua implantação.

“Todos os profissionais nele envolvidos — direção de redação, editorialistas, secretários, editores, editores-assistentes, chefias de reportagem, repórteres especiais, redatores, repórteres, repórteres-fotográficos, diagramadores e noticiaristas — foram convidados a reunião que produziu este documento.”


É estranho que o diretor da Redação tenha sido convidado para discutir um assunto interno e que não tem nada com aspirações salariais no sindicato. Em todo o caso, fica um comentário a fazer.

“Compareceram representantes de todas as editoriais da Redação e da Agência, dos departamentos de arte e de fotografia, dos cadernos de Turismo, Mulher e Classificados e também da reportagem especial. Durante duas horas e meia, cerca de cinqüenta jornalistas debateram fundamentalmente o seguinte”:

Eu só quero lembrar que nós temos hoje na empresa, entre a Agência, Empresa Folha da Manhã S/A e Agência Folhas de Notícias, 548 funcionários; portanto, se vocês tinham lá cinqüenta jornalistas, menos de 10%; é verdade que depois 165 assinaram, mas nós sabemos, muitas vezes, como se colhem assinaturas de adesão: “O Projeto Folha e sua execução; Manual Geral da Redação e sua aplicação; os sistema de avaliações; as condições de trabalho e a estrutura da Redação e da Agência;

“Embora haja concordância dos jornalistas com a maioria dos princípios estabelecidos com o Projeto Folha, a verdade é que os métodos utilizados na sua implantação estão em flagrante contradição não só com esses mesmos princípios, mas com toda uma proposta jornalística desenvolvida desde o início do chamado processo de abertura política.”

“A verdade é que os métodos utilizados na sua implantação, estão em flagrante contradição” — este almoço prova que é uma “flagrante contradição”. Este almoço tem se realizado a cada mês e tem provado que há realmente uma flagrante contradição entre os espíritos de abertura que têm imperado nesta Casa e aquilo que pelo menos alguns desejariam que fosse. E eu me pergunto se alguns dos presentes tem conhecimento desse tipo de espírito em qualquer outro jornal da imprensa brasileira; eu quero perguntar a todos os presentes se alguns dos senhores, que trabalharam em vários jornais, têm conhecimento de um grau de abertura dado à Redação, como tem sido dado nesta Casa? A minha pergunta está esperando uma resposta dos senhores. Eu quero saber quem é que terá a coragem de me dizer… (ALGUÉM QUE NÃO SE IDENTIFICOU DISSE “NÃO EXISTE”).

Sr. Frias: — Não existe! Mas o “documento”, eu me recuso chama-lo “documento”, é mais um abaixo-assinado, não reconhece nem isso! Nem esse clima! Termina falando em AI-5! É uma redação absolutamente insuportável, mas vamos adiante…

Não se credita aos esforços desta Casa uma única palavra, aqui, neste documento… Uma única palavra! Nem sequer uma menção, nada! Foi essa proposta chamada processo de abertura política que diferenciou a Folha dos outros jornais, lhe deu prestígio e novos leitores. “Foi esta proposta” — e esta proposta deve ser realmente mérito só dos senhores, a direção nada tem a ver com ela — “foi essa proposta e não apenas o salário que atraiu para as suas redações uma considerável parcela dos mais competentes jornalistas brasileiros.” E eu concordo com isso, admito e espero e desejo que muitos tenham vindo para cá movidos não apenas pelo salário, mas também pelo Projeto do jornal. Uma vez que todos aqueles que foram admitidos depois do Projeto do jornal, tiveram prévio conhecimento do Projeto do jornal e lhes foi dito claramente que aqui estavam consubstanciadas as normas do jornal que se pretendia fazer. Num aviso claro de que quem não pudesse concordar com aquelas normas, não podia vir para cá. Acho que isso foi bem entendido por todos que foram convidados.

“Contraditoriamente iniciou-se um processo de alta rotatividade de pessoal em todos os níveis e as relações de trabalho entraram em rápido processo de deterioração” — sem que se cite nenhum exemplo desse fato, jogam-se apenas palavras no papel. Não se comprova nada do que foi feito aqui, neste abaixo-assinado. Nada! “Contraditoriamente iniciou-se um processo de alta rotatividade de pessoal em todos os níveis e as relações de trabalho entraram em rápido processo de deterioração, com claros reflexos no produto final.”

“Vamos ver o que diz o leitor. Se são verdadeiras ou falsas essas afirmação dos senhores ou daqueles que assinaram este documento! Vamos ver o que é que diz Sua Excelência, o nosso comprador! Vamos saber o que ele diz. Seja ele assinante ou comprador de venda avulsa. Eu tenho aqui um quadro para mostrar aos senhores: CIRCULAÇÃO PAGA — Folha de S.Paulo. Nós fechamos dezembro com uma vantagem de 10,5% sobre o ano anterior, tendo feito quatro aumentos violentos no preço de venda avulsa e de assinaturas. Saímos de Cr$ 250,00 o exemplar em fins de dezembro, para Cr$ 800,00 o exemplar em fins de dezembro de 84. Fizemos quatro aumentos fortes e aumentos de assinaturas ainda mais violentos — eu tenho os números — e isso não é conversa, não. São números.


“Agora o que é que vinha acontecendo com o jornal, que vocês dizem que depois do processo de implantação do manual, se deteriorou de forma tão violenta. O que é que aconteceu? O que é que os números dizem a esse respeito?

“Vamos ver o seguinte: nós vínhamos perdendo circulação até junho. A partir de junho começamos a ganhar e não mais perdemos e vamos indo num crescendo. Em julho ganhamos mais 7; em agosto, ganhamos 5,3; em setembro, ganhamos 7,6 (esses percentuais se referem aos mesmos do ano anterior). Em outubro, ganhamos 4,6; em novembro, 6,9; e em dezembro, ganhamos 10,5%. Posso afirmar aos senhores, que nenhum outro jornal neste País pode apresentar recorde. Esse é o resultado da “situação caótica” a que os senhores se referem em que está a Redação. Seria o caso de se desejar que ela continue “caótica…”

“São números! Está aqui para quem quiser ver! São números e não palavras! Vamos ver janeiro se piorou?

“Em janeiro, nós ganhamos sobre janeiro do ano passado (eu não posso completar ainda a venda avulsa porque do Interior eu ainda não tenho todos os dados). Mas nas assinaturas que é hoje setenta por cento mais caro que o do jornal “O Estado de S.Paulo”; apenas 70% mais cara a assinatura da Folha. Em janeiro batemos todos os recordes anteriores na conquista de novos assinantes. Nosso quadro de assinantes foi enriquecido em janeiro com mais 3.500 assinaturas. Nunca aconteceu isto na história deste jornal. Esta a situação “caótica” a que os senhores se referem (ou pelo menos alguns dos que assinaram se referem). Então, é muito difícil conciliar o que está escrito neste abaixo-assinado com os números que eu tenho em mãos. Eu não sou jornalista, mas garanto a vocês que empresário eu sou.

“Vamos adiante. Eu penso que todos anotaram bem que a recuperação da circulação do jornal começou em julho/84 sem prejuízo das revisões de preço de venda avulsa que estamos fazendo e agora vamos fazer mais uma. Fiquem todos avisados que a partir do dia 2 de fevereiro o custo do exemplar na banca da Folha em São Paulo, vai ser Cr$ 1.200, apesar de “O Estado de S.Paulo” dizer que não pode nos acompanhar, porque a circulação deles não agüenta novos aumentos. Isso com a Redação “caótica”… imagine se conseguirmos fazer uma redação harmônica, onde podemos chegar!

Não são palavras, são números. Números à disposição dos interessados que quiserem examiná-los. São números. Estão querendo transformar um momento de glória num momento de frustração, mas não com a minha colaboração. Seria um momento de orgulho de todos vocês.

“Contraditoriamente iniciou-se um processo de alta rotatividade de pessoal em todos os níveis”: Eu quero lembrar aos que não sabem, ou quero informar aos que não sabem, que de junho/84 a fevereiro/85 foram realizadas na Folha de S.Paulo, na redação da Folha e na Agência Folhas, 52 promoções por mérito; apenas cinqüenta e duas promoções por mérito. Algumas delas, promoções mantendo-se o jornalista na mesma função e sendo promovido por mérito, coisa que não ocorre pelo menos há vinte e cinco anos. Pela primeira vez, depois de 25 anos, foram feitas promoções por mérito, e a Redação, ou grande parte dela, vem me dizer que a Redação está “caótica”…

“Não se deduza, do que estou dizendo, que estejamos fazendo um trabalho perfeito. Está longe de ser perfeito, há muito que melhorar, há muito que aperfeiçoar, há muito que progredir. Apenas quero com esses números comprovar que a orientação está certa. A orientação está certa. Estamos permanentemente recebendo sugestões, desde que elas se apresentem em termos, estamos sempre abertos a receber sugestões que venham contribuir para a melhoria do processo. Mas ninguém se iluda, eu quero ser franco com todos: alteração no processo não vai ocorrer. A alteração no processo não irá ocorrer. Porque os resultados estão aconselhando que se mantenha o processo e ele será mantido; ninguém tenha dúvida disso. A minha porta e a do diretor de redação, meu filho, continuam abertas a todos, como sempre. O sr. Kotscho quando quis falar comigo teve alguma dificuldade? Alguma vez, o sr. me trouxe algum assunto veiculado aqui neste abaixo-assinado?

Kotscho — Sr. Frias, este documento é do conjunto da Redação…

Sr. Frias — Muito bem, você foi o ‘speaker’ e vai ouvir como ‘speaker’. É o ônus do speaker. Mas eu quero tomar você como exemplo, que é um homem que me telefona com alguma freqüência, o que só me dá prazer, me traz sugestões, o que me dá mais prazer ainda e reconhecimento, mas que sabe melhor que ninguém que as portas estão abertas porque nunca teve dificuldade em ser atendido por mim. Nunca!

Kotscho — É verdade.

Sr. Frias(…)“Por isso, entendemos que o Projeto Folha encontra-se, neste momento, seriamente ameaçado tanto na teoria como na prática”. Entendem baseados em pressupostos falsos. Não é o que diz o leitor! Não é o que diz o assinante, não é o que dizem os números, senhores! Com quem eu devo ficar? Com as palavras ou com os números? Eu, como empresário, não me permito a menor dúvida na escolha. A menor! “Os princípios nele estabelecidos não se revelam nas relações das chefias com os seus subordinados. Uma enorme teia burocrática impede o debate aberto e, frequentemente, ergue obstáculos na busca da informação”. Qual é essa teia, onde ela se localiza? Novamente, o abaixo-assinado não explicita. Os repórteres especiais, como se lembra aqui o Caio, têm sido permanentemente convidados para a Reunião das Onze e a freqüência deles a essas reuniões é muito pobre, para dizer o menos.


“A pauta jornalística vem sendo substituída por teses abstratas e regida por memorandos, comunicados, ordens e contra-ordens”.

Eu vinha até supondo que as pautas jornalísticas fossem em excesso. Nunca vi tanta pauta aqui e vem o abaixo-assinado me dizer justamente o contrário. Mas me dizer com palavras; nada de fatos, nada comprobatório, sempre palavras, palavras, palavras…

“Os modelos recomendados não são os de um jornal diário”.

“Mas não se diz o porquê. Dentro da alta competência dos signatários, eles se dispensaram de dar explicações. Por quê? Os “papas” falaram e se dispensaram de dar explicações. E se dispensaram de apontar fatos e pouco tem a ver com o nosso dia-a-dia, com a nossa tentativa de retratar e mostrar os aspectos mais evidentes da realidade, as notícias que estão nas esquinas, nas praças, nos palácios, nas favelas, nas instituições da sociedade e em todos os lugares.

