Advogado popstar

Müssnich se transforma em celebridade do Direito Empresarial

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17 de julho de 2007, 16h47

(Reportagem publicada originalmente na Revista Exame, de 18 de julho de 2007, e escrita por Malu Gaspar).

Lançamento de livro de advogado tem tudo para ser um evento morno, em que a comunidade jurídica se encontra para contar casos e aproveita para fazer média com o colega-autor. No final de junho, no Rio de Janeiro, um desses lançamentos quebrou a regra e se transformou numa reunião de celebridades variadas — e de advogados fazendo média, é claro.

O autor, no caso, era o carioca Francisco Müssnich, sócio do escritório Barbosa, Müssnich & Aragão (BM&A) e especialista em assuntos empresariais. Da atriz Carolina Ferraz ao comentarista de futebol Arnaldo César Coelho, passando pela estilista Lenny Niemeyer, pelo ex-presidente da CVM Marcelo Trindade e pelo discretíssimo Gilberto Sayão, sócio do UBS Pactual, uma multidão esperou cerca de 2 horas em fila num shopping da zona sul do Rio por um autógrafo de Müssnich num exemplar de Cartas a um Jovem Advogado.

O lançamento do livro — parte de uma série cujos outros títulos foram escritos por Fernando Henrique Cardoso e Adib Jatene — foi o maior da história da editora Campus. Só na noite de autógrafos foram vendidos 700 exemplares. Nas duas semanas seguintes, outros 2,6 mil livros, média considerável para o mercado editorial brasileiro e boa medida da popularidade de Müssnich.

O frisson ajuda a entender um dos mais excêntricos e polêmicos advogados do Brasil. Com 52 anos, 31 de carreira, Müssnich é de uma informalidade rara em advogados. Usa indistintamente a carioquíssima forma de tratamento “mermão” (traduzindo: meu irmão), seja o interlocutor um banqueiro ou o ascensorista do prédio em que trabalha, no centro do Rio, onde alguns taxistas, por sua vez, costumam chamá-lo de Chicão.

Peladeiro aposentado, jogador de vôlei de praia, contador de piadas inveterado, jeitão hiperativo, ele é capaz de discutir com igual paixão a escalação da melhor equipe do Botafogo de todos os tempos e as cláusulas contratuais de uma fusão de bilhões de dólares, sem medo de recorrer a palavrões.

Acumula, ao mesmo tempo, um longo e respeitável histórico nos bastidores das maiores operações empresariais do Brasil, como a venda do banco Pactual para o UBS, por 2,6 bilhões de dólares, em maio de 2006, e a fusão de Americanas.com e Submarino, em novembro. Até 2014, Müssnich deve se tornar ainda mais conhecido, uma vez que é o responsável pela parte jurídica da organização da Copa do Mundo de Futebol em 2014 (o Brasil é o único candidato a sediar a competição).

Hoje, o pequeno escritório fundado por ele e um grupo de sócios em 1995 é um dos maiores em fusões e aquisições do país (terceiro no ranking de 2006), com faturamento estimado em 120 milhões de reais por ano e crescendo — muitos reputam esse desempenho ao estilo de Müssnich.

“Às vezes as pessoas se concentram no lado pitoresco do Chico e se esquecem de levar em conta o advogado brilhante e competente que ele é”, diz o sócio Paulo Aragão, que dirige o escritório de São Paulo.

Brilhante, competente e caro

Uma hora de trabalho de Müssnich custa aos clientes R$ 850. Numa conta matemática livre, 8 horas de trabalho por dia lhe rendem quase R$ 150 000 mil por mês — isso sem contar taxa de sucesso, bônus e outros extras. Quem o contrata parece feliz com os resultados. Uma das características mais marcantes de Müssnich é a defesa passional dos clientes. A atitude rende admiradores fiéis, como o bilionário André Esteves, sócio do UBS Pactual, ou o ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga. Mas também atrai inimigos ferozes e engajados.

Nenhum dos casos em que Müssnich atuou demonstra isso tão claramente quanto sua defesa do banco Opportunity na maior disputa societária da história do Brasil. O banco de Daniel Dantas e os fundos de pensão liderados pela Previ, do Banco do Brasil — recentemente unidos ao Citibank — travam há anos uma luta renhida pelo controle de empresas compradas na privatização. Müssnich e Dantas se conhecem desde o final dos anos 80, mas se aproximaram a partir de 1999, quando Dantas contratou o escritório de Müssnich para defendê-lo na briga.

Começou ali uma amizade que se transformou em admiração e evoluiu para parentesco, depois que Müssnich, divorciado e pai de dois filhos, começou a namorar a irmã de Dantas, Verônica. Habitualmente expansivo, Müssnich fica tenso ao falar do assunto. “Fazem isso para me desqualificar. Tenho orgulho de defender o Opportunity, mas isso não tem a ver com meu relacionamento.”

O engajamento de Müssnich na disputa ajudou a torná-lo conhecido fora dos meios jurídicos e a sedimentar sua imagem de advogado de temperamento explosivo. Sua ligação com o Opportunity chegou a fazer com que seus sócios temessem pela imagem do escritório. Eles se preocupavam com a repercussão de episódios como a vez em que Müssnich e um dos advogados dos fundos de pensão, João Laudo de Camargo, quase se estapearam em frente a uma assembléia de acionistas. Hoje, o ódio entre Müssnich e os representantes de fundos de pensão e do Citi é recíproco.

Não deixa de ser sintomático que um dos principais conselhos de Müssnich aos futuros advogados seja justamente acostumar-se ao conflito. “Ser advogado é ter adversários”, diz ele. Gostar de briga é mais um traço marcante de sua personalidade. “Ele procura o acordo até o final, mas, se tiver de brigar, briga mesmo”, diz Roni Argalji, dono da fabricante de roupas Duloren, que assumiu o controle da empresa há sete anos com a ajuda de Müssnich, após uma longa briga com os primos.

Nem mesmo nas horas de lazer ele deixa de lado o apreço pela competição. Sua última traquinagem foi contratar um treinador pessoal de vôlei de praia para praticar com ele, à noite e em segredo, na praia do Leme, a quilômetros da rede em que joga habitualmente, no Leblon. O motivo: novato no esporte, Müssnich se classificou, no final do ano passado, em 31º lugar no ranking de 32 jogadores da rede. Com o treinamento secreto, a performance melhorou. “Já estou em 20º”, diz, orgulhoso.

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