Palavra cantada

Paulo Bomfim lança livro de poesia em São Paulo

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17 de dezembro de 2007, 13h33

O poeta de mais de oitenta heróicas pancadas, Paulo Bomfim, coordenador do Cerimonial do Tribunal de Justiça de São Paulo e decano da Academia Paulista de Letras, lança nesta segunda-feira (17/12), a partir das 18h30, na Livraria Cultura, da avenida Paulista, seu trigésimo livro: “Navegante”, da Amaral Gurgel Editorial.

“Este é meu livro mais jovial e mais moderno. Pode parecer contraditório, mas a vida aos 81 anos trouxe um novo gosto, se apresentou como um milagre, ao qual me abraço com um jovem”, diz o poeta.

O livro reúne pensamentos líricos e filosóficos que retratam as viagens e mergulhos do poeta. A obra também comemora os 60 anos de lançamento de “Antônio Triste”, primeiro livro de Paulo Bomfim, lançado em 1947, com prefácio de Guilherme de Almeida e ilustração de Tarsila do Amaral. Com a obra, Paulo Bom fim recebeu das mãos do poeta Manuel Bandeira o prêmio Olavo Billac, da Academia Brasileira de Letras.

A noite de autógrafos deve reunir velhos amigos de Paulo, como os membros da Academia Paulista de Letras Lygia Fagundes Telles, Paulo José da Costa, Anna Maria Martins, Ives Gandra, Antonio Penteado Mendonça, José Renato Nalini e Antônio Ermírio de Moraes. Este último amigo desde os tempos que freqüentaram as aulas da professora Soledade, que ensinou as primeiras letras no Colégio Rio Branco.

Paulo Bomfim é quase um personagem. Em 2005, quando a Caixa Econômica Federal resolveu fazer uma retrospectiva de Anita Malfatti, o poeta visitou a exposição, na Agência Central da CEF, na Praça da Sé. Foi recebido por um rapaz que apresentava as obras. O visitante perguntou onde estava o retrato que Anita Malfatti fez do Paulo Bomfim, em 1945. Entusiasmado, o rapaz perguntou: “O poeta Paulo Bomfim? Está lá em cima”. E saíram os dois subindo as escadas. No caminho, o rapaz afirmou: “consta que ele ainda está vivo”. O poeta de carne e osso se deliciou e largou-se em sorriso. O garoto ficou espantado e perguntou o motivo dos risos. “É que sou o meu próprio fantasma”, disse Paulo Bomfim.

Paulo Bomfim é também um raro sobrevivente de uma outra São Paulo, cidade pacata, onde o bonde era o principal meio de transporte, com boa parte das ruas iluminadas por lampião de gás. Viveu bem no Centro, na esquina das ruas Rego Freitas com Epitácio Pessoa. A tradição e a modernidade se cruzavam em lugares como o Largo do Arouche, a Praça do Patriarca, a rua Direita, a Praça da Sé, o Teatro Municipal e o Largo de São Francisco.

O cidadão Paulo Lébeis Bomfim nasceu no dia 30 de setembro de 1926 na capital paulista. Largou o curso de Direito para se dedicar ao jornalismo. Trabalhou nos jornais “Diário de São Paulo”, “Correio Paulistano” e “Diário de Notícias”. O poeta conviveu com duas gerações de artistas paulistas. Foi apresentador de TV. Nos anos 40, conheceu Assis Chateaubriand, que o levou para os Diários Associados. Chateaubriand era cunhado de Guilherme de Almeida, que prefaciou o livro, Antônio Triste. Também nessa época conheceu Tarsila do Amaral, Anita Malfatti, Menotti Del Picchia. Mário de Andrade, Pagu, Guiomar Novaes, Cassiano Ricardo e Oswald de Andrade.

Conviveu com todos esses personagens em reuniões na casa dos avôs, onde a vida cultural girava em torno das tias Cecília Lébeis e Magdalena Lébeis. As duas eram cantora de música de câmara. Cecília depois casou-se com Theodomiro Dias e é mãe do advogado José Carlos Dias (ex-ministro da Justiça).

Sua infância foi marcada pela Revolução de 1932. Ele conta que de sua casa podia ver “os vermelhinhos”, aviões da ditadura de Getúlio Vargas bombardeando o Campo de Marte. Lembra que visitou com o pai a praça da República para rever, um dia depois, o palco da tragédia da noite de 23 de maio.

Ele conta que viu os lampiões estilhaçados, as árvores cravejadas de balas e o bonde virado, que serviu de trincheira para os estudantes resistirem às forças militares. Naquele local, tombaram Miragaia, Martins, Dráusio e Camargo, heróis da Revolução Constitucionalista.

Paulo Bomfim virou personagem da minisérie “Um só coração”, da Rede Globo, assinada por Maria Adelaide Amaral e Alcides Nogueira. Um ator vive o poeta aos 20 anos. “Sempre que chegava em casa, o porteiro do prédio, na sua ingenuidade, vinha me dizer que a televisão me fazia muito bem, deixando-me mais jovem”, conta rindo o poeta.

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