11 de março

Espanha se volta para julgamento de terroristas do 11 de março

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17 de fevereiro de 2007, 23h04

O julgamento dos 29 acusados de executarem os atentados de 11 de março de 2004, em Madri, se transformou em uma espécie de reality show, no qual juízes, promotores, advogados e réus figuram como personagens principais. Cada detalhe do júri é transmitido ao vivo pelas televisões espanholas e relatado minuto a minuto por sites do mundo todo como uma partida de futebol.

Quase 400 jornalistas de 150 meios de comunicação cobrirão o julgamento que deve durar, pelo menos, cinco meses. O veredicto final só deve sair em outubro. Cerca de 650 testemunhas serão ouvidas. Manifestantes protestam em frente da Audiência Nacional. Sobreviventes e parentes das vítimas assistem ao julgamento em uma sala especial, com o apoio de psicólogos. Cada palavra é dita a dezenas de microfones.

Na manhã do dia 11 de março de 2004, três explosões na estação de trem de Atocha, região sul de Madri, deixou 191 mortos e 1.824 feridos. Foi o maior atentado terrorista na Espanha, pais onde este tipo de ataque é rotineira graças ao ETA (grupo separatista basco).

Em um primeiro momento, o então primeiro-ministro José Maria Aznar, do conservador Partido Popular, acusou o ETA de ser o autor do massacre. As primeiras investigações apontavam para um grupo ligado à Al Qaeda. A mentira custou a eleição do PP. Três dias após ao atentado, o social-democrata José Luis Rodríguez Zapatero foi eleito chefe do governo em um surpreendente virada.

Este contexto criou um clima de comoção e histeria em toda a população do país. As relações políticas entre os dois partidos políticos foram envenenadas e nunca mais voltaram ao nível pré-11 de março.

O sóbrio jornal El País chegou a pedir em editorial prudência aos diretamente envolvidos no julgamento para que não se cometa nenhuma injustiça. “Este clima e esta atitude (revolta dos parentes e vitimas e divisão política) tendiam desaparecer durante o júri e ficar para fora das portas do tribunal. No entanto, há indícios de que não vai ser assim”, diz o texto, cujo título é “Vítimas do Júri”.

Se depender dos acusados não será fácil para a Audiência provar o envolvimento deles. Por enquanto, todos os ouvidos negaram autoria do ataque. Nesta sexta-feira (16/6), Jamal Zougam, suposto autor material de um dos três atentados, disse que não foi responsável pelo ocorrido. “É impossível que eu pudesse estar ali. Estava dormindo em casa”, disse Zougam, que foi o primeiro a ser preso e pode pegar uma pena de 38,6 mil anos de prisão. Por crime de terrorismo, a lei espanhola prevê 40 anos como tempo máximo de prisão.

Zougam foi o primeiro dos quatro acusados ouvidos a responder as perguntas dos juízes. Na quinta-feira (15/2), Rabei Osman, conhecido como El Egípcio e acusado de ser o autor intelectual dos atentados, somente se manifestou aos questionamentos de seu advogado. O silêncio de El Egípcio deu oportunidade dos juizes e advogados de acusação de se imporem ao júri.

Dos réus, 20 são de origem árabe (15 marroquinos, dois sírios, um egípcio, um argelino e um libanês). Três deles são acusados como autores intelectuais, três seriam autores materiais e sete os que colocaram as bombas nos trens e se suicidaram poucos dias após o atentado. Os sete restantes são acusados de diversos graus de colaboração. Os espanhóis fariam parte da Trama Asturiana, grupo que teria roubado os explosivos de minas os repassado aos terroristas.

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