“Também não explicitam por que pensam assim. Apenas declaram que esta é a verdade; apenas afirmam que esta é a verdade. São os mensageiros de Deus…

“Diante de regras que ao invés de ajudar e tornar ágil o trabalho jornalístico dificultam, repórteres e redatores principalmente, estão ficando sem condições de avaliar e ponderar a qualidade de seu principal produto: a informação”. Porquê, não está explicitado. “Os que lidam direta e diariamente com a informação são os primeiros a sentir a sua queda, hoje na Folha”.

Muito bom. Lamentavelmente, a queda não é de hoje. Vocês, nessas reuniões mensais, têm me ouvido falar com extrema freqüência da nossa insatisfação com relação à qualidade de informação do jornal. Não é nenhuma novidade o que vocês estão me dizendo aqui, e, ao contrário do que vocês pensam, e baseado nos números, eu acredito que a qualidade das nossas informações tem melhorado. E baseado nos números, porque por algum motivo, estão nos comprando mais, senhores. Uma vez que o nosso jornal hoje é o mais caro, nossa assinatura é 70% mais cara que a do jornal O Estado de S.Paulo. Setenta por cento!

“Este é o depoimento de jornalistas que ouvem colegas”. — uma pesquisa sui generis — “entrevistadores, fontes e leitores a esse respeito…”. Eu ouço os números. Eu ouço os números.

“Não podemos duvidar de espectro tão amplo” — amplo eu não sei se é, mas já afirmaram que seja — “tão amplo de opiniões sobre o nosso produto.

“um dos sintomas mais graves dessa situação é a ausência do estudo investigativo devido às condições oferecidas à reportagem para a tentativa de exercê-lo. Convencionou-se determinar o ‘escreva o que você tem’, impedindo o aprofundamento de muitos assuntos.

Isso só pode afetar o livre exercício da informação e a nossa obrigação de buscá-la aonde estiver”. Muito bom… Eu tenho para mim que a direção da Redação e da Agência nunca se esforçou tanto para que a informação viesse completa e pura. Nunca. Nunca houve igual esforço neste jornal. Nunca houve.

Mais adiante, prosseguindo, o abaixo assinado diz:

“Há um sério e perigoso agravante: a desconfiança generalizada das chefias em relação aos subordinados, transmitindo um clima que passa a interferir nas relações entre as próprias chefias e na própria base”.

Eu penso que muitos se ressentem de um grau de exigência muito mais alto do que eles estavam costumados. Se é essa a dúvida, eu posso esclarecer aos senhores que esse grau de exigência vai ser exacerbado. Permanentemente exacerbado, porque precisamos fazer a cada dia um jornal melhor.

Ainda hoje de manha, um médico meu amigo me telefonou e disse: “Frias, eu pela segunda vez fui assaltado ontem, a polícia foi corretíssima comigo e tal, vou fazer uma carta elogiando. Vocês publicam?”

E eu disse: “Ué, como não?” E ele:

— “Não, é porque eu já mandei quatro cartas e não saiu nenhuma. Sobre questões de direitos humanos eu mandei 4 cartas e não foi publicada nenhuma…”

Aqui, ao contrário de outros jornais, a direção se esforça para que a verdade apareça toda, sem bloqueios, ao contrário do que acontece em outros jornais e vocês não têm nenhuma dúvida disso, os que trabalharam em outros jornais. Eu quero saber dos presentes aqui, ou de toda a Redação, que é que algumas vez recebeu alguma instrução da direção para que adulterasse alguma matéria? Eu quero saber se isso ocorreu alguma vez. Ou dizer: “Não toque nesse assunto porque esse assunto é intocável na Folha”.

Alguma vez ocorreu isso? Nunca! Nunca! Mas isso não nos é creditado e vocês sabem que não é norma geral nos outros jornais. Estão todos cansados de saber. Porque muitos já trabalharam em outros jornais. Se quiserem eu posso citar os nomes, mas acho dispensável.


“Se a nossa profissão já é de natureza tensa, muitas vezes atingindo as nossas relações familiares, pior será — para o jornal, seus profissionais e seus leitores — se não conseguirmos um mínimo de serenidade e segurança em nosso trabalho. Para isso é preciso haver respeito profissional”.

Eu não entendo maior respeito profissional do que aquele que nos impede a todos de sugerir a um profissional esta ou aquela posição, perante esta ou aquela notícia. Na minha opinião, isto que é respeito profissional! Isto que é respeito profissional. E não dizer: “Olha, sr. Kotscho, essa matéria não sai porque não pode falar sobre isso…”

Nunca! Ocorreu alguma vez com um dos senhores? Nunca! A minha opinião é que isto é que é respeito profissional.

O sr. Francis, em Nova York escreve o que lhe passa na “telha”. Alguma vez recebeu alguma observação?

Francis: Não.

O sr. acha que isso se encontra nos outros jornais?

Francis: Não.

Está aqui um testemunho insuspeito. Está aqui. Nada disso o documento cogita. O documento não credita nada à direção, nada! O que há de bom nesta Casa aconteceu por graça divina. O que há de ruim aconteceu pela incapacidade dos atuais dirigentes. Vê-se que é um abaixo-assinado equilibrado.

“É preciso haver respeito profissional e, sobretudo, repúdio às reações autoritárias que tanto condenamos em nossas páginas e editoriais em todos esses anos de resistência democrática”.

“Repúdio às reações autoritárias eu acho que seria se nós disséssemos a um jornalista: “Esse assunto, não!, este assunto trate desta forma. Isto que é uma direção autoritária e, graças a Deus, isso não acontece nesta Casa. E não acontecerá nunca!

“O exemplo tem que vir de dentro. Todos os jornalistas que relataram suas experiências nesta reunião condenaram o conjunto burocrático ineficiente de normas, regras medidas e metas ultimamente implantados”.

Quais? Não citam exemplo.

“Não se trata de propor a improvisação pura e simples”.

Graças a Deus! Obviamente…

“O que se reclama, é o planejamento jornalístico claro em relação aos fatos”.

“Nenhum de nós está querendo dizer que o nosso planejamento seja ideal, seja perfeito, como todo trabalho humano ele é suscetível de melhoria e tem que ser melhorado. Mas não é através de abaixo-assinados dilapidadores como este que se vai chegar a algum lugar.

“Eu sempre tive receio nesta Casa — tenho manifestado mais de uma vez — que o nosso desejo de diálogo, de entendimento, de compreensão, de respeito ao companheiro, fosse entendido como fraqueza de direção. Posso assegurar aos que tiverem alguma dúvida a esse respeito que essa fraqueza não existe. Ninguém pense que ela possa existir porque ela não existe! Estamos dispostos a continuar fazer uma direção absolutamente firme, ainda que totalmente aberta a sugestões e críticas construtivas.

“O que se reclama é o planejamento jornalístico claro em relação aos fatos, à eficiência, flexibilidade, à fluência, ao direito de questionar e de propor e um mínimo de coerência na distribuição de tarefas e oportunidades”.

Eu não sei o que quer dizer isso: “Um mínimo de coerência na distribuição de tarefas e oportunidades”.

“Esta é uma Casa em que se tem procurado implantar o sistema do mérito. Estamos longe de conseguir a perfeição neste como nos demais capítulos, mas temos a preocupação de implantar o sistema de mérito. Hoje nesta Casa não entra ninguém por apadrinhamento por quem quer que seja. Qualquer vaga, publica-se um anúncio e se pede currículo, e esses currículos são analisados por profissionais da Casa e daí selecionados aqueles mais promissores e convidados os candidatos para entrevista. É este o sistema que a Casa usa hoje, graças a Deus, para prover as suas vagas ou para aumentar os seus quadros. Quem me diz que este não é um processo democrático e aberto, quem tem coragem de fazer esta afirmativa? Que é melhor o processo do apaniguado como se usou por muito tempo nesta Casa mesmo. Não na direção! Eu não tenho um indicado aqui! Nas diversas relações desta Casa, ninguém foi indicado por mim. Ninguém! Mas era indicado pelos companheiros, num processo pouco seletivo, vamos chamar assim, para dizer o menos.

Eu gostaria de saber dos senhores, se têm conhecimento de algum outro órgão de imprensa deste País em que o livre exercício da informação seja levado aos extremos que nós procuramos levar. Gostaria de saber. Se alguém me aponta um, um apenas? Um…

“Consideramos, para citar um exemplo, que a questão elementar de ouvir as várias versões ou lados de um mesmo fato não pode ser obsessiva”.

Aqui nos chocamos frontalmente. Frontalmente. Nós desejamos que se torne a cada dias mais obsessiva a preocupação de se ouvir os dois lados. Acredito que aí está a base de um jornalismo verdadeiro, correto e honesto, ouvir os dois lados. Quero informar os senhores que a nossa obsessão vai-se tornar maior, com o passar do tempo, de que os dois lados sejam ouvidos. Eu acho que isso é democrático.


Como é que acusam sem dar o direito de defesa? Como? Com que direito? Ungidos por quem? Como é que sou acusado e não posso me defender? E esse o jornalismo que os srs. propugnam? Se é este, estão em Casa errada. Eu me propus a falar claro e honesto, como sempre. Se é este, estão em casa errada e deixo bem claro a todos: vamos tornar a obsessão mais obsessiva ainda, porque achamos que isso é essencial ao bom jornalismo que desejamos praticar. É um direito do leitor ser informado de todos os ângulos. Na minha maneira de ver, é um direito sagrado do leitor. Ele deve se sentir roubado, quando isso não ocorre. Mas o documento, o documento, não; o abaixo-assinado vai além:

“É preciso confiar, até prova em contrário, que o jornalista tem compromisso correto com a informação”.

Essa afirmação dispensa comentários. É de uma candidez… “É preciso ter consciência das condições de cada trabalho e suas circunstancias. É preciso reconhecer a evidencia da nossa corrida contra o tempo e que, por isso mesmo, uma notícia não se esgota em si mesma”. Mas o malefício que ela faz é irreparável. É irreparável. O malefício que ela pode fazer é irreparável!

Isso não está no abaixo-assinado. Até poderia admitir que a maioria dos profissionais tem compromisso correto com a informação, mas se ele, profissional não tiver amplamente informado, ele não conseguirá levar a bom efeito esse desejo de compromisso correto com a informação. O compromisso correto com a informação, a meu ver sou empresário, não sou jornalista — obriga ouvir os dois lados numa questão. Obriga necessariamente, obsessivamente, ouvir os dois lados de uma questão.

“Ao produzir, redigir e editar todos os dias, no entanto, os jornalistas da Agência e da Redação da Folha sofrem uma enorme e descabida pressão, às vezes traduzida pela insegurança e pela inexperiência das chefias, com raras exceções”.

Somos todos imbecis ou primários. Podem escolher!

“A falta de critérios” — MAS NÃO SE DIZ QUEM E QUANDO — “claros leva-nos a passar por vária mudanças de enfoque em uma informação, sem conhecer o conjunto da edição e os vários escaninhos percorridos por uma notícia”.

Palavras. Mais uma vez palavras, sem que seja contado um fato sequer.

“…aos repórteres, especificamente, acontece com freqüência o pedido de uma matéria sem discutir-se o volume, a qualidade e a relevância da informação”.

Nós temos nos esforçado e eu acredito que parte dessa frase seja verdade.

De longa data, eu invoco seu testemunho, Dácio, temos lutado para que isso seja minimizado e que seja desenvolvidos processos que transmitam melhor ao repórter o que o jornal espera deles. Portanto, a busca de novos mecanismos; mas nisso, este abaixo-assinado não ajuda em nada, porque só há crítica destrutiva! Não há uma sugestão construtiva nela! Eu pelo menos não consegui encontrar uma, sequer, uma sugestão construtiva. É só destruir. E eu me abstenho de considerar aqueles que se dedicam só à destruição.

