Empate perdido

Lula ganha mas não leva no primeiro turno

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30 de setembro de 2006, 21h55

O presidente Lula não deve ser reeleito neste domingo (1º/10). Os dois principais institutos de pesquisa do país indicam que ele vencerá com folga a disputa no primeiro turno — mas sem votos suficientes para evitar a segunda rodada.

Formalmente, os números informam que há empate técnico. A estatística, em termos puramente matemáticos, não garantiria afirmações definitivas. Mas o estudo das eleições passadas mostra algo mais.

Dos cerca de 125 milhões de eleitores, cerca de 30 milhões não devem comparecer para votar. A força de Lula virou calcanhar-de-aquiles: seu eleitorado mais numeroso é a população de baixa renda e baixa escolaridade.

Historicamente, é nesse grupo que se verifica a mais alta “taxa de alienação” — a soma dos votos nulos, em branco e abstenções. Sendo que grande parcela dos votos nulos se verifica por erro de digitação na urna eletrônica. No sertão nordestino, a taxa de alienação, em 2002, foi de 48%.

A perda desses votos, num ambiente em que ainda repercutem as imagens do dinheiro apreendido com petistas e a frustração da ausência de Lula no debate da TV Globo, apontam para um inexorável segundo turno.

Para os petistas, o quadro atual é resultado de uma grande armação da qual participaram o PSDB, o presidente do TSE e os veículos de comunicação. As notícias negativas contra Lula e o PT teriam sido amplificadas para impedir sua vitória. A revolta é mais acentuada por conta da crença de que no segundo turno todas as forças se unirão contra o partido, o que inviabilizaria a reeleição de Lula — como ocorreu nas disputas em que venceram Fernando Collor e Fernando Henrique Cardoso.

O Jornal Nacional da TV Globo neste sábado divulgou as pesquisas feitas pelo Ibope e pelo Datafolha. Lula caiu três pontos percentuais, segundo o Datafolha, e agora tem 50% dos votos válidos — mesmo número da soma das intenções de voto de seus rivais. Para vencer no primeiro turno, um candidato precisa de 50% mais um dos votos válidos.

O Datafolha ouviu 14.798 pessoas em 409 municípios entre sexta e sábado. Ainda contando apenas votos válidos, Geraldo Alckmin (PSDB) tem 38%, Heloísa Helena (PSOL) soma 9%, Cristovam Buarque (PDT) aparece com 2%.

Na conta global, Lula caiu de 49% das intenções na pesquisa passada para 46% no novo levantamento. Alckmin, que somava 33% das intenções de voto, passou para 35%. Heloísa Helena e Cristovam Buarque mantiveram os 8% e 2% que tinham na última pesquisa.

Pelo levantamento do Ibope, Lula soma 49% dos votos válidos, contra 51% de seus rivais. A margem de erro da pesquisa, que ouviu 2.010 eleitores entre sexta e sábado, é de dois pontos percentuais.

De acordo com Ibope, Lula caiu de 48% para 45% nas intenções totais de voto. Já Geraldo Alckmin foi de 32% para 34%. Heloísa Helena manteve os 8% da pesquisa anterior, divulgada na última quarta-feira. Cristovam