Conversa suspeita

Bate-papo reproduzido no Diário Oficial pode ser montagem

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29 de junho de 2007, 20h05

A conversa do MSN publicada no Diário Oficial do Estado de São Paulo, no dia 25 de junho, foi forjada, segundo o juiz da 7ª Vara Cível do Fórum Regional de Santana, Antonio Jeová Silva Santos. “O objetivo foi prejudicar o André”, afirma juiz em entrevista à Agência Estado.

André Leôncio é o oficial maior do cartório, segundo cargo na hierarquia, abaixo da diretora. Luciana Pires, a outra interlocutora, ocupou o cargo de oficial maior até dois anos atrás, quando foi trabalhar no Tribunal de Justiça. Segundo Leôncio, ele e Luciana são amigos, mas conversam somente por telefone e e-mail. “Nem tenho o e-mail dela no MSN”, diz.

A Companhia de Processamento de Dados do Estado de São Paulo (Prodesp), a Imprensa Oficial, a Microsoft, dona do MSN, e um perito investigam o caso, para determinar a veracidade e rastrear a procedência. Jeová deve encerrar o processo na próxima semana.

São vários os indícios que provam a inveracidade do documento, segundo o juiz. Na versão online, publicada no site do Tribunal de Justiça, é possível ver a conversa com a formatação original, incluindo arquivos gráficos de humor. A conversa foi revelada pelo site Kibeloco.

Há pelo menos quatro erros de digitação que seriam impossíveis de acontecer, pois estariam em locais onde os termos são gerados automaticamente pelo programa de computador, como o cabeçalho do arquivo e os nomes de usuário.

Em um dos momentos, uma fala que seria atribuída a André foi digitada ao lado do nome de Luciana. Além disso, o juiz Jeová vê os mesmos vícios de estilo no texto dos dois interlocutores. “Isso é um monólogo, não um diálogo”, afirma ele.

Segundo a Prodesp, o processo de inclusão da lauda começou após as 19 horas de 19 de junho e transmitida para a Imprensa Oficial na manhã do dia 21. O arquivo de registro da conversa do MSN, porém, foi criado em 10 de abril.

Ainda não foi descoberta a máquina de onde saiu o pedido de inclusão da lauda no disquete transmitido à Imprensa Oficial, mas qualquer computador dentro de qualquer vara no Estado de São Paulo pode ter sido usada.

O suspeito não precisa ter muito conhecimento de informática, mas sim dos procedimentos de publicação do Diário Oficial, de acordo com o perito, que preferiu não se identificar.

Além do processo administrativo, que pode culminar na demissão, o autor do ato pode enfrentar ainda um processo penal por inserir em órgão público algo que é privado, calúnia e difamação. André e Luciana, além dos nomes citados no diálogo, também planejam uma ação indenizatória por danos morais, que, aliás, é a especialidade do juiz Jeová.

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