“Além disso, são freqüentes os casos de adulteração da informação”.

Isso é gravíssimo! Os srs. estão dizendo que aqui se adulteram informações! Eu faço questão de saber quem e onde! Faço questão fechada de saber onde foi feita adulteração da informação! Isso é gravíssimo! Todo o nosso esforço é para evitar isso! Estou surpreendido que este abaixo-assinado diz que isso ocorra. Quero saber dos senhores quando, como e quem. Quem tem um exemplo para citar, de adulteração de informação?! Muitos dos presentes aqui acredito que tenham assinado o documento e creio que não tenham assinado em cruz, sem lê-lo! Eu pergunto onde é que está, quem é, quem fez isso, quem cometeu esse crime contra o leitor! Quem foi? Quando? Onde? Em qual dos nossos exemplares? Eu acho profundamente incorreto fazer acusações desta gravidade sem que ela seja suportada por um comprovante. Do contrário, tenho que acreditar que é uma leviandade imensa! Uma irresponsabilidade total, para dizer claramente o que eu penso, como eu me propus a fazer do começo! E olha, em todos os nossos encontros, esta tem sido a minha fala. A fala da sinceridade e acho que todos reconhecem isso. Mas uma afirmação dessa gravidade, de que se processa aqui nesta Casa a distorção da informação, a adulteração da informação, exige de quem assinou este documento, que diga: quem, quando, onde foi isso. Ou eu estou errado? Faço esta pergunta. (…) Todos têm acesso fácil a minha sala e nunca nenhum desses assuntos foi levantado! Ou é uma inverdade o que estou dizendo aqui? O sr. Teodoro, por exemplo, que frequentemente fala comigo.

T. Meissner — Tenho pleno acesso.

Sr. Frias — Alguma vez abordou algum desses tópicos?

T. Meissner — Não.


Sr. Frias — Bom, só para saber.

“O SISTEMA DE AVALIAÇÕES — “Um desempenho coletivo caótico como este” (OS NÚMEROS NÃO DIZEM QUE SEJA CAÓTICO) “acaba desembocando nas avaliações dos profissionais tal como são feitas atualmente. Tal sistema, dá a nítida impressão de que ninguém sabe quem está avaliando que, quem decide o que é bom, ou o que é ruim, quem é o chefe de quem”. Essa leitura me deixou absolutamente perplexo. Muitos dos signatários deste abaixo-assinado presenciaram durante meses seguidos a leitura das avaliações e a discussão delas nesta mesma sala, nesta mesma mesa, e esses senhores têm a coragem agora de assinar isto! Não entendo! Simplesmente não entendo! Ou não é verdade que os senhores estiveram presentes aqui inúmeras vezes discutindo conosco as avaliações? Ou estou num sonho? Sonhei?

No entanto, se diz: “Tal sistema dá a nítida impressão de que ninguém sabe quem está avaliando quem”.

Mas como, senhores! Muitos dos senhores participaram da avaliação, discutiram! Como é que não sabem quem está avaliando quem, se os senhores foram partícipes do julgamento, Senhor do Céu! Todos os repórteres especiais são permanentemente convidados a esta mesa e a esta reunião e assinam este abaixo-assinado, tendo a coragem de declarar a mim, isto?! Que não sabem quem avalia o quê, quando eles eram participantes da avaliação! Sempre foram! Ou estou dizendo alguma mentira, senhores? Quem me contesta aqui? Quem me contesta? Ou os senhores não estiveram presentes aqui, onde se faziam as avaliações? E se discutiam as avaliações até detalhadamente! Simplesmente, a minha capacidade de entendimento não vai a tanto.

“O avaliado ou o conjunto de avaliados nunca são ouvidos sobre o seu trabalho diário e suas circunstâncias”.

Não dá… Não é possível, não é possível…

“O avaliado ou conjunto de avaliados nunca são ouvidos sobre o se trabalhão diário e suas circunstâncias”. Todos os repórteres que assinaram este documento estão cientes das seguidas recomendações de que fosse levado aos interessados o resultado das avaliações. Todos. Todos, sem exceção dos srs. repórteres, sem nenhuma exceção. Todos são minhas testemunhas deste empenho nosso. Para não lembrar, que na primeira avaliação feita foram dirigidas correspondências fechadas a cada um dos jornalistas informando-os da avaliação que haviam recebido para que eles pudessem, tomando conhecimento delas, rediscuti-las. Qual foi a resposta, senhores? Não estão lembrados? Eu estou! A devolução total das cartas, sem sequer serem abertas. Sr. Teodoro, o sr. está ciente disso?

Sr. Frias: Lembra-se perfeitamente e apesar disso o senhor subscreve.

Boris: Quase todas foram devolvidas.

Sr. Frias: Quase total, 90 por cento, quase. E sem sequer abrir!

Houve um momento em que propusemos a Redação que escolhessem um representante para sentar-se à mesa do Conselho Editorial e depois a Redação abandonou o processo por desinteresse. E dizem que estamos dirigindo autoritariamente a Casa! Eu acho que as palavras perderam o seu sentido. Não é possível. Ou estou dizendo alguma mentira? Se não me engano o sr. Kotscho foi o primeiro eleito, não é verdade?

Abandonaram o processo, não é verdade? Aliás, é muita coisa difícil de entender. O sr. Clóvis Rossi, que é membro do Conselho Editorial desta Casa, convidado por mim, recebido aqui por mim de braços abertos, permanentemente prestigiado por mim. Foi convidado para o Conselho Editorial no dia 2 de agosto de 84. No dia 3 de outubro de 84, o Conselho aprovou esse Manual de Redação. E agora ele próprio, Clóvis Rossi, subscreve isso?! Como é que ficamos? Onde ele falta com a verdade? Quando no Conselho Editorial aprovou o Manual ou hoje, quando assinou isto? Eu estou em dúvida. Mas entendo que ele está incompatibilizado para continuar no Conselho Editorial. Nunca levantou a sua voz no Conselho para fazer uma observação sobre isso. Nunca! E nos reunimos, pelo menos uma vez por mês. Esta é que é a verdade. Quem contesta o que eu estou dizendo? O microfone está à disposição. Quem contesta? Agora não é possível que haja uma máscara aqui e outra máscara ali. Lamento que ele não esteja presente, porque gostaria de dizer isso na sua própria presença, pois ele é um profissional que até então eu admirava muito e prestigiava ao máximo, e vocês são testemunhas disso. A ponto de criar para ele e para o sr. Kotscho uma categoria especial dentre os repórteres especiais. Ou não é verdade? Obrigado.

“O avaliado ou conjunto de avaliados nunca são ouvidos sobre o seu trabalho diário e suas circunstancias”.

Uma inverdade. Total, completa, acabada, ainda que subscrita por 165. Não basta para dar veracidade. Continua a inverdade.


“Simplesmente recebem notas de forma lacônica ou com base em análises imprecisas de desempenho real”.

Análise imprecisa de desempenho real, que mereceu o apoio ou a aprovação dos repórteres especiais presentes aqui. Avaliação, senhores. Nenhum de nós defende, e eu digo bem claro, que estamos num sistema perfeito de avaliação de mérito. Lógico que não. Mas mais de uma vez aqui nesta reunião, realizada a cada mês, eu pedi sugestões e construtivas para que aprimorássemos a avaliação, em cujo aprimoramento todos nós estamos empenhados. Quem se lembra de ter enviado alguma sugestão, uma que fosse, para aprimorar o método de avaliação.

Quem se lembra? Você se lembra Teodoro?

Teodoro — (inaudível na gravação).

Sr. Frias — Apesar de insistentemente pedida. Nenhum de nós se julga perfeito ou que esteja fazendo obra perfeita. Desejamos muito a crítica, mas a crítica construtiva. A crítica que venha com sugestões construtivas e não este tipo de coisa que foi feita aqui.

“A avaliação está assim sendo utilizada mais para reprimir e estimular um tipo negativo”. As 52 promoções feitas por mérito no período de junho/84 a fevereiro/85, NÃO CONCORDAM COM ESTA AFIRMAÇÃO)” “Um jornal que possui um projeto tão ambicioso”, — e vamos mantê-lo — “não pode continuar com um sistema de avaliação como este”. Estou aberto a sugestões.

“As condições de trabalho intimamente ligadas a esse conjunto de problemas. Não é possível ignorar o fato de que várias editorias trabalham num limite de profissionais muito inferior ao volume e importância das tarefas a serem executadas”.

Mais uma vez, palavras… palavras… Eu nunca escondi dos senhores, ao contrário, fiz questão de deixar claro, que o meu ideal era ter uma redação apenas a necessária, enxuta, extremamente capaz e extremamente bem paga. Quem não ouviu eu dizer isso ainda? Não escondo isso de ninguém. De ninguém. O meu objetivo é ter uma redação enxuta, extremamente capaz e muito bem paga. Acredito que estamos marchando para isso. Ainda que o abaixo-assinado não reconheça. A propósito, quero dar alguns números.

O índice médio de reajuste do salário no ano passado, foi de 160%. Os reajustes semestrais acumulados num ano correspondem a cento e sessenta por cento. Na Redação da Folha de S.Paulo, o índice foi de 199%, ao invés dos 160% oficiais. E na Agência, o índice foi de 277% de aumento salarial, ao invés de 160% — Eu posso repetir: o índice oficial, seria de 160%. Na Redação da Folha, os aumentos atingiram 199%, ao invés de 160 ou seja, trinta e sete por cento a mais. Na Agência Folhas, o índice atingiu 277% ou seja, 121% a mais. Ao invés de 160%, 277 por cento, com uma diferença de 121%. Acho que é fato notoriamente reconhecido hoje por todos, que a Folha está pagando tão bem quanto os melhores jornais. Para dizer o menos. Eu tenho a convicção que estamos pagando melhor do que qualquer outro jornal. Só perdemos para as revistas. Mas não há jornal neste País que esteja pagando o quanto estamos pagando aos nossos profissionais. De acordo com o que eu sempre me comprometi com vocês. Não são palavras apenas, não números. São números do Departamento Pessoal.

“Mesmo assim todos são cobrados dura e injustamente por falhas próprias do esgotamento físico e mental de quem trabalha nestas condições”. Como diz o programa de televisão, acredite se quiser… Eu aqui me lembro das palavras de Cláudio Abramo, meu professor: “Frias, é preciso acabar com o círculo da tolerância, onde uns toleram as faltas dos outros e isso vai como uma espiral crescendo… Desde então, desde que eu fui alertado pelo Cláudio Abramo quanto ao círculo da tolerância, luto incessantemente contra isso. Ao contrário. Somos profissionais ou não somos, senhores? Ou somos amadores que merecem toda a espécie de condescendência? “A perdurar essa limitação, dificilmente as metas recentemente estabelecidas e os horários cada vez mais curtos do fechamento do jornal” — parece aqui que há uma… um empenho da direção no sentido de punir os jornalistas, reduzindo os horários, uma preocupação mórbida de …

Caio Túlio: Há um erro de informação. O horário foi deslocado.

Sr. Frias: Se fossemos reduzir, para que reduzirmos? Para vender mais jornal.

Todo mundo sabe que o tempo de exposição em banca é essencial. Infelizmente não e só esse erro, há um amontoado de erros…

“É preciso estabelecer uma política de contratações e substituições profissionais em cada editoria”.

