Faz de conta

País precisa sair de escombros morais para progredir

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4 de julho de 2007, 0h01

Brasil, pátria amada. Celeiro de esperanças, que se esvaem. No desgoverno que ora te caracteriza, há uma ojeriza pelas coisas boas, aquelas dos tempos idos de nossos pais. Amanhece e anoitece, na repetição incessante de escândalos – a ferir de morte o homem de bem.

É violência de todo tipo, do pobre ao rico. Vê-se um povo sofrido, ao desabrigo da educação. Tem-se uma população ignorante, a reconduzir governantes indignos e incapazes de governar. Pior, disso insciente, a lhes servir de pasto a intentos mil. E, de novo, na manhã de cada dia, anoitece no manto vil da ousadia que fere o brio.

Invasões se sucedem. A autoridade de quase nada vale, em um vale de lágrimas a transbordar. O caos está presente. A anarquia faz-se companheira de todas as vidas, na sucessão de dias sem fim. Enfim, vem a lume o mandatário grande, distante da grandeza de outras eras. Brada, para que todos ouçam: “nada temam, isso é terrorismo da mídia”.

E o povo, esse povo mais que sofrido, uma vez mais acredita ou finge acreditar. E os mandatários do grande senhor, fazendo-lhe coro – pois compõem equipe homogênea –, também alteiam vozes. O jeito é relaxar e gozar, diz daqui; o que sucede é devido ao progresso da nação, diz de lá. E a bandalheira, associada à inércia, reinstala-se em seu seio – outrora nobre e bom.

O choro dos que sofrem, nas filas de hospitais ou nas perdas irreparáveis de vidas para a violência cada vez mais presente, fica inaudível, ante a ilusão hipnótica de um carisma popular que embriaga e entorpece a massa ignorante, da qual se nutre um populismo nunca antes visto.

E o país treme, agita e contorce, inerte diante dos persistentes cometimentos da corrupção desenfreada, com a sensação fria de impunidade. Brinca-se com a população. Faz-se pouco de sua capacidade de pensar, compreender e tomar decisões reacionais. De cima a baixo, desfaz-se da sociedade. A inversão de valores é gritante, só equiparável ao torpor da maioria esmagadora do povo, cuja aparente indiferença machuca o sentimento de vergonha que ainda resta.

O baixo nível prospera nessa ficção de vida melhor. O que antes foi bom, hoje é considerado ruim. Finge-se preservar valores, vindo à tona os falsos profetas a pregar o que não fazem e a fazer o que não pregam. O picadeiro está montado. Eis o pão e o circo a surgirem de novo, na imensidão desta Roma atual, em que o faz de conta monta a ilusão do povo, jugulado à ignorância do palhaço inconsciente.

E na vertente destes novos velhos tempos, uma vez mais prepondera o desalento dos corações oprimidos, que, mais esclarecidos, sentem impotentes à reação. É a realidade cedendo passo à ilusão, como sempre. E o que fazer? Eis a indagação que não quer parar. E como parar esse faz de conta que só nos faz mais complicar?

Este é o dilema do momento, na sangria de corações embrutecidos, inconscientes da realidade de seu poder. É tempo, mais que nunca, de reagir, de volver a antigos valores morais, jamais envilecidos pela ação do tempo. É hora de renascer, qual fênix ressuscita dos escombros da ruína moral que nos prende à retaguarda do progresso. Acorda, Brasil!

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