Sustentação no mensalão

Estrelas da advocacia defendem denunciados do mensalão

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22 de agosto de 2007, 0h00

Começa, nesta quarta-feira (22/8), um dos mais complexos julgamentos da história do Supremo Tribunal Federal — o chamado caso do mensalão, o esquema milionário de compra de apoio parlamentar do governo federal. Nos três dias, a partir desta quarta-feira, os ministros vão julgar apenas se aceitam ou não a denúncia oferecida pelo procurador-geral da República contra os 40 supostos integrantes do esquema. O resultado é incerto. Mas o espetáculo está garantido com um show à parte: as sustentações orais.

Além de consumir prováveis 10 horas do julgamento, as sustentações orais serão a oportunidade para algumas das mais reluzentes estrelas da advocacia mostrar sua competência em cadeia nacional de televisão — a TV Justiça promete transmitir todos os detalhes dos três dias de sessões programados para analisar a matéria.

Os advogados dos 40 denunciados terão 15 minutos para defender seus clientes. Até a noite desta terça-feira estavam inscritos para a sustentação oral 27 advogados, representando 35 acusados.

O primeiro a se pronunciar será José Luis Mendes de Oliveira Lima, que defende o ex-ministro e deputado cassado José Dirceu (PT). Também terão seus quinze minutos de atenção os criminalistas Alberto Zacharias Toron (João Paulo Cunha), Tales Castelo Branco (Duda Mendonça e sua sócia Zilmar Fernandes Silveira) e Mário de Oliveira Filho (Henrique Pizzolato).

Além deles, participam da sustentação o ex-ministro da Justiça José Carlos Dias (Vinícius Samarone, diretor do Banco Rural) e o ex-presidente da OAB de Minas Gerais Marcelo Leonardo (Marcos Valério e Simone Vasconcelos). Já José Roberto Leal de Carvalho, confirma a regra de que o bom criminalista não escolhe cliente. Conhecido defensor do deputado Paulo Maluf (PP-SP), Leal defende agora a causa de seu antípoda político, Luiz Gushiken (PT-SP).

Procedimentos em pauta

Os ministros do Supremo Tribunal Federal já se reuniram para discutir questões de procedimento. Ao final da reunião, a ministra Ellen Gracie, presidente do STF, avaliou que o julgamento é complexo, não só pela relevância, mas pela extensão do processo. Por isso, se justificaria estabelecimento de algumas regras como, por exemplo, até que horas as sessões podem ser estendidas.

“Temos que considerar que o tribunal não pára. Embora este processo atraia muita curiosidade, o tribunal segue trabalhando, os ministros seguem recebendo questões urgentes, questões liminares, portanto era preciso encontrar um modus operandi para poder atender a todos”, esclareceu Ellen Gracie em nota oficial.

Quanto à duração dos debates, a ministra lembrou que na quinta-feira (23/8) também há sessão no Tribunal Superior Eleitoral. Deste modo, o julgamento não poderá se estender para não prejudicar a sessão do TSE, que conta com três ministros do STF.

Ellen Gracie afirmou que essas normas de procedimentos serão anunciadas na abertura dos trabalhos. “O nosso objetivo é que o julgamento, embora complexo, transcorra com absoluta tranqüilidade, para que possamos ao final dos três dias chegar à decisão”.

A expectativa da ministra é que a votação possa ser concluída na sexta-feira. “Se não for possível, avançaremos na segunda-feira. Já foi convocada sessão extraordinária [nesse dia]”, concluiu.

Exercício de leitura

Os trabalhos começarão com a leitura de 50 páginas do relatório de Joaquim Barbosa. O procurador-geral se pronuncia logo após o ministro. Em seguida, os advogados farão a defesa dos denunciados. A ordem da sustentação segue a da denúncia (leia lista abaixo).

As sessões se iniciam às 10h e seguem até as 13h, quando há um intervalo para o almoço. Às 14h, a sessão é retomada com previsão para terminar às 18h.

Antes do voto de mérito, o relator e seus colegas deverão apreciar as preliminares e as questões de ordem, que possam surgir. Uma das preliminares, por exemplo, pede a nulidade de uma quebra de sigilo bancário autorizado pela Justiça Federal em Minas Gerais. Caso a preliminar seja acatada pelos ministros, as provas obtidas graças a essa quebra de sigilo poderão ser desconsideradas.

Em seguida, o ministro Joaquim Barbosa, que é o relator, fará a leitura de seu voto de 400 páginas. Os outros nove ministros já tiveram acesso ao resumo de sua opinião. Votos-vistas de outros ministros deve ser a regra e não exceção.