Entendam bem: não é para toda a casa, não. Em cada editoria. Uma é diferente da outra (pelo menos é a minha leitura…). Não, diferente da outra não. Aqui não entra ninguém sem que seja publicado um anúncio pedindo currículo. Isso e uma maneira melhor de fazer a conquista de valores novos, a não ser valores exponenciais como está presente aqui o Markun, que foi convidado a vir para o jornal, a admissão normal é por via de um concurso de provas. Pode ser que não seja o melhor processo, mas qual seria o melhor? Então, também aqui eu queria críticas construtivas e não meramente críticas destrutivas, que qualquer um pode fazer. Mormente quando não se tem que responder por elas. Núnzio, quer dizer alguma coisa? Em relação aos repórteres, as condições que lhes são oferecidas desde o planejamento até a execução das tarefas, estão em alarmante desvantagem em relação aos concorrentes do jornal”.


“Não é o que diz S. Exa. o comprador… Mais uma vez, palavras contra fatos. Meras palavras contra-atacam. Ou os senhores estão muito desinformados e isso é terrível para um jornalista. Ou então os senhores estão terrivelmente desinformados, o que é grave!

“Nas viagens de grandes coberturas o problema mais grave, como ocorreu nos recente trabalhos sobre o ‘Rock in Rio’ e no Colégio Eleitoral, segundo relatos já feitos”.

Caio Túlio: Não, o do ‘Rock in Rio’ foi feito.

Sr. Frias: Eu não conheço.

Dácio Nitrini: … houve reunião de críticas à equipe (do Colégio).

Sr. Frias: Foram reuniões de criticas à equipe que esteve em Brasília, segundo eu tive conhecimento. Eu manifestei a vocês, na Reunião das14h30, o meu desapontamento com relação ao investimento feito em Brasília, por ocasião da eleição no Colégio Eleitoral, e com os resultados obtidos. Estão lembrados?

Dácio Nitrini: Sim, reunião convocada pela Direção de Redação.

Caio Túlio: Houve problema de acomodação no Rio, o que não pode acontecer mais em nenhuma cobertura.

Sr. Frias: Não estão levantando nenhuma lebre, não, nada! Já tínhamos tomado providencia e tardiamente os senhores vêm, como quem descobriram a América!

“O mesmo pode ser dito quanto à nossa estrutura de sucursais e correspondentes, que não condiz com a pretensão de este vir a ser o melhor jornal do País”.

Matinas: Eu protesto em nome da sucursal do Rio. Eu desafio vocês a provarem que a sucursal do “Estado” é melhor do que a nossa.

(interrupção para troca de fita)

Sr. Frias: … são dados oficiais que eu tenho, não são informação dúbias, são dados oficiais.

Dacio Nitrini — Acho que eu preciso lembrar que também várias sucursais e postos…

Sr. Frias: Mas não vamos discutir sucursais, porque eu acho que aqui sucursais foi uma palavra usada porque era para pôr palavra mesmo então vamos pôr palavras, entendeu?

Matinas: Mas eu gostaria de ….

Sr. Frias: Agora, correspondente, eu estou de acordo, nosso quadro de correspondentes é fraquíssimo, isso tem sido objeto de nossa atenção permanente e constante. Agora, doutores, e recursos?

Dácio Nitrini: tem um projeto piloto…

Sr. Frias: temos um projeto piloto, estamos atentos às falhas, e procurando melhorá-lo na medida do possível e de acordo com os recursos que estamos conseguindo mobilizar.

E por falar em recursos, por falar em recursos, é bom lembrar a vocês o seguinte; é bom informar a vocês o seguinte:

Eu até aqui falei apenas da boa aceitação que o jornal vem tendo por parte de seus compradores, sejam eles compradores de venda avulsa, sejam eles assinantes. E o faturamento como vai? E a publicidade, o que quer dizer? Nós tivemos um crescimento de 245% na publicidade do jornal, contra uma inflação de 220%; então crescemos realmente, na publicidade, crescemos realmente. Um crescimento real de 25%, no ano de 84. Acho um resultado nada desprezível, nada desprezível. Apesar da Redação “caótica” de que me dá conta o abaixo-assinado. Apesar da Redação “caótica” nós ganhamos violentamente, ganhamos magnificamente bem, em termos de circulação, e ganhamos 25%, em termos de publicidade. Apesar da Redação “caótica”; imaginem quando tivermos uma boa Redação? Chegaremos lá.

Não temos sido tímidos nos aumentos de preços, não. Na publicidade fizemos reajustes. Na tabela de publicidade semanal fizemos reajustes da ordem de 234,7%. Quer dizer: o ganho na publicidade não foi à custa do aviltamento da tabela, não. Tivemos coragem de fazer as correções que a inflação impunha, e corrigimos acima da inflação. Com uma inflação de 220%, corrigimos 234%, na tabela de indeterminado semanal. Na tabela de indeterminado aos domingos, 197%. Nos classificados, fizemos uma correção mais modesta, 188,6%. Como eu já disse a vocês a venda avulsa veio de 250 para 800 cruzeiros. A assinatura anual veio de 59 para 199 mil cruzeiros, 70% acima de “O Estado”, com uma revisão de 235% contra uma inflação de 220%. Não são palavras, são números. A nossa assinatura semestral veio de 23 mil cruzeiros para 79 mil cruzeiros, uma correção de 231%. E apesar disso ganhamos nas assinaturas 22,1%, se compararmos dezembro de 84 com dezembro de 83. 22,1% com uma Redação “caótica”.

Eu acho que qualquer administração receberia elogios fartos de qualquer assembléia de acionistas. Em matéria de administração e de resultados não conheço nada mais brilhante. Mas queria dizer a vocês: apesar disso, e por força dos aumentos salariais, não conseguimos corrigir os resultados. E apenas os corrigimos em 161% contra uma inflação de 220%. Eu não sei se estou falando economês para alguns de vocês. Repararam todos, certamente o Teodoro já reparou, que está familiarizado com números, que as nossa correções foram no geral um pouco acima da inflação, mas a correção de resultados ficou abaixo da inflação. Por quê? Porque a nossa verba de pessoal subiu muito, chegando a correção na Agência de 288%. Isso explica. O que explica também a firmeza, a grande, a enorme solidez financeira e econômica desta Casa. É porque dos lucros nenhum acionista retira um tostão, há mais de dez anos. Está tudo capitalizado aqui dentro. É só por isso que temos essa disposição tranqüila, e confortável, e a obrigação de dizer a verdade, porque nada nos impede de fazê-lo, a não ser incompetência. Só incompetência pode nos impedir de dizer a verdade no jornal.


“Propostas”. Vamos ver as propostas.

“Há também quanto às condições de trabalho observações sobre enormes dificuldade em compensar com folga as viagens e o excesso de horas trabalhadas em ocasiões especiais e sobre a tentativa de impor a repórteres e fotógrafos a obrigação de dirigir veículos em viagem a serviço”. Não me ocorre que tenha sido imposta a obrigação, tenho para mim que têm sido feitas consultas ao repórter, mas obrigar alguém a sair guiando seu carro, para mim é novidade. Aqui também eu gostaria que indicassem quem foi obrigado? Um caso, um caso? Por que se alguém foi obrigado, cometeu-se uma falta grave que eu quero punir. Quero saber quem foi obrigado?

Dácio Nitrini — Esses …(inaudível).

Sr. Frias — Evidente que são, eu aprovo os orçamentos, professor. Agora quem escreveu isso não é capaz, quem assinou isso não é capaz de citar um caso? Como é que fica eu pergunto? Ter sido obrigado a dirigir um carro!

Dácio Nitrini — Há repórteres que também propõem viajar com seu próprio carro.

Sr. Frias – Exato. Mas nunca ninguém obrigou ninguém a viajar com seu próprio carro, ou dirigir carros da empresa. E se alguém foi obrigado, por favor que se declare. E se os senhores têm conhecimento de algum caso concreto, e devem ter, porque escreveram e não podem ser levianos a esse ponto, indiquem então quem foi?

Dácio Nitrini – Em relação a folga, a própria corporação sabe… repórteres em folga nove dias seguidos. É o caso da Gisele Bisordi.

Sr. Frias“… os jornalistas reunidos para debater esses problemas acreditam que as soluções podem ser buscadas a partir das seguintes propostas: Discussão de toda estrutura operacional existente na redação da agencia folha e da Folha que se separa tarefa de reportagem e de redação que deveriam ser realizadas em conjunto.” Eu quero saber se alguém até hoje se opôs a esse tipo de discussão? Parece que os senhores que assinaram, inventaram uma coisa nova, vamos discutir. Não se tem pedido outra coisa nesta Casa. Parece que os senhores descobriram a pólvora. Continuamos abertos para todo o tipo de discussão, principalmente para aquelas que tragam contribuições positivas, criticas construtivas, não meras palavras.

“Rediscussão do sistema de avaliações de desempenho, com estabelecimento de uma política global de recursos humanos e um plano de carreira claro e explícito”. Estamos de inteiro acordo. Aguardamos sugestões: precisamos delas urgentemente, sempre as pedimos. Não é essa a primeira solicitação que fazemos. Sempre pedimos isso, ou não é verdade Teodoro? Me diga você, que você tem sido um dos mais presentes aos nossos almoços.

Dácio Nitrini — Uma das experiências da Comissão de Redação que se auto dissolveu, a própria Comissão tentou elaborar um plano de carreira, não conseguiu, não apresentou, isso há dois anos atrás. É preciso retomar isso.

Sr. Frias — Há muita incorreção, reconheço, há muita incorreção. Mas pouco a pouco, com uma preocupação permanente, como eu disse estamos chegando a algum resultado. “Definição de uma política salarial que dê prioridade aos que já trabalham na empresa de avaliação democrático e criterioso”. Quer dizer o atual sistema de avaliação por conseqüência não é democrático e não é criterioso. De onde se deduz que os senhores são responsáveis também, porque têm participado, os que assinaram esse documento, têm participado desta avaliação anti-democrática e sem critério. Como é que os senhores ficam, eu me pergunto? Ou todo não passa de uma brincadeira de mau gosto?

O sr. tem vindo frequentemente ás reuniões. Tem vindo? Tem participado das avaliações?

Alencar — Eu não tenho falado.

Sr. Frias: O senhor não tem falado? Mas não tem sido cassado seu direito de falar! O senhor não usou da palavra porque não quis. Ou não é verdade? Eu alguma vez disse “está proibido de falar, você veio aqui só para comer e assistir”? Disse isso a você alguma vez, sugeri alguma vez isso? Está bom. Agora não posso obrigar ninguém a falar. Aí sim, seria uma direção autoritária.

“Definição de uma política salarial que dê prioridade aos que já trabalham na empresa”. Muito bom, quero ser muito claro com vocês. Eu quero dar toda prioridade ao mérito, onde ele se encontrar. Dando a prioridade ao mérito e em igualdade de condições, aí sim, aí aos que trabalham na empresa. Quero deixar isso bem claro para todos. A preocupação deve ser uma: conquistar, apurar o mérito real, agora, em igualdade de condições, preferência aos que já trabalham na Casa. Eu gostaria de saber se alguns de vocês é contra isso. Ou não, mesmo porque a maior parte dos especiais entrou por cima. Como se diz na carreira militar, entrou por cima, entrou pela janela. Por que, não foi por favor não, por seus méritos pessoais, que foram reconhecidos pela empresa, e por isso convidados a entrarem pela janela, a maioria dos especiais. Ou estou dizendo alguma inverdade?


Caio Túlio — Tivemos uma promoção por mérito de um especial, que é o caso do Renato Faleiros.

Sr. Frias — O caso do Renato Faleiros, promovido, por mérito e que também assina esse documento, teria sido até o redator dele. Tudo se sabe. É como segredo chinês. Mas foi um dos promovidos, está entre os 52 promovidos, nesta administração “caótica” que estamos fazendo. Desastrosa, mas que os números não confirmam, graças a Deus.

