Brasil, pátria amada. Celeiro de esperanças, que se esvaem. No desgoverno que ora te caracteriza, há uma ojeriza pelas coisas boas, aquelas dos tempos idos de nossos pais. Amanhece e anoitece, na repetição incessante de escândalos – a ferir de morte o homem de bem.
É violência de todo tipo, do pobre ao rico. Vê-se um povo sofrido, ao desabrigo da educação. Tem-se uma população ignorante, a reconduzir governantes indignos e incapazes de governar. Pior, disso insciente, a lhes servir de pasto a intentos mil. E, de novo, na manhã de cada dia, anoitece no manto vil da ousadia que fere o brio.
Invasões se sucedem. A autoridade de quase nada vale, em um vale de lágrimas a transbordar. O caos está presente. A anarquia faz-se companheira de todas as vidas, na sucessão de dias sem fim. Enfim, vem a lume o mandatário grande, distante da grandeza de outras eras. Brada, para que todos ouçam: “nada temam, isso é terrorismo da mídia”.
E o povo, esse povo mais que sofrido, uma vez mais acredita ou finge acreditar. E os mandatários do grande senhor, fazendo-lhe coro – pois compõem equipe homogênea –, também alteiam vozes. O jeito é relaxar e gozar, diz daqui; o que sucede é devido ao progresso da nação, diz de lá. E a bandalheira, associada à inércia, reinstala-se em seu seio – outrora nobre e bom.
O choro dos que sofrem, nas filas de hospitais ou nas perdas irreparáveis de vidas para a violência cada vez mais presente, fica inaudível, ante a ilusão hipnótica de um carisma popular que embriaga e entorpece a massa ignorante, da qual se nutre um populismo nunca antes visto.
E o país treme, agita e contorce, inerte diante dos persistentes cometimentos da corrupção desenfreada, com a sensação fria de impunidade. Brinca-se com a população. Faz-se pouco de sua capacidade de pensar, compreender e tomar decisões reacionais. De cima a baixo, desfaz-se da sociedade. A inversão de valores é gritante, só equiparável ao torpor da maioria esmagadora do povo, cuja aparente indiferença machuca o sentimento de vergonha que ainda resta.
O baixo nível prospera nessa ficção de vida melhor. O que antes foi bom, hoje é considerado ruim. Finge-se preservar valores, vindo à tona os falsos profetas a pregar o que não fazem e a fazer o que não pregam. O picadeiro está montado. Eis o pão e o circo a surgirem de novo, na imensidão desta Roma atual, em que o faz de conta monta a ilusão do povo, jugulado à ignorância do palhaço inconsciente.
E na vertente destes novos velhos tempos, uma vez mais prepondera o desalento dos corações oprimidos, que, mais esclarecidos, sentem impotentes à reação. É a realidade cedendo passo à ilusão, como sempre. E o que fazer? Eis a indagação que não quer parar. E como parar esse faz de conta que só nos faz mais complicar?
Este é o dilema do momento, na sangria de corações embrutecidos, inconscientes da realidade de seu poder. É tempo, mais que nunca, de reagir, de volver a antigos valores morais, jamais envilecidos pela ação do tempo. É hora de renascer, qual fênix ressuscita dos escombros da ruína moral que nos prende à retaguarda do progresso. Acorda, Brasil!
Comentários de leitores
5 comentários
Luís da Velosa (Bacharel)
O Exmº Juiz de Direito, Dr. Edison Vicentini Barroso, está cansado, e, nós outros, da mesma forma. Mas, precisamos reagir e dar curso ao esforço dos cansados, no sentido de soerguer a sociedade dos escomunais escombros. Caso não reajamos urgentemente, certamente nos acomodaremos, isso é exatamente o que o mal quer. Olvidemos os uivos e vamos à luta pelo lídimo direito que detemos, aquele sagrado da convivência civilizada, de sermos respeitados, de dirigirmos os destinos do nosso infelicitado país. É chegada a hora de colocarmos, como bem enfatiza o Sen. Pedro Simon, os áulicos da patifaria que se decarrilaram do dever e se somaram à delinqûencia especializada do surrupiar o erário, comprometendo a nação e esgarçando o tecido social. Se existem avanços em alguns empreendimentos ou posições governamentais - e existem - por outro lado estão corroendo os pilares da democracia, que medra entre nós a passos de moluscos, retirando do naipe a Educação, Saúde, Segurança, e toda uma gama de infraestruturas indispensáveis ao desenvolvimento nacional. No que mais demonstram conhecimento, por incrível que nos pareça, é no "trato" com a moeda pública, que leva o perdularismo ao superlativo.
Ruberval, de Apiacás, MT (Engenheiro)
Mais do que não eleger esses políticos pilantras, bando de vagabundos, que estamos cansados de vê-los na contramão da ética e da moral, é colocarmos pessoas com novas atitudes, comprometidos com a honestidade e com o progresso social do país.
Embira (Advogado Autônomo - Civil)
...“a reconduzir governantes indignos e incapazes de governar”. Será que li bem? Então é a velha tese de Pelé segundo a qual o brasileiro não sabe votar? Ou será um ressentimento porque Renan Calheiros e Joaquim Roriz ainda não foram cassados, apesar da retumbante campanha da mídia, com Arnaldo Jabor espumando de raiva e Lucia Hippolito desfiando todo seu cientificismo político? Mas, Renan e Roriz fazem parte de nossa elite política desde tempos imemoriais. Renan foi ministro da Justiça de FHC e, naquele tempo, ninguém dizia que vivíamos uma crise moral. E Roriz, que foi ministro de Collor, teve dezenas de chances de ser condenado, mas, ainda não foi. Sê-lo-á agora? E por que só agora? Será que esse súbito moralismo é a chave do “progresso”? Se eu acreditasse que moralismo é o caminho do progresso, mudaria para o Afeganistão.
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