Schindler brasileiro

Embaixador Luiz de Souza Dantas, um grande brasileiro

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5 de abril de 2007, 12h13

O maior brasileiro de todos os tempos foi Getúlio Vargas. Esse foi o resultado de levantamento de opinião feito entre duzentas personalidades brasileiras pela Folha de S.Paulo. O advogado Rui Barbosa ficou em quarto lugar, atrás de Juscelino Kubitschek e Machado de Assis.

Convidado a compor o seleto colégio eleitoral, o ministro do Supremo Tribunal Federal, Celso de Mello, resgatou o nome de um embaixador que, se não encabeça listas de popularidade, foi um brasileiro merecedor da homenagem que lhe fez o ministro. Trata-se do embaixador Luiz Martins de Souza Dantas, uma espécie de Oskar Schindler nacional. Com a diferença que, se o alemão que salvou muitos judeus da insânia nazista lucrou com seu idealismo, Souza Dantas pagou caro por isso.

Os demais eleitos foram Tiradentes, Santos Dumont, José Bonifácio, Tom Jobim, Dom Pedro II e Oscar Niemeyer.

Leia a fundamentação de Celso de Mello para sua escolha:

EMBAIXADOR LUIZ MARTINS DE SOUZA DANTAS: UM GRANDE BRASILEIRO

Dentre os muitos brasileiros ilustres, destaco a figura notável de LUIZ MARTINS DE SOUZA DANTAS (1876-1954), cuja atuação pessoal, como Embaixador do Brasil na França, especialmente durante o período de ocupação nazista, salvou a vida de muitas centenas de pessoas (como judeus, homossexuais e comunistas), vítimas do horror indescritível que a Alemanha nazista, em um tempo sombrio e de repugnante torpeza humana, fez recair sobre a Humanidade.

O Embaixador SOUZA DANTAS, agindo contra expressas instruções do governo autocrático de Getúlio Vargas, desafiando a ditadura do Estado Novo, concedeu, na década de 1940, vistos de entrada no Brasil e de saída da Europa às minorias perseguidas, notadamente aos judeus, o que significou, para eles, a diferença fundamental entre a vida e a morte.

Por tal motivo, o Embaixador SOUZA DANTAS – cuja memória deve ser reverenciada pelos brasileiros – obteve o reconhecimento, que lhe foi conferido pelo povo de Israel, de ‘Justo entre as Nações’.

A milenar sabedoria judaica proclama – tal como registra o Talmud – que aquele que salva uma vida salva toda a Humanidade. Foi o que fez o Embaixador SOUZA DANTAS, que agiu com elevado espírito de solidariedade humana e de absoluto despreendimento pessoal.

Ao proteger as vítimas indefesas da perseguição nazista, fazendo-o com risco à sua própria vida e ao seu alto cargo diplomático, o Embaixador SOUZA DANTAS ouviu o grito de multidões desesperadas pelos abusos de um regime sinistro, amparou-as em um tempo de horror, garantiu-lhes a segurança da liberdade, proporcionou-lhes a certeza da sobrevivência e assegurou-lhes proteção contra um sistema de poder totalitário.

Por todas essas razões, destaco, entre as grandes figuras históricas do Brasil, a pessoa do Embaixador LUIZ MARTINS DE SOUZA DANTAS, que deve merecer um lugar de honra e de respeito na memória de todos os brasileiros.

Brasília, 30/03/2007.

Ministro CELSO DE MELLO

(Supremo Tribunal Federal)

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