“Rediscussão” imediata (4ª sugestão), rediscussão imediata do manual geral da redação entre todos os jornalistas”. Como se isso não tivesse sido feito já, alguma vezes, com sucesso extremamente discreto, para dizer o menos; e se eu não estou dizendo a verdade, por favor me corrijam; se isso não tem sido feito permanentemente, e com sucesso terrivelmente discreto. “Resultando em um novo conjunto de normas e regras que jamais funcione como um AI-5.” Quer dizer, isso aqui que o sr. Rossi aprovou na reunião do Conselho Editorial, essas normas da redação é um AI-5 para os senhores. Meus pêsames ao sr. Rossi, que assinou e aprovou.

Alencar: Sr. Frias eu gostaria de dizer que (inaudível), mas acredito que ele tenha sido levado a assinar o documento pela mesma razão que eu, que é seguinte. Nós não temos absolutamente nada contra o documento que nós aprovamos do Projeto Folha, nem contra o Manual de Redação, ou fazer alteração. Agora o método como ele é aplicado chega a ser assustador para uma boa parte da Redação. Que certamente não é o caso do Clovis, do meu, de nenhum desses…

Sr. Frias — Eu me refiro ao sr. Clovis Rossi porque ele é membro do Conselho Editorial. Na minha opinião, e vou dizer isso a ele pessoalmente, ele tinha obrigação moral de na reunião do Conselho, e a mim pessoalmente, vir dizer. Entendo assim. Ele tinha obrigação moral, estou sendo bem claro, ou não? Obrigação moral de fazer isso.

Otávio — Eu queria reiterar aqui a estranheza com relação à atitude dele no sentido de que nenhuma vez eu fui procurado como diretor de redação, nem como secretário do Conselho, para discutir esses termos que estão aqui. Ele também não teve a gentileza de avisar para os membros do Conselho, de avisar o Conselho, que ele iria assinar um documento de crítica à política que está sendo levada pelo Conselho. O Conselho é o organismo mais alto de discussão e elaboração da política editorial do jornal. Ele faz parte do Conselho. Considero na melhor das hipóteses uma deselegância. E acho ainda estranho, gostaria de assinalar isso,que uma pessoa que não está de férias quando se trata de assinar um documento de protesto, um abaixo-assinado de protesto, está de férias quando se trata de vir aqui discutir esse assuntos cara a cara comigo.

Sr. Frias: Eu faço minha as suas palavras, exatamente minhas.

E olha, eu estou à vontade para fazê-lo, sempre fui nesta Casa um grande defensor de um profissional que se chama Clóvis Rossi. Que eu continuo achando um grande profissional. Mas por comportamento, neste episódio, me frustrou inteiramente, para dizer o menos.

Muito bom. Eu queria completar dizendo o seguinte. Continuamos abertos a todas as críticas construtivas, a todas as sugestões construtivas, permanentemente abertos e ansiosos por recebê-lo. Não somos e nem pretendemos ser os donos da verdade, temos cometido erros e vamos cometer muitos outros, mas estamos prontos para corrigi-los, com toda humildade. Temos cometido erros e vamos continuar cometê-los, certamente. Mas estaremos sempre preparados, com toda humildade, para reconhecê-los e corrigi-los. Essa é uma norma inflexível minha. Inflexível. Então, continuamos preparados. Os senhores estão preocupados com relação ao jornal. Podem se despreocupar e podem se concentrar inteiramente na tarefa de cada um, que seria a melhor maneira de contribuir para o resultado do jornal porque, como acabei de mostrar aos senhores, os resultados são muitos bons, são muitos bons. Então podem se despreocupar com relação ao jornal e podem se preocupar exclusivamente com as tarefas específicas de cada um. Garanto aos senhores que será muito mais proveitoso. Mas eu estou inteiramente aberto, tanto eu como o Otávio, como os dirigentes da Redação, inteiramente abertos para receber sugestões concretas e reclamações também concretas. Mas peço aos senhores que não tragam mais desse tipo, porque só perturbam o ambiente e o bom relacionamento. Perturbam ainda mais afirmações que sem comprovações, que se tornam absolutamente caluniosas e levianas. Peço aos senhores que não se acanhem em fazer críticas, mas quando fizermos uma crítica, vamos apontar qual é o erro, quem foi o responsável por esse erro. É essencial um comportamento profissional também nas críticas, e não um comportamento amador. Eu não tenho mais nada a dizer, a não ser que alguns dos meus companheiros queiram dizer alguma coisa.


Você quer, meu filho?

Você quer, Dácio?

Quer, Caio?

Então, se alguém quiser falar, estou às ordens.

Kotscho: É que houve uma intenção no documento que, pela exposição que o senhor fez, pela crítica de que nós não fomos muitos felizes em colocar os pontos. Há um último item aqui…

Sr. Frias: Kotscho, você me desculpe, mas eu não posso julgar intenções.

Kotscho: Há um último item no documento, que o senhor se esqueceu de ler, que eu acho que é o mais importante. Para encaminhar; é o último parágrafo.

Sr. Frias: “Para encaminhamento dessa propostas, indicamos uma comissão de seis integrantes, representando a Agência, Redação da Folha, Fotografia, Arte e Reportagem Especial. Nós estamos abertos a essa…

Kotscho: Eu só queria esclarecer isso sr. Frias, é o seguinte…

Sr. Frias: Agora, eu não aceito mais, não aceito mais nenhuma acusação sem comprovação, sem indicação de onde, que e como!

Kotscho: Exatamente sobre isso que eu queria falar. Os problemas específicos dos casos, poderiam ser levantados, por essa comissão, porque são áreas distintas…

Sr. Frias: Os senhores, certamente, não são levianos. E antes de fazer acusações dessa gravidade terão levantado esses casos, devem estar em condições de explicitá-los já.

Kotscho: É isso que se pretende encaminhar…

Sr. Frias: Agora? Por favor!?

Kotscho: Não é que a comissão, cada área…

Sr. Frias: Eu não quero comissão, doutor, os senhores assinaram esse documento, os senhores fizeram acusações da maior gravidade nele; têm obrigação moral, ao meu ver, de explicitá-los já, aqui e agora. É a minha opinião. Têm a obrigação moral, não se acusa ninguém sem provas, sem pelo menos formular uma acusação decente. Dizer tal fato ocorreu em tal data, nessas circunstâncias e fulano de tal foi o responsável. Eu não sei como vocês, homens que eu respeito, se propõem, se disponham a assinar um documento dessa natureza, com acusações sem nenhuma comprovação, com calúnias sem comprovação nenhuma. Como é que pode? Como é que ficamos? Eu não entendo. Desculpe, ultrapassa a minha capacidade de entendimento.

Pode continuar.

Kotscho: Eu só queria dizer que os problemas específicos de cada área poderiam ser levantados numa próxima reunião…

Sr. Frias: Podem sempre dr. Kotscho, podem sempre.

Kotscho: É que cada um de nós aqui não conhece os problemas de todas áreas do jornal. São áreas específicas que tem problemas específicos. Então eu acho que seria o caso dos representantes…

Sr. Frias: Muito bem, mas você deve concordar comigo que não se pode fazer afirmações sem comprovações…

Kotscho: Concordo.

Sr. Frias: Isso é inominável, foram feitas neste abaixo-assinado.

Dácio Nitrini: Eu só queria lembrar que nós temos a Agência e na Redação reuniões mensais agendadas por editoria. E que os poucos problemas que realmente existem, que estão constando desse documento, já tinham surgido nessas reuniões, foram debatidos especificamente em cada editoria. Então, eu acho que seria uma superposição agora ter uma outra comissão. Isso é uma teia burocrática que impede o nível de debate. Se nós já temos reuniões mensais por editoria, para realmente debater por editoria os problemas que nós temos no geral na editoria e no cotidiano também já há permanentemente um contato com os repórteres, acho que é desnecessário uma comissão que vá estudar… Comissão lembra um pouco, fazendo a velha piada: quando não se quer resolver alguma coisa, a gente monta uma comissão.

Sr. Frias: Eu também não vejo necessidade nenhuma de comissão, mas estamos permanentemente abertos. Quem tiver sugestões que as apresente, e serão muito bem recebidos!

Caio Tulio: Agora, é importante dizer também que o Otávio já nomeou o Carlos Eduardo como o responsável pela rediscussão do manual e o aproveitamento, e a relaboração da 2ª edição do Manual Geral da Redação, com base nas sugestões que foram feitas.

Sr. Frias: Das quais temos uma pasta.

Caio: Temos um dossiê de quando, antes da implantação do Manual, o Manual foi discutido na Agência, com os repórteres, e em todas as editorias. Com base nas sugestões que surgiram ali, nas sugestões posteriores, nas sugestões que virão, essa comissão vai trabalhar, e elaborar a segunda edição do Manual. Para o qual a gente pede a colaboração de todos vocês.

Boris Casoy: Eu só queria lembrar que, quando o Manual foi elaborado e posto em execução, uma das intenções que ficou clara era esta, de que o Manual, era um Manual feito como piloto, que a gente sabia cheio de falhas modificáveis, que era dinâmico o processo de modificação, e começava a receber sugestões a partir do dia do seu conhecimento. Quer dizer, o Manual não pretendeu ser uma coisa rígida nunca, nunca, foi um manual que não foi cópia de nada, que nós sentamos e elaboramos, com muito sacrifício a nível pessoal, que, a gente sabia não tinha pretensão nenhuma de ser um código duro, definitivo, nem nada. E nós sabíamos, e foi colocado isso por mim com extrema clareza, que era um documento que merecia reparos, que ia ser colocado em funcionamento, mas que a gente ia modificar de acordo com as necessidades da experiência, que o trabalho em cima dele ia indicar. Eu refuto, com muita veemência, essa rigidez que se pretende dar ao Manual; não foi assim que ele foi elaborado, e não foi assim que ele foi colocado, a minha intenção muito clara de mostrar que ele era um piloto sobre o qual nós todos trabalharemos.


Otávio: Eu estou aqui com o dossiê das críticas relacionadas com o Manual. Quando nós fizemos uma série de discussões na Redação, por setor, por editoria e por grupo na reportagem a respeito do Manual, antes começar o prazo de vigência do Manual, ou seja, em outubro do ano passado, nós fizemos essas reuniões e recolhemos as sugestões, essas sugestões estão aqui neste dossiê. Afora essas sugestões, e alguma sugestões feia pelo Caio Túlio e por mim, quem quiser consultar, pode consultar, eu não tenho notícia de outras sugestões que tenham sido feitas. A não ser esporadicamente uma ou outra e algumas de pessoas que vieram falar comigo, e eu solicitei que colocassem por escrito, elas foram incorporadas a esse dossiê do Manual. O dossiê das críticas do Manual está aqui. E sempre esteve aberto para quem quisesse apresentar sugestões e para quem quisesse deixar suas críticas, com o objetivo de que elas fossem neste ano examinadas por essa comissão que a gente montar, para cuja coordenação eu já indiquei o Carlos Eduardo. Agora com relação ao documento, essas acusações, eu acho que a leviandade das acusações, que eu inclusive considero atribuídas a mim, porque se não se domina ninguém e a responsabilidade do que está escrito no jornal é minha, considero que acusação de adulteração de notícias está atribuída a mim. Acho que a leviandade dessas acusações é mais uma prova de que o cuidado dos jornalistas, ou de grande parte dos jornalistas da redação, quando lidam com a informação não é tão rigoroso assim como parece. Mais uma prova portanto de que há necessidade dessas normas, de que há necessidade de ouvir todos os lados, de que há necessidade enorme de ouvir todos os lados, inclusive porque a meu ver não está havendo uma preocupação obsessiva, não está havendo um excesso na execução na norma de ouvir todos os lados; é freqüente ainda a gente ter matérias que fazem acusações, ou que fazem colocações sem que partes envolvidas na questão tenham sido ouvidas. É freqüente, isso ocorre praticamente todos os dias ainda no jornal.