Barbosa disse já ter convicção formada sobre cada um dos envolvidos. O Supremo decidirá se instaura ou não ação penal contra os 40 acusados. “Estou dormindo e acordando com o mensalão há meses”, afirma o ministro. Outros ministros afirmaram que nas últimas semanas também têm estudado a denúncia e se preparado com afinco para o julgamento.

A votação deve seguir a estrutura da denúncia, ou seja, por item e não por acusados. Caso recebida a denúncia, será aberta ação penal e os acusados se tornam réus.


A denúncia

Em março de 2006, o procurador-geral da República ofereceu a denúncia contra 40 pessoas. Ele acusou políticos e empresários de crimes de peculato, corrupção, lavagem de dinheiro, formação de quadrilha, evasão de divisas e gestão fraudulenta.

De acordo com a denúncia, o esquema do mensalão era uma organização criminosa dividida em três núcleos: o político-partidário, o publicitário e o financeiro. Para garantir apoio no Congresso, ajudar na eleição de aliados e fazer caixa para novas campanhas, o estado-maior do PT desembolsava altas quantias aparentemente recebidas em troca de favorecimento da máquina pública.

Leia a lista dos advogados, dos denunciados e das acusações

Denunciado: José Dirceu de Oliveira e Silva, deputado cassado do PT e ex-ministro da Casa Civil; denúncia: formação de quadrilha, peculato e corrupção ativa; advogado: José Luis de Oliveira Lima.

Denunciado: José Genoino, deputado federal do PT-SP e ex-presidente do partido; denúncia: formação de quadrilha, peculato e corrupção ativa; advogada: Sandra Maria Gonçalves Pires.

Denunciado: Delúbio Soares de Castro, ex-tesoureiro do PT; denúncia: formação de quadrilha, peculato e corrupção ativa; advogado: Celso Sanchez Vilardi.

Denunciado: Sílvio José Pereira, ex-secretário-geral do PT; denúncia: formação de quadrilha, peculato e corrupção ativa; advogado: Gustavo Henrique Righi Ivahy Badaró.

Denunciado: Marcos Valério Fernandes de Souza, empresário e publicitário; denúncia: formação de quadrilha, peculato, corrupção ativa, falsidade ideológica, lavagem de dinheiro, evasão de divisas; advogado: Marcelo Leonardo.

Denunciado: Ramon Hollerbach Cardoso, ex-sócio de Marcos Valério; denúncia: formação de quadrilha, peculato, corrupção ativa, lavagem de dinheiro, evasão de divisas; advogado: Hermes Vilchez Guerrero.

Denunciado: Cristiano de Mello Paz, ex-sócio de Marcos Valério; denúncia: formação de quadrilha, peculato, corrupção ativa, lavagem de dinheiro, evasão de divisas; advogado: Castellar Modesto Guimarães Filho.

Denunciado: Rogério Lanza Tolentino, advogado e ex-sócio de Marcos Valério; denúncia: formação de quadrilha, peculato, corrupção ativa, lavagem de dinheiro, evasão de divisas; advogado: Paulo Sérgio Abreu e Silva.

Denunciada: Simone Reis Lobo De Vasconcelos, ex-gerente da SMP&B, uma das agências de Valério; denúncia: formação de quadrilha, corrupção ativa, lavagem de dinheiro, evasão de divisas; advogado: Marcelo Leonardo.

Denunciada: Geiza Dias Dos Santos, funcionária da SMP&B; denúncia: formação de quadrilha, corrupção ativa, lavagem de dinheiro, evasão de divisas; advogado: Paulo Sérgio Abreu e Silva.

Denunciada: Kátia Rabello, presidente do Banco Rural; denúncia: formação de quadrilha, lavagem de dinheiro, evasão de divisas, gestão fraudulenta; advogado: Theodomiro Dias Neto.

Denunciado: Jose Roberto Salgado, diretor do Banco Rural; denúncia: formação de quadrilha, lavagem de dinheiro, evasão de divisas, gestão fraudulenta; advogado: Maurício de Oliveira Campos Júnior.

Denunciado: Vinícius Samarane, diretor do Banco Rural; denúncia: formação de quadrilha, lavagem de dinheiro, evasão de divisas, gestão fraudulenta; advogado: José Carlos Dias.

Denunciada: Ayanna Tenório Tôrres de Jesus, diretora do Banco Rural; denúncia: formação de quadrilha, lavagem de dinheiro, evasão de divisas, gestão fraudulenta; advogado: Maurício de Oliveira Campos Júnior.

Denunciado: João Paulo Cunha, deputado federal do PT-SP; denúncia: corrupção passiva, lavagem de dinheiro, peculato; advogadoo: Alberto Zacharias Toron.

Denunciado: Luiz Gushiken, ex-ministro da Secom; denúncia: peculato; advogado: José Roberto Leal de Carvalho.

