Dicas úteis

Quatro bons conselhos para levar a vida numa boa

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3 de dezembro de 2007, 18h46

A propósito disso que é comum — afligir-se antecipadamente com eventuais dificuldades ou obstáculos —, creio que o melhor conselho que recebi na vida veio de um colega magistrado, hoje falecido: doutor José Mathias de Almeida Neto. Quando, num determinado momento da vida, eu manifestava preocupação com um problema ainda inexistente que atingiria tanto a mim quanto a ele, o querido Mathias me disse: “João, depois a gente vê”, encerrando liminarmente o assunto.

Para lidar tranqüilamente com algum trabalho difícil ou sacrifício inafastável, nada melhor que reduzir o tamanho do sacrifício ou transformar o trabalho penoso em prazer. Foi também de um colega magistrado — doutor Paulo Nicola Copolillo — que recebi a bela lição.

Esse colega exercia a função de juiz de Direito em Afonso Cláudio. Na época, a rodovia não era asfaltada e, com chuvas, tornava-se quase intransitável. Quando eu estava indo comprar jornais, às sete e meia da manhã, na banca da Catedral, em Vitória, encontro Copolillo, também comprando jornal, com seu carro parado no meio-fio. Antes que eu fizesse qualquer pergunta, ele me disse: “Estou indo a Afonso Cláudio comer um churrasco. Sei de um lugar onde se come um magnífico churrasco, à beira da estrada, quase chegando lá”.

Estranhei seu entusiasmo por esse churrasco e atalhei: “Está indo a Afonso Cláudio comer um churrasco?”.

Ele me responde e aí está a lição: “É. Estou indo a Afonso Cláudio comer um churrasco. Depois do churrasco, vou presidir a uma sessão do Tribunal do Júri”.

Há alguns anos, eu me submeti a uma cirurgia em São Paulo. O cirurgião que me operou indicou-me três terapias para meu completo e definitivo restabelecimento: dieta, caminhadas e alegria.

A prescrição de dietas e caminhadas já entrou no cardápio médico, embora sem o devido realce. Já a prescrição de alegria causou-me surpresa. Quando pedi ao doutor Miguel Srougi que confirmasse se sua determinação era essa mesmo, preferiu responder com uma pergunta: quer que eu escreva?

Finalmente, meu sobrinho Luís Guilherme Geaquinto Herkenhoff, de saudosa memória, contava-me a história de uma velhinha que ele sempre encontrava em Ipanema. Era andarilha, comia restos de mamão no fim da feira, falava inglês.

A tal velhinha, que se chamava Mary Parker, estava sempre com um tampão no olho esquerdo. Certo dia Luís Guilherme a encontra sem o tampão e pergunta: “Ficou boa da vista? Já não precisa do tampão no olho?”.

Ela respondeu tranqüilamente: “Estou sem o tampão porque hoje devo ir ao médico para examinar meus pulmões. Tenho andado com uma tosse estranha. Mas eu não uso tampão porque sou cega, não. Uso o tampão para enxergar o mundo pela metade”.

Quantas vezes na vida tenho me lembrado da velhinha de Ipanema, cujo perfil Luís Guilheme traçava com ternura. Quantas vezes precisamos enxergar as coisas apenas pela metade, reduzindo sofrimentos, tristezas, decepções.

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