Pane aérea

Há uma grande movimentação para dizimar a Varig

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1 de janeiro de 2007, 6h00

Temos assistido desde o trágico acidente com o vôo 1907 da Gol, em setembro, uma série de problemas que afetam o espaço aéreo brasileiro. Aos poucos vamos descobrindo falhas, como o “ponto cego” denunciado pelos controladores de vôo e veementemente descartado pelo governo, e agora a pane nas comunicações do principal centro de controle de tráfego aéreo do país, o Cindacta-1, que coordena os vôos no Centro-Oeste e Sudeste do Brasil.

Faço coro com o vice-presidente do Sindicato Nacional de Empresas Aéreas, Élcias Anchieta, em suas declarações de que há um descaso federal com os equipamentos. Diria mais, o descaso é com todo o setor aéreo. A situação da Varig demonstra bem essa afirmação. Uma empresa que foi a imagem do Brasil no exterior durante mais de 70 anos agoniza a espera de uma ação do governo, que sempre se manteve alheio ao sofrimento de milhares de trabalhadores e aos prejuízos do setor turístico.

Tudo bem que a Varig vem sofrendo já há algum tempo. Perdeu força com a decisão do então presidente Fernando Collor, em 1990, de abrir o mercado de aviação nas rotas internacionais. Com isso a Varig deixava de ser a empresa de bandeira do país, passando a disputar o mercado não apenas com as concorrentes estrangeiras, mas também com as companhias nacionais. Para uma empresa que havia participado de rotas de integração nacional que nem sempre davam lucro, atendendo aos diversos governos, foi uma punhalada nas costas.

Nesse meio tempo, a empresa resistiu a administrações mal sucedidas e o agravamento da crise econômica mundial, que foram levando a Varig a uma situação como se encontra hoje. Em 2004, o governo estadual do Rio de Janeiro, na tentativa de garantir os milhares de empregos e a manutenção do fluxo turístico, foi o único a adiantar mais de R$ 100 milhões de créditos de ICMS à Varig, em troca do compromisso da empresa em ampliar seus setores no estado, garantir os empregos e criar novas linhas, transformando o Aeroporto Internacional Antonio Carlos Jobim – Galeão em hub nacional e internacional.

O agravamento da crise da Varig, e seu conseqüente leilão, não levou em consideração esse compromisso, nem a preocupação com os milhares de funcionários, que foram postos à rua e estão sem receber seus salários há mais de cinco meses. O governo federal insensível não acena com qualquer ajuda e, mesmo após a carta da governadora Rosinha Garotinho ao presidente da República, pedindo agilidade na concessão do Certificado de Homologação de Empresa de Transporte Aéreo (Cheta) para a nova empresa, nada foi feito.

A direção da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) aponta os novos donos da nova empresa como os responsáveis pela demora na entrega da autorização para voar a quem já voou por quase 80 anos. A informação contraria tudo o que foi dito até então pelos empresários, que aguardam exatamente a concessão do documento para contratar, a princípio, cerca de 1.600 profissionais, abrindo perspectivas para novos postos de trabalho no início do próximo ano. Os constantes atrasos têm levado a investidores da VRG Linhas Aéreas em repensarem sua participação, o que pode inviabilizar a situação da nova empresa e levar a maior companhia aérea brasileira à falência.

Diante de tudo isso não sobra outra alternativa senão acreditar que há uma grande movimentação surda para dizimar a Varig, desprezando de forma irresponsável o nosso turismo. Mais uma vez, entre os estados federados, o Rio de Janeiro perde por ser o principal destino turístico nacional. Mas o prejuízo é de todo o país, que destrói uma imagem de eficiência construída ao longo de quase 80 anos.

Infelizmente, a origem do colapso aéreo é bem diferente de ser apenas operacional e conjuntural, como alguns querem fazer crer. A ele se soma o desmantelamento da Varig, um patrimônio estratégico do país, que também está muito longe de se resumir na concessão de certificados, basta ver o quanto suas concorrentes nacionais e estrangeiras estão ganhando com a sua ausência do mercado.

Lamentavelmente, no ar, nem mais os aviões de carreira.

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