Caio Túlio: Algumas vezes com autorização dos editores e da direção, e algumas vezes por incompetência nossa.

Dácio Nitrini: Para não generalizar eu tenho alguns casos que eu lembro, por exemplo de matéria que nós decidimos publicação por um critério jornalístico, que tinha que estar no jornal, que não tinha condições de fazer levantamento. Uma pequena matéria na área de economia, por exemplo, que foi a manifestação de produtores de amendoim queimando sacas de amendoim em praça e atacando diretamente o secretário da Agricultura. Foi discutida a publicação, tentou se achar o secretário, não se achou, e a matéria foi publicada. Recentemente no sindicato dos engenheiros, se não me engano foi na sede do sindicato, inúmeras entidades ligadas à engenharia de telecomunicações se reuniram e fizeram ataques frontais a política de telecomunicações e nominando responsáveis. Essa matéria foi publicada, porque não foi possível acionar o tempo a sucursal, etc. Uma matéria que estaria nos jornais no dia seguinte. Obviamente nos dias seguintes, nas suítes essas matérias foram aprofundadas. Inúmeros casos. Eu fico lembrando a crítica da falta de material investigativo. Quando a gente manda o Kotscho fazer Carajás, mais investigativo que isso é impossível. Quando o Alencar passa uma semana, andando pelo interior do Estado de São Paulo para tentar flagrar a venda clandestina de álcool, com nossa autorização e com consulta ao Departamento Jurídico, mais investigativo que isso impossível. Mais investigativo do que permitir à Leila Reis, repórter recém-chegada ao jornal, mais confiança que depositamos nela para ela entrar numa matéria de risco, até risco de vida pessoal dela, para desmembrar uma quadrilha de venda de vagas em faculdades, mais investigativo que isso, impossível.

Caio Túlio: Ou mais investigativo é a proposta ao sr. Renato Faleiros, que não foi realizada até agora e ele sabe bem qual é.

Dácio: Mais investigativo ainda do que a matéria ao Renato. Nós estamos acompanhando a pauta do… nós estamos acompanhado mas ele próprio está fazendo uma matéria investigativa. Tão investigativa que ela não pode ser aberta ainda. Mais investigativo do que o repórter Fernando Pessoa ir para a frente de um bar que impede a entrada de negros e gravar o depoimento racista do dono do bar e ser estampado no jornal, então eu não sei o que é jornalismo investigativo. Ou então, encaminhar um repórter para Araras para levantar um linchamento de três supostos marginais que tinha sido planejado pela liderança políticas local. Mais investigativo que isso, impossível. Então, os apelos freqüentes: na última reunião mensal, na editoria de política, onde estava o sr. Galeno por exemplo, eu fiz um apelo veemente (estava também o Renato Faleiros) para que eles deixassem de trabalhar com o diz-que-diz da política e se infiltrassem na investigação do fato político, levantando realmente os bastidores do fato político. Quer dizer; então, acho incompreensível o documento. Só isso. Há também o “Trem da Alegria”… Pronto.


Caio Túlio: Eu só queria dizer da minha profunda decepção em relação aos repórteres especiais que realmente assinaram este documento.

INTERRUPÇÃO PARA VIRAR A FITA

…Problema diários,… eu sofro as pressões, eu pressiono, nós trabalhamos diariamente sob a espada do tempo e temos suado lá embaixo para conseguir entregar esse produto na hora certa e com o mínimo de qualidade jornalística. Eu até entendo que os reportares e redatores sofram essas pressões e que tentem discutir essas condições. Entendo perfeitamente, acho que devemos. Agora, o que me deixa extremamente chateado é que a elite deste jornal, as pessoas que ganham quase tão bem quanto os editores, sem ter um décimo da responsabilidade dos editores e sem dar ao jornal, com raríssimas exceções e as exceções são o sr. Ricardo Kotscho e o sr. Clóvis Rossi que são os que mais apresentam propostas, mais apresentam propostas de pauta e de cobertura — não participam com assiduidade do processo e discussão da elaboração do jornal, da discussão do que está sendo feito no jornal. Estou extremamente chateado que vocês, repórteres especiais, que não têm um décimo da responsabilidade dos editores e ganham quase tão bem quanto os editores, assinem um documento desta monta, com esta carga de imprecisão, de falta de exatidão, com esta carga de leviandade. Me deixa profundamente chateado.

Kotscho: Você tem que tomar muito cuidado quando falar esse negócio, porque você está no conjunto da redação. Nós somos constantemente procurados por repórteres, redatores e tal, que têm problemas no dia-a-dia e eu acho que a equipe tem que ser tratada no conjunto e não separar editores e repórteres especiais e repórteres sem ser especiais… O repórter especial, ele não tem os problemas que todo o mundo tem no dia-a-dia. Ele é um privilegiado no jornal, como o Caio mesmo falou…

Sr. Frias: É um senador, como dizem?

Kotscho: Não, não deve ser senador, porque senador, geralmente não trabalha. Nós trabalhamos. Não é isso, Sr. Frias, o que eu digo é o seguinte. Sr. Frias, eu queria contar um negócio pessoal: a primeira vez que se começou a discutir os problemas que estavam acontecendo, eu fui convidado para uma reunião e disse que não iria, porque eu achava que não valia a pena e não estava com vontade de ir e uma colega respondeu: “Não, você não precisa, porque você ganha bem”. Sabe, então eu acho que precisava cuidado, que é uma opinião minha, para não separar isso independentemente diferenças salariais que existe em todo o lugar.

Caio: Eu considero os repórteres partícipes da direção…

Sr. Frias: É essa a minha apreciação também. Para isso vocês são convidados sempre que se tem que tomar uma decisão importante. Agora não é possível usar duas máscaras.

Kotscho: Mas sr. Frias, nem por isso deixo de fazer parte do conjunto da redação…

Sr. Frias: Tudo bem, mas você tem a obrigação de transmitir a nós, tem a obrigação de zelar pela exatidão dessa criticas no mínimo, tem a obrigação de trazer aqui, nas reuniões, nos encontros pessoais que mantemos — e as nossas portas estão sempre abertas para vocês — essas questões.

Kotscho: Olha, todas as críticas que eu tenho a fazer eu faço quase diariamente ao Dácio, que é meu chefe imediato e nós conversamos todo o dia sobre isso.

Dácio: (inaudível)

Kotscho: Pois é. Agora, isso não quer dizer que todas sejam resolvidas e que os problemas não continuem na redação, no conjunto das pessoas que trabalham na redação. É isso que eu queria levantar.

Sr. Frias: Eu queria dizer que da minha parte está terminando e nenhum de nós tem a veleidade de achar que está fazendo uma obra perfeita. Acho que a direção da redação, com muita humildade, reconhece que há muito o que fazer. Que há muito o que fazer. E que para isso precisamos da colaboração de todos. Mas uma colaboração construtiva. Nós receberemos sempre, e temos recebido aqui, críticas e sugestões com toda a humildade. Nenhum de nós está pensando que está fazendo uma obra acabada.

Não somos os donos da verdade. Longe de nós essa idéia ou essa intenção, mas é preciso que as críticas sejam construtivas. E quando elas forem acusatórias, que elas sejam concretas e isso é essencial. Não posso imaginar um outro tipo de relacionamento que não se paute por essas dimensões. Agora, nós temos que pensar que não estamos fazendo a obra perfeita.

O próprio abaixo-assinado é uma prova disso, que há desentendimentos, há procura, há que haver a procura permanente de melhor entendimento. Mas ele precisa ser recíproco. De um lado, não pode haver cobranças e de outro lado, só explicações; não dá para trabalhar assim… Não dá. É preciso uma visão mais global dos problemas e, acima de tudo, é preciso que as críticas sejam responsáveis e, sempre que possível, construtivas.


Eu não guardo nenhum hard feeling desta reunião. Disse tudo que tinha para dizer. Não me introspectei em nada. Então saio desta mesa com a mesma disposição de colaborar, de estar junto, de procuramos juntos fazer um grande jornal. Mas é preciso que todos entendam — de uma forma especial, os repórteres especiais — que nós os entendemos como participantes da direção do jornal e é por isso que dispensamos esse tratamento preferencial, que você acaba dizer. Não é possível vê-los de outra forma. Há responsabilidades especiais para os repórteres especiais. Há, sim senhor.

Matinas: Inclusive com mais espaço no jornal…

Sr. Frias: — Há, sim senhor. Há o jornal procura prestigiar de toda a forma os seus repórteres, mas de uma maneira especial, os seus repórteres especiais. Quer em termos políticos, quer em termos de salários. Agora, é preciso que haja um diálogo franco entre nós e não que no primeiro movimento que a redação esboce, os repórteres especiais, ao invés de servir como mediadores, como condutores, se incidem de um lado da casa e influem na redação, que muitas vezes, por terem menos conhecimento do assunto, partem para a posição menos correta. É preciso que vocês exerçam um papel de equilíbrio. E não como estão exercendo hoje. De insufladores de rebeliões e, não preciso repetir, não serão tolerados nunca, nesta Casa, enquanto eu aqui estiver. Dentro da ordem, do desejo de cooperação, estou sempre aberto. Sempre aberto.

Kotscho: … conciliação… rebelião…(inaudível)

Sr. Frias: …(INAUDÍVEL). Kotscho, mas não é a impressão que eu tenho. Eu aceito a sua declaração como verdadeira mas não é a impressão que eu tinha. E eu me proponho como sempre a falar claro. Pode falar…

Caio: Em que pese essa chateação em relação a essa atitude dos repórteres especiais, eu vejo esse documento apesar de toda a sua leviandade, como uma prova que estamos fazendo algo diferente no jornalismo.

Sr. Frias: Isso que é importante. Estamos fazendo alguma coisa diferente.

Caio: Temos um projeto.

Sr. Frias: E a única maneira de sairmos da média.

Caio: Temos um projeto que é diferente e é o único jornal que pede não só para ouvir o empresário, mas para ouvir também o trabalhador. Para ouvir o terceiro lado, o quarto lado. É o único jornal que exige isso. Quer dizer, isso é inédito, gente, é inédito, por incrível que pareça no jornalismo brasileiro e daí essa reação normal e sadia se tentar discutir o projeto. Agora, isso só aumenta cada vez mais a minha convicção de que este projeto está corretíssimo e só vai aumentar cada vez mais a minha firmeza em tentar implantar ou então, não estarei aqui.