Denunciado: Henrique Pizzolato, ex-diretor do Banco do Brasil; denúncia: peculato, corrupção passiva, lavagem de dinheiro; advogado: Mário de Oliveira Filho.

Denunciado: Pedro da Silva Corrêa de Oliveira Andrade Neto, deputado cassado (PP-PE); denúncia: formação de quadrilha, corrupção passiva, lavagem de dinheiro; advogado: Eduardo Antônio Lucho Ferrão.

Denunciado: Jose Mohamed Janene, ex-deputado (PP-PR); denúncia: formação de quadrilha, corrupção passiva, lavagem de dinheiro; advogado: Marcelo Leal de Lima Oliveira.

Denunciado: Pedro Henry Neto, ex-deputado (PP-MT); denúncia: formação de quadrilha, corrupção passiva, lavagem de dinheiro; advogado: José Antonio Duarte Álvares.

Denunciado: João Cláudio de Carvalho Genu, ex-assessor do PP na Câmara; denúncia: formação de quadrilha, corrupção passiva, lavagem de dinheiro; advogado: Marco Antonio Meneghetti.


Denunciado: Enivaldo Quadrado, doleiro, sócio da corretora Bônus-Banval; denúncia: formação de quadrilha, lavagem de dinheiro; advogada: Priscila Corrêa Gioia.

Denunciado: Breno Fishberg, doleiro, sócio da corretora Bônus-Banval; denúncia: formação de quadrilha, lavagem de dinheiro; advogado: Leonardo Magalhães Avelar.

Denunciado: Carlos Alberto Quaglia, doleiro, acusado de operar com a Bônus-Banval; denúncia: formação de quadrilha, lavagem de dinheiro; advogado: Dagoberto Antoria Dufau.

Denunciado: Valdemar Costa Neto, deputado federal do PR-SP; denúncia: formação de quadrilha, corrupção passiva, lavagem de dinheiro; advogado: Marcelo Luiz Ávila de Bessa.

Denunciado: Jacinto Lamas, ex-tesoureiro do PL (hoje PR); denúncia: formação de quadrilha, corrupção passiva, lavagem de dinheiro; advogado: Délio Lins e Silva.

Denunciado: Antônio Lamas, ex-assessor da liderança do PR; denúncia: formação de quadrilha, lavagem de dinheiro; advogado: Délio Lins e Silva.

Denunciado: Bispo Rodrigues, ex-deputado do PR-RJ; denúncia: corrupção passiva, lavagem de dinheiro; advogado: Marcelo Luiz Ávila de Bessa.

Denunciado: Roberto Jefferson, deputado cassado do PTB-RJ; denúncia: corrupção passiva, lavagem de dinheiro; advogado: Luiz Francisco Corrêa Barbosa.

Denunciado: Emerson Eloy Palmieri, tesoureiro do PTB; denúncia: corrupção passiva, lavagem de dinheiro; advogado: Itapuã Prestes de Messias.

Denunciado: Romeu Ferreira Queiroz, ex-deputado (PTB-MG); denúncia: corrupção passiva, lavagem de dinheiro; advogado: José Antero Monteiro Filho.

Denunciado: José Rodrigues Borba, ex-deputado (PMDB-PR); denúncia: corrupção passiva, lavagem de dinheiro; advogado: Inocêncio Mártires Coelho.

Denunciado: Paulo Roberto Galvão da Rocha, deputado federal (PT-PA); denúncia: lavagem de dinheiro; advogado: Márcio Luiz Silva.

Denunciada: Anita Leocádia, ex-assessora de Paulo Rocha; denúncia: lavagem de dinheiro; advogado: Luís Maximiliano Leal Telesca Mota.

Denunciado: Luiz Carlos da Silva (Professor Luizinho) – ex-deputado (PT-SP); denúncia: lavagem de dinheiro; advogado: Márcio Luiz Silva.

Denunciado: João Magno, ex-deputado (PT-MG); denúncia: lavagem de dinheiro; advogado: Olinto Campos Vieira.

Denunciado: Anderson Adauto Pereira, ex-ministro dos Transportes; denúncia: corrupção ativa, lavagem de dinheiro; advogado: Castellar Modesto Guimarães Filho.

Denunciado: José Luiz Alvez, ex-chefe de gabinete de Anderson Adauto; denúncia: lavagem de dinheiro; advogado: Castellar Modesto Guimarães Filho.

Denunciado: José Eduardo Cavalcanti de Mendonça (Duda Mendonça), dono de agência de publicidade; denúncia: lavagem de dinheiro, evasão de divisas; advogado: Tales Castelo Branco.

Denunciado: Zilmar Fernandes Silveira, sócia de Duda Mendonça; denúncia: lavagem de dinheiro, evasão de divisas; advogado: Tales Castelo Branco.

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