Luto no jornalismo

Morre em São Paulo o jornalista José Roberto Alencar

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13 de junho de 2007, 13h00

Morreu na noite desta terça-feira (12/6) o jornalista José Roberto Alencar, 62 anos, no Hospital Nove de Julho, em São Paulo. Autor dos livros Sorte e Arte — como foram feitas algumas das reportagens que você leu e Muita Sorte e Pouco Juízo, Alencar foi grande repórter e muito querido por seus amigos.

O velório acontece nesta quarta-feira, no Cemitério São Paulo — Rua Cardeal Arcoverde, 1.217. O corpo será velado até às 15 horas e depois transferido para ser cremado no Cemitério da Vila Alpina.

O jornalista Marcelo Auler, grande amigo de Alencar, informou que ele morreu depois de ter apresentado quadro de sensível melhora a ponto de os médicos o transferirem na tarde desta terça-feira para uma unidade de terapia semi-intensiva. “Mais uma vez ele pregou uma peça na gente”, disse Auler.

José Roberto Alencar teve um aneurisma da aorta abdominal, que o obrigou a se submeter a uma cirurgia no dia 23 de abril. Há 12 dias, enquanto se recuperava da cirurgia em Poços de Caldas (MG), Alencar sofreu uma hemorragia.

“Foi um grande companheiro de muita gente — no meu caso há mais de 30 anos, no Rio, em Brasília e em São Paulo. Teve um excelente desempenho profissional nos diversos lugares por onde passou. Foi repórter de ‘tirar minhoca do asfalto’”, afirmou Auler.

Marcelo Auler conta que Alencar, “na época da crise do petróleo (década de 70) pela Gazeta Mercantil, anunciava a falta de combustível contando (do alto da Ponte Rio-Niterói) o número de petroleiros parados na Baía de Guanabara sem conseguir descarregar por causa de uma greve dos portuários. Na Folha de S. Paulo, já nos anos 80, na época do Natal, mesmo sendo alto, magro e caolho, como ele dizia, fantasiou-se de Papai Noel e foi aparecer para as prostitutas da Boca do Lixo. Trabalhou como camelô no subúrbio do Rio mostrando a máfia do comércio ambulante em reportagem no Jornal do Brasil”.

Leia mensagem deixada por Luis Nassif (um dos maiores amigos de Alencar) em seu blog. Em seguida, a transcrição do e-mail no qual Zezão, como era chamado, conta sobre sua cirurgia.

Aos amigos do Alencar

José Roberto Alencar, o Zé Grandão, lutou bravamente até o fim. Mas acabou sendo derrotado nos minutos finais, pouco antes das dez da noite.

O velório será nesta quarta-feira, no Cemitério São Paulo, ali da Cardeal Arcoverde. A entrada é pela rua Luiz Murat. O corpo será velado até às 15 horas, quando será transferido para cremação no Cemitério da Vila Alpina.

Quem puder, peço que avise os inúmeros amigos que ele fez nas redações de Sâo Paulo, Rio, Brasília e Belo Horizonte.

Ontem à noite, parentes leram para ele as mensagens que vocês deixaram. Como já disse aqui, o Zezão era movido a amigos. Partiu sabendo que havia uma multidão de amigos virtuais torcendo por ele.

Pena que não deu tempo para que vocês o conhecessem melhor. Mas seus escritos ficarão, para que confiram um dos melhores textos da imprensa brasileira.

Zezão foi jornalista até o fim. Convalescendo da cirurgia, veio no sacrifício de Poços a São Paulo, palestrar no encontro da ABRAJI (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo), há algumas semanas.

Nas vezes que o visitei, na UTI, quando o assunto era jornalismo ele se animava, juntava fôlego para discursar.

Deixa duas famílias órfãs. A dele, e a minha.

Leia a mensagem de Alencar comunicando a cirurgia

Para não provocar preocupações (infelizmente inúteis) em quem gosta de mim, nem alegrias (que se revelariam precipitadas) em quem não gosta, não falei com ninguém da cirurgia.

Claro que os mais xeretas descobriram. Agora, de volta à vida, espalho — até por necessidade de explicar meu sumiço real e virtual desde o dia 23 de abril.

A caca se chamava aneurisma da aorta abdominal. Onde podia ter no máximo quatro centímetros de diâmetro, a abdominável aorta estava com oito e ameaçava explodir.

Foram cinco horas e meia no Centro Cirúrgico do Nove de Julho em São Paulo, seguidos de dois dias na UTI, sete na Ala e outros tantos na casa da minha prima em São Paulo.

Ainda dói, ainda apelo para o Oxigênio, ainda não consigo trabalhar, mas ao menos já estou de novo em Casa, em Poços de Caldas, e na próxima sexta pretendo estar na USP, cumprindo minha pauta ao lado do Marcelo Beraba, no Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo.

desculpem o mau jeito.

zé alencar

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