Sr. Frias: Olha, pela precedência, eu queria deixar que o Francis falasse…

Francis: Eu acho que eu não estou envolvido nessa coisa pessoalmente, mas como (INAUDÍVEL) sou um …….. e trabalhei praticamente……, quando o Peralva foi diretor do jornal, eu fui o jornalista com o Aloysio que também trabalhou em quarenta publicações. Eu acho que este documento, por exemplo, é interessante também de um ponto de vista porque esse documento lembra muito o grande número de reportagens da Folha. Porque não tem pedidos específicos, tem desejos, aspirações que não são concretizadas em informações. Poderia até servir como uma crítica para o que há de ruim no noticiário da Folha. Eu estou falando com você, porque eu acho que você é um grande repórter. A crítica não é pessoal a você, eu sempre achei e você sabe disso e tal. Agora, vou dizer um negócio para você: isso aqui, na minha experiência – eu trabalhei já praticamente em todos os jornais brasileiros ou em revistas e televisão – isso não existe em nenhuma redação, entende? Jornal é ditadura. Deve ser, idealmente, um despotismo benévolo, onde você possa realmente ter uma troca de idéias etc. Mas realmente, talvez haja coisas aí que eu saiba, mas eu não entendo um documento desses. Porque se eu fosse um repórter especial, um colunista do jornal, trabalhando aqui, eu discutiria o que estou querendo diretamente com o diretor, que é o que eu faço as poucas vezes que falo, discuto, reclamo, protesto e dou berros até quando estou de mau humor. Mas o que eu estou querendo falar, é o seguinte: eu acho que este tipo de reunião, assim, compreende, é uma coisa muito democrática, de nova era, de “nova república”, não sei o que é e tal, mas não vejo porquê como você estava falando aqui, que você não pode falar com o Dácio diretamente e discutir a coisa e resolver ali no momento ou encaminhar e ficar em cima até ser resolvido. Porque tiraram um abaixo-assinado que você acabou de dizer que não tem nenhum intuito de rebelião e eu acredito que não tenha, porque todo mundo sabe hoje que a Folha é o jornal mais lido no Brasil e isso é uma coisa que todas as pessoas que eu conheço de outros jornais invejam, a liberdade que se goza na Folha de S. Paulo. Certamente, eu não sou o único a ter essa experiência. Eu conheço, falo com gente no Exterior e em toda parte, todo mundo (inaudível). Então, realmente eu acho que, pelo contrário, eu acho que é até democracia demais e que essas coisas, as discussões devem ser feitas – não, estou falando sério! Eu nunca trabalhei assim! Já fui editor de jornal, diretor de revista – não tem esse papo, não!


Sr. Frias: Ninguém aqui jamais trabalhou assim…

Francis: Eu estou dizendo alguma bobagem ou não? Você já trabalhou em outros lugares quase e talvez até mais…

Biondi: Até a crise da comunicação.

Francis: Bom, então, nesse ponto eu não entendo muito bem. Eu, no caso, além daquelas suas palavras, né? Quer dizer, a palavra caótico virou um clichê na empresa. Caótico não quer eleição, caótico é uma coisa muito mais séria do que está acontecendo, aliás, em qualquer jornal brasileiro. Caótico é.. pô, voa tudo, pára tudo… Essas coisas que a gente faz no jornalismo, o jornalismo tem vícios… a gente exagera um pouco nas coisas, etc. Eu não sei como funciona o sistema de relação de repórter com o diretor, mas eu acho que esse negócio se resolve muito melhor na intimidade com o editor específico do que fazendo aquele negócio — aliás, desculpe — “esquerdóide sentimental” que é um repórter brilhante como você, assumir as dores de um reporterzinho que está com problemas e que não tem o devido acesso… É muito simpático isso, mas acho que realmente não funciona numa relação profissional de jornal. Está incomodado, dirija-se ao chefe, exponha claramente as coisas e acho que nunca ninguém foi demitido antes. Isso, nem os jornais mais autoritários. Você pode até levar um fora. “Não interessa a sua opinião, passe bem”. Mas eu nunca vi ninguém ser demitido por isso. Eu já fui editor de um jornal veio um jornalista para mim e disse: “Olha, é assim, assim…” — Mas não é assim e dane-se! Não está satisfeito, mude-se! Linguagem de jornal é rude, é violenta, é grosseira, sempre foi. Aqui, acho que o sistema é democrático, deve ser um negócio de São Paulo que é um Estado que tem uma consciência cívica fora do comum… (RISOS). No Rio não é assim, não. No rio, o negócio é mais grosseiro.

Biondi: Desculpe, eu não queria interromper, mas minha intervenção é muito rápida. Eu só queria dizer que eu acho que esse manifesto ele vale muito pela forma como ele foi feito e pela forma como ele foi recebido. Eu acho que o grande problema que existe realmente no jornal, hoje, são dois níveis: ninguém contesta a necessidade do Manual, a necessidade de normas. Mas quando via se discutir alguma coisa do Manual, realmente, a reação tem sido — inclusive, no último almoço isso ficou patente — de como se as pessoas estivessem repudiando o Manual porque elas não querem submeter-se a nenhuma norma. Quando se via discutir um caso concreto do dia-a-dia, acho que o manifesto, ele ficou mesmo muito genérico, quando o que se está tentando dizer, é que no dia-a-dia parece que está faltando ou está havendo muito choque em torno da aplicação do Manual; não é do Manual. Da mesma forma o Projeto Folha ninguém questiona, contesta, que todo mundo se entusiasmou com o projeto e no entanto, se qualquer atitude de discutir alguma coisa de uma edição, é encarado quase como um adversário do projeto. A linguagem foi usada nesses termos, aqui, no último almoço. Eu acho que a Casa está dividida, é isso que eu acho. Como o sr. Frias disse: “O diálogo está aberto e eu recebo as pessoas”, acho que tem que haver um canal formal, mesmo que talvez fosse essa comissão, que existe uma hierarquia, sr. Frias.

Sr. Frias: Não aceito comissão.

Biondi: As pessoas se sentem constrangidas de colocar um problema que estão tendo no dia-a-dia. Existe uma hierarquia, correto?

(TODOS FALAM AO MESMO TEMPO)

Biondi: Olha, eu nem ia falar, dá licença… Só para concluir: inclusive, o seguinte: e isso, … a reação de se sentir atingido pessoalmente. O Caio fica chateado, e outro fica chateado… Isso dificulta realmente e acaba atemorizando as pessoas de conversar de uma coisa simples, quer dizer… É evidente, o senhor Frias mesmo diz: “se existe um memorial, por mais infeliz que ele seja, existe alguma dose de inquietação”.

Seria normal num processo do jornal que a gente conversasse.

Caio Túlio: Eu não estou chateado pessoalmente, estou chateado profissionalmente. É uma leviandade! Só por isso. Profissionalmente. Eu acho que, profissionalmente, alguém que se respeita não pode assinar um documento desse, com essa série de acusações levianas. Não estou emocionalmente chateado, não. é profissionalmente. Quero deixar claro.

Biondi: Você sabe a dificuldade que existe para fazer um documento. Você faz mil menções num documento, certo?

Caio Túlio: … e quem assinou, não sabe o que assinou. Você bota uma assinatura embaixo … (OS DOIS FALAM AO MESMO TEMPO, IMPOSSIBILITANDO A TRANSCRIÇÃO)

Biondi: Percebe? Existe esse reação da sua parte. Não existe a disposição de dizer “Tá bom, há um grande exagero nesse documento. Mas existe alguma coisa para acertar? Vamos tentar acertar isso?”


É isso que eu estou colocando.

Sr. Frias: É permanente a nossa disposição. É permanente a disposição.

Biondi: Sim, mas chegou um momento em que aparentemente o canal não funcionou, sr. Frias, certo? É só isso que eu queria dizer.

Sr. Frias: Não. Eu acho que a razão é … (inaudível)

Otávio: Eu tenho uma discordância, Aloysio, porque você disse que os jornalistas estão empolgados com o Projeto Folha mas o texto não diz exatamente isso. O texto diz: “Embora haja concordância dos jornalistas, com a maioria dos princípios estabelecidos no Projeto Folha”. Inclusive esta é outra lacuna do documento. Com quais princípios não há concordância? Acho que essa é uma questão fundamental, porque é a questão ideológica central, da coisa. Com quais princípios não há concordância? Ridículo.

Caio Blinder: Posso falar? Eu achei, além de leviano, que o documento, o abaixo-assinado é um pouco pernóstico. Eu acho que é uma expressão rabugenta de muitos profissionais que não querem aceitar o desafio de fazer uma coisa diferente, sair do ramerrão do jornal burocrático. Sabe, eu acho que esse é um problema muito grave. Então, se tem um processo de discussão aberto, acho que, como o Francis falou, acho que ninguém é demitido por criticar.

Sabe, você pode ser demitido num jornal por má-fé, mau-caratismo, por incompetência, mas acho que não por ser resmungão. Resmungão é o cara que vai, falar com o chefe, resmunga, fala com o chefe de cima, com o cara de baixo, esse é o dia-a-dia do jornal. Sabe, esse processo está aberto. Então, eu não entendo as pessoas, sabe? Tem discussões na Agência, na redação, editor, com a secretaria, com os redatores. Tem uma discussão. Sabe, eu nunca vi ninguém falar que há problemas graves e então, eu acho até um pouco de covardia as pessoas terem medo de chegar e abrir o jogo e falar: “Olha, acho que não está bom, vamos fazer assim”. Não tem “bicho-papão”, nenhum chefe é “bicho-papão”. Pode tomar um fora, pode abrir a discussão. Ao contrário, acho que não vai tomar fora. Vai abrir a discussão. Porque, realmente, talvez o espírito não seja autoritário, eu acho que qualquer chefe, qualquer editor, qualquer secretário de redação vai estar aberto para a discussão. Então eu não estou entendendo isso, sabe? As duas máscaras. Pô, eu convivo o dia inteiro, oito horas com uma equipe. Eu estou totalmente aberto. Estou aberto, o jogo é aberto e não tem que enrolar ninguém. Sabe, isso é o dia-a-dia, não precisa de comissão, de abaixo-assinado. Porque, evidentemente, há um caminho de fluir qualquer tipo de queixa tanto a nível interno numa editora como na Agência, como a nível de Redação. Então, as pessoas ficam acumulando ressentimentos ou, pior do que isso, elas ficam jogando duplo. É muita hipocrisia uma pessoa falar na tua cara “Olha, tá tudo bem” e depois vir em uma reunião lá e assina um documento. Isso que realmente eu não entendo. E eu acho que essa desculpa “Não, o repórter, o redator foi coagido a assinar porque a massa…” Sabe, isso não existe, acho que aqui ninguém é criança. Acho que ninguém tem que se sentir submetido a qualquer tipo de cartilha de qualquer espécie na Redação da Folha. Quem não quiser assinar, não assina. Não precisa assinar porque a massa assinou. Sabe, não vai mudar. O que vai acontecer depois, eu não sei. Então, é isso que eu não entendi. Sabe, eu acho que quem assinou tem que estar mais ou menos ciente do que fez. Eu acho que tudo bem, assinar um abaixo-assinado; não é o fim do mundo. Mas não chegar depois para você e dizer “Olha, eu tive que assinar, porque todo mundo assinou…”. Eu acho que isso é coisa de grêmio estudantil. Esta é uma redação de pessoas adultas e maduras. As pessoas têm que assumir. Tudo bem, a gente discute, agora. Isso que me decepcionou muito. Eu respeito muito quem assina um documento e está convicto do que fez. Só isso.

Agora, abra a discussão. Acho que tudo bem, acho que ninguém aqui vai ter crise histérica “eu sou editor, eu fiquei um pouco magoado com as coisas que eu ouvi”. Não no nível de responsabilidade de um diretor de redação, do sr. Frias, do secretário, mas eu também sou chefe, eu sou um editor, eu estou com o projeto, eu faço parte, eu confecciono esse negócio. Então eu sou imbecil também. Eu não sou imbecil. Eu me acho um bom editor, sabe? É isso.

