Ofensa genérica

Chinaglia promete processar Jabor por causa de comentário na CBN

Autor

26 de abril de 2007, 18h50

O presidente da Câmara dos Deputados, Arlindo Chinaglia (PT-SP) anunciou nesta quinta-feira (26/4), na reunião de líderes, que vai processar o comentarista da rádio CBN, Arnaldo Jabor. Em comentário veiculado, na terça-feira (24/4), Jabor chama os deputados de canalhas e os acusa de mascararem aumento de salário ao reembolsar, em dois meses, R$ 11,2 milhões relativos a gastos com combustível.

Embora o pedido formal do presidente não tenha chegado à Procuradoria Parlamentar da Câmara, no órgão se estuda qual representação será proposta contra Jabor.

Essa não é a primeira vez que a Câmara dos Deputados reage contra comentários e reportagens. Ações cíveis de reparação de dano, direito de resposta e ações criminais já foram propostas, principalmente, contra veículos da grande imprensa como o Jornal do Brasil, O Globo e a revista Veja. O próprio Jabor já foi acionado em outro momento em razão de comentários desfavoráveis à Casa de Leis.

O comentário

No comentário de três minutos contra os gastos com gasolina dos deputados, baseado em reportagem de O Estado de S. Paulo, Jabor calculou que um milhão de litros de gasolina gastos pelos deputados nos meses de fevereiro e março seriam suficientes para dar 255 voltas ao mundo.

Em tom de deboche, o articulista afirmou que essa gasolina gasta tanto para ir ao reduto eleitoral quanto para visitar o “motel acompanhado da amante ou do amante”. Segundo ele, “é um meio inventado pelos parlamentares de aumentar o próprio salário”. Jabor também cobrou a prisão dos deputados e responsabilizou Chinaglia por se esquecer da Câmara ao só pensar no bem do PT. O áudio pode ser ouvido pelo site www.cbn.com.br.

Velha história

Além de processar Jabor, Chinaglia prometeu ainda estabelecer um debate público com os meios de comunicação para evitar o que ele entende como excesso. “Não queremos passar a idéia de que aqui somos igualmente puros, mas temos a legitimidade para representar o povo, e isso precisa ser respeitado”, disse.

O debate proposto pelo presidente da Câmara já foi tentado, sem sucesso, pelo presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva.

Numa gafe que ainda motiva discussão, em fevereiro de 2004, o presidente Lula acompanhado do então ministro Luiz Gushiken, à época chefe da Secretaria de Comunicação e Gestão Estratégica, propôs uma agenda positiva, na qual a imprensa valorizasse o trabalho realizado pelo governo. Foi um discurso que soou como uma tentativa de manipulação. Mesmo argumentando ter havido um grande mal entendido, o governo não conseguiu se safar da acusação de excesso de zelo com aquilo que denominou de “informação jornalisticamente trabalhada”.

Em outro caso, o de criação do Conselho Federal de Jornalismo, mais uma vez o Executivo saiu despedaçado. Em agosto de 2004, o governo encaminhou o projeto ao Congresso, a pedido da Federação Nacional dos Jornalistas. O órgão serviria para orientar, disciplinar e fiscalizar as ações dos jornalistas.

A repercussão foi altamente negativa. O governo foi acusado de tentar amordaçar a categoria e de querer retomar a censura. O projeto, que trancou a pauta por várias semanas, foi arquivado na Câmara.

Mais uma reação

Falar mal de autoridade no Brasil quase sempre é sinônimo de processo judicial. Mas, falar da mais alta autoridade nacional, o presidente da República, pode virar caso até de expulsão do país.

Foi o que aconteceu com o jornalista americano Larry Rohter, correspondente do jornal The New York Times. Por se aborrecer com uma reportagem do americano, o presidente determinou o cancelamento da permanência dele no Brasil. O jornalista insinuou que a bebida alcoólica poderia estar afetando o trabalho do presidente.

“O presidente Luiz Inácio Lula da Silva nunca escondeu sua inclinação por um copo de cerveja, uma dose de uísque ou, melhor ainda, um copinho de cachaça, o potente destilado brasileiro feito de cana-de-açúcar. Mas alguns de seus conterrâneos começam a se perguntar se sua preferência por bebidas fortes não está afetando sua performance no cargo”, dizia o texto.

Dentre os fiascos cometidos pelo governo petista, esse ficou conhecido como o mais autoritário de todos.

Autores

Tags:

Encontrou um erro? Avise nossa equipe!