Homenagem pelos 90

Süssekind sempre defendeu Direito e Justiça do Trabalho

Autor

  • Cláudio José Montesso

    é juiz titular da 58ª Vara do Trabalho do Rio de Janeiro e professor licenciado de direito processual civil da Universidade Católica de Petrópolis (RJ) é presidente da Anamatra.

10 de julho de 2007, 16h31

Nos bancos desgastados da tradicional Faculdade Nacional de Direito, já então parte integrante da UFRJ, fui apresentado ao curso de Direito do Trabalho. A vida profissional me levou a trabalhar nesse ramo do Direito e foi necessário reaprender tudo o que se perdeu dos tempos universitários.

Nessa época, fui apresentado a um dos seus maiores doutrinadores, estabelecendo uma proximidade com as idéias, porém distante do trato pessoal. Nem mesmo pude perceber, no primeiro momento, a sua importância histórica para o Direito do Trabalho, ainda que ciente dos fatos que envolviam seu nome. Meu interesse, naquele momento, era meramente profissional, pois seus ensinamentos ajudavam a sair de enrascadas ou colocar o outro nelas, dependendo do lado em que estivesse na lide.

Sua presença, ainda meramente literária, firmou-se ainda mais forte quando me decidi a fazer concurso público para juiz do Trabalho. Seus livros foram decisivos e a aproximação com a sua história de vida e trabalho ficaram mais estreitas.

Aprovado em concurso, qual não foi minha surpresa ao descobrir que, entre meus pares na Associação dos Magistrados da Justiça do Trabalho da 1ª Região (Amatra 1), estava exatamente o velho mestre dos livros. O porte elegante, a altivez intelectual e o título de ministro inibiram e perturbaram o jovem magistrado. Mas a simpatia pessoal, o trato camarada e a postura de quase cúmplice de nossas dificuldades diárias conquistaram o colega.

Passaram-se anos de magistratura e de vida associativa, e o aprendizado sobre a história, a vida e o ser humano o tornou ícone a ser observado. Invejei desde sempre sua jovialidade, capacidade intelectual, retórica tranqüila, vívida e contundente. O peso dos anos não parece se impor àquele homem, nem para fazer tremer os músculos e a voz firme e poderosa.

Na medida em que a dimensão do homem e do intelectual se fazia mais presente, ficou cada vez mais fácil gostar dele. Pessoa simples, de conversa fácil, sempre atual e me surpreendendo com brincadeiras e observações que, ao mesmo tempo, afastam o ícone e aproximam o amigo. Generoso, companheiro, lutador, nunca se furta a atender um convite e sempre se posiciona politicamente com o “seu grupo” na defesa do Direito e da Justiça do Trabalho.

Uma das passagens mais significativas que gosta de lembrar nas suas conversas é aquela sobre ter sido convidado, e aceito, a participar da Comissão Permanente de Direito Social do Ministério do Trabalho, instituída pelo presidente Fernando Henrique Cardoso. Passados mais de dois anos do governo e nunca tendo sido consultado para nada, foi surpreendido pela iniciativa do governo em denunciar a Convenção 158 da OIT. Não fez por menos, enviou carta ao presidente protestando contra seu comportamento e se retirando do mencionado Conselho.

Não há estudante, professor, advogado, procurador, juiz, desembargador ou ministro que não tenha bebido seus ensinamentos. Lá se vão quase 70 anos em que ele, ainda um rapaz, iniciante na vida pública, foi chamado a escrever, com nomes do peso de Segadas Viana, Rego Monteiro, Oscar Saraiva e Dorval Lacerda, a CLT, marco legislativo do país que iniciava sua industrialização.

Por isso, quando comemoramos os seus 90 anos de vida, pretendia fazer algo que pudesse honrá-lo. Era meu dever como colega, amigo e presidente da associação que congrega 3,5 mil juízes do trabalho do Brasil. Infelizmente, só pude ceder à emoção dessas palavras, o que é muito pouco para poder expressar o agradecimento de todos aqueles que receberam suas lições. Espero que Arnaldo Lopes Sussekind possa me perdoar e aceitar essa singela homenagem. Que venham outros 90 anos.

(Artigo publicado no Jornal do Commercio do Rio de Janeiro)

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    é juiz titular da 58ª Vara do Trabalho do Rio de Janeiro e professor licenciado de direito processual civil da Universidade Católica de Petrópolis (RJ) é presidente da Anamatra.

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