Sr. Frias: Nós também achamos…

Paulo Markun: Eu estou na Folha de S. Paulo agora, pela terceira vez, há quatro dias. Portanto, não assinei o documento e nem sequer participei da elaboração do documento e tenho, das dificuldades que são citadas no documento e inclusive do Projeto Folha, pouco conhecimento. Trabalhei aqui há oito anos atrás e ao voltar para a Folha de S. Paulo verifiquei que é um outro jornal. Existem algumas identificações em relação ao jornal que se fazia há oito anos atrás, mas efetivamente é um outro jornal e, como atestam os números, vende mais, é mais reconhecido nacionalmente e influi mais no País. acho que parte essencial disso se deve seguramente ao Projeto da Folha e à empolgação com que os profissionais assumiram esse projeto. Eu não… pelo pouco que vi até agora, e pelo que sabia de antes, eu tenho a certeza de que grande parte da redação apóia esse projeto e participa dele efetivamente. Alguns com mais capacidade, com mais agilidade, outros com menos. E o palpite que eu gostaria de deixar aqui é apenas de que uma circunstância como a que se cria neste momento que eu ao entrar sou surpreendido e ter que assistir a esse debate embora não possa participar efetivamente, pode, seja por esta ou aquela razão, comprometer em parte tanto o resultado do trabalho de equipe quanto a boa vontade dos profissionais que estão trabalhando nisso. Não acredito que a solução seja apenas e tão somente que os repórteres especiais passem a integrar essa direção do jornal e passem a se comportar como tal, no dia-a-dia. Muito embora admito que algum esforço nesse sentido tem que acontecer, porque realmente fica difícil não propor, não sugerir, não criticar nas reuniões. Eu não sei se isso está acontecendo.


Garanto que da minha parte isso não acontecerá e pelos colegas que estão aqui, tenho certeza que esta não é a intenção deles. A única dúvida que eu levanto e que eu gostaria de deixar para os colegas tanto da direção quanto da reportagem, é o seguinte: se 50 jornalistas se reuniram no sindicato e tiraram o documento, elaboraram uma comissão e se dispuseram a enfrentar a reação da direção da empresa, que era mais ou menos esperada na medida em que o documento realmente é incisivo em alguns pontos, embora não deixe detalhes e não dê exemplo, quer dizer, deve haver alguma coisa por trás disso.

A impressão que eu tenho é que talvez haja um desajustamento do processo. Como vai se resolver isso não sei; eu só sei que certamente vai ser por algum tipo de relacionamento como este que está aqui, das pessoas sentarem e conversar francamente. Eu já vivi experiências profissionais de grande grau de democracia, na elaboração de um produto jornalístico e cito um exemplo que durou oito meses: era o “Jornal da República”.

O Aloysio Biondi estava lá, o Teodoro estava lá, tinham alguns companheiros que estão na Folha hoje que viveram esse processo. Acabou dando com os burros n’água, por um problema comercial. Só tem o que toda essa proposta de abertura e de participação possa se inviabilizar no dia-a-dia do trabalho por dificuldades de relacionamento que não considero possível de acontecer no meio de gente que já passou dos trinta, que trabalha, que conhece um pouco da realidade profissional. Isso, eu estou tentando apenas alertar, porque senão de repente fica fácil dizer para os repórteres especiais: “Olha, você faz parte da direção da redação”, e esse fenômeno que de alguma forma se expressa no documento continua a existir na empresa em outros níveis de trabalho; e eu sou uma pessoa muito tranqüila para falar isso porque, primeiro, não tenho nenhuma reclamação a fazer, estou aqui há quatro dias, estou apenas entendendo como é que funciona o processo de produção do jornal. Segundo, considero o jornal mais influente no País hoje, um jornal que vende mais que os outros e que interfere e o único jornal onde alguma coisa de novo está acontecendo. Isso é importante, acho que a gente não pode perder o sentido. Mas, garanto pelo que eu conheço dos jornalistas e da disposição das pessoas de que, se 50 pessoas foram a essas reuniões, discutiram, chegaram a um documento, por mais que esse documento não expresse exatamente o que se deve haver alguma coisa. Desconfio que isso tenha a ver, talvez, com a situação de pessoas que assistem à possível chegada de novos colegas de trabalho, com uma situação salarial privilegiada por uma seleção de currículos.

Sr. Frias: Seleção?

Markun: É, de currículos, quer dizer; foram, segundo o Dácio me informou. 602 currículos foram entregues para um número de vagas… (Dácio retifica o número: 607 para cinco vagas). Certamente, entre os oitenta ou noventa profissionais da Agência ou 100/120 profissionais da Agência alguns se consideram no direito de disputar essa vaga, em igualdade de condições pelo menos, e que talvez isso não tenha sido claramente avisado desde o início.

Dácio: Numa das vagas, os entrevistados que nós selecionamos, estavam no mesmo nível de um profissional da redação, que era a Júnia Nogueira de Sá e a Júnia foi promovida salarialmente e a contratação foi feita na vaga de salário mais baixo.

Markun: Eu só queria terminar rapidamente de dizer o seguinte: eu me surpreendi na primeira reunião que participei na segunda-feira, das onze horas, aquela reunião de editores repórteres especiais, com a juventude dos editores da Folha de S. Paulo. Esse fato, é um fato à exceção do companheiro Aloysio Biondi, é um fato incomum na imprensa brasileira.

Sr. Frias: Tem sido objetivo de muita crítica interna…

Markum: Evidente. Eu considero que essa juventude tem que ser aproveitada no que ela tem de positivo, ou seja, eu imagino que não tenho problemas de relacionamento com o Dácio, com o Caio ou com o Matinas ou com o Caversan com quem quer que seja, porque são colegas da minha idade, ao passo que em outros jornais que eu trabalhei havia até um certo conflito de gerações. Temo que a gente, por uma incompreensão, caminhe para uma divisão entre repórteres e editores, entre participantes dessa espécie de conselho aqui e não participantes, que não se dê pela idade, mas sim pelo fato de estar ou não participando, quer dizer; o que estou tentando dizer em uma palavra é que eu acredito que esse esforço todo que existe em tentar as coisa coletivamente não estacione nesse documento. Ao contrário, que ele seja mais uma etapa, embora o sr. Frias, o Caio e o Otávio tenham considerado — não vou discutir se têm razão ou não porque não tenho condições de fazer isso —, como um documento até inaceitável. Eu acho que o caminho tem que ser esse, de conversa, de entendimento e de trocar experiências.


Sr. Frias: O Paulo Markum tem toda a razão.

Se não houvesse esse ambiente, se nós trabalhássemos em um departamento estanques. E não é o que ocorre. Não é o que ocorre. E minha cobrança com relação aos repórteres especiais é que eles são as nossas melhores testemunhas deste fato, pelo fato de a cada mês estarmos juntos, aqui, numa reunião como esta. Então, o que eu pretendo que eles façam, que eu espero que eles façam, não é participar da direção e virar de lado. Não é isso que eu desejo. Eu quero que ele seja um dos canais, mas não se alheie e depois assinem tranquilamente quando não têm nada que ver com isso; têm sim senhor! Os senhores têm sido partícipes das nossas reuniões. É muito cômodo dizer “não é comigo…”; é muito confortável mas não é aceitável. Não sei se eu fui claro. Reuniões como esta nós temos a cada mês; a cada mês nós temos reuniões como esta.

Alencar: O que estou chamando de obstrução de canal, é por exemplo, quando um dia me pedem…

PAUSA PARA TROCA DE FITA

Alencar: … É… como é o nome químico: “Dióxido de metila”. No dia seguinte, saiu no jornal o nome em inglês: “Metil Dioxine” ou então mando para o editor, o Caio, por sinal, por escrito, dizendo: “Não vamos continuar dando uma de jornal colonizado. Vamos botar o nome certo, que é da conferência de …em Paris, em 1957.” Continuou saindo mais quatro dias o nome errado. Agora, isso foi só um exemplo que eu lembrei, porque foi você quem falou aí, daí eu lembrei de um exemplo de um canal entupido.

Blinder: Não, … Porque você mandou o comunicado, eu fui consultar… (SR. FRIAS INTERROMPE)

Sr. Frias: Escuta aqui: de um canal entupido, um assunto desta relevância ao manifesto eu que recebi, vai uma grande diferença…

(CONVERSA PARALELA)… e está constatando que o canal não está entupido assim. Pode ter sido um pouco lento…

Blinder: Demorou quatro dias para desentupir, mas desentupiu. Um encanador demora mais. (RISOS)

Sr. Frias: Não, não, não se justifique. Está demorando demais…

Matinas: Eu gostaria de lembrar um aspecto que eu acho que não querendo voltar a uma questão — espera aí, Alencar — não é querendo voltar a uma discussão, mas gostaria de lembrar um aspecto: quando se fala em condições de trabalho, eu acho que deve-se levar em consideração o seguinte: que a Folha é o jornal no Brasil que mais valoriza os profissionais que tem. Em nenhum outro jornal se assina tanta matéria… E se abre tanto espaço. Isso é condição de trabalho, isso são condições de trabalho. Em nenhum momento o documento lembra isso. Quer dizer, isso faz parte de conquista profissional, que a Casa está aberta a fazer. Desde que o texto tenha nível e seja combativo, a Folha projeta profissionais. Quantos caras se fizeram atrás das páginas da Folha. Quer dizer, isso faz parte do projeto e isso, faz parte das condições de trabalho e em nenhuma Casa no Brasil e também desafio alguém a mostrar qual o outro jornal que faz isso — “O Globo” não assina ninguém — e se dê por satisfeito de trabalhar no “Globo”. A editoria de política no “Globo” não assina uma reportagem. Uma reportagem…

Para usar outro exemplo que é extremo isso, o documento menciona, o que eu acho que é uma injustiça com a direção.

Sr. Frias: Muito bom. Já chegamos às duas e meia e por essa razão, só por ela, não vamos ler as avaliações. Continuaremos a lê-las no próximo mês, aguardando que até lá cheguem sugestões mais construtivas para melhorarmos o processo.

Eu quero repetir que não guardo nenhum hard feeling desta reunião ou do documento. Disse tudo o que eu tinha a dizer, com franqueza e com honestidade. Evidentemente temos problemas e próprio abaixo-assinado mostra que existem problemas. Mas talvez juntos, com humildade e com coragem, consigamos remover essas dificuldades e esses desentendimentos. Essa é a minha disposição e é a nossa disposição. Quero apenas lembrar que sempre estivemos nela e não nos consideramos perfeitos. Ao contrário, nossa obra é cheia de erros. Cometemos erros a cada dia e estamos prontos a corrigi-los

Saio, para repetir, desta reunião sem nenhum hard feeling. Saio reconfortado, porque tive oportunidade de externar com clareza o que eu penso a respeito deste problema.

Muito obrigado e até a próxima.

ADENDO

No início da reunião o jornalista Ricardo Kotscho leu um texto curto que procurava explicar as intenções do abaixo-assinado, infelizmente essa leitura foi feita antes que o aparelho de gravação estivesse em funcionamento. No mesmo dia a Direção de Redação solicitou ao repórter que remetesse o texto que havia lido, a fim de que ele fosse incluído neste dossiê. Mas o repórter perdera o papel. Em face disso, solicitou-se a ele que reproduzisse o conteúdo do que havia dito. Eis o relato que ele então transmitiu:

“Indicado por seus colegas para apresentar o documento dos jornalistas, o repórter Ricardo Kotscho fez apenas uma breve introdução, já que o sr. Octavio Frias de Oliveira encarregou-se de ler e comentar o texto do abaixo-assinado previamente encaminhado à Direção de Redação.

“Kotscho disse que esta era a contribuição ao ‘Projeto Folha’ de 155 jornalistas da Agência Folha e da Folha de S. Paulo, de todos os setores e diferentes tempos de Casa.

“O documento, explicou, representava a posição de mais de 80% dos jornalistas das duas redações em São Paulo e tinha por objetivo discutir procedimentos que estavam afetando as relações de trabalho na Empresa. Admitiu que o documento certamente continha falhas, posto que os jornalistas não pretendiam ser donos da verdade, mas foi a maneira encontrada para corrigir os acidentes de percurso do Projeto Folha”.

Atualmente, trabalham na Agência e na Redação da Folha 257 jornalistas. Se houve 155 assinaturas, o percentual não é de “mais de 80%”, como afirma o repórter, mas 60,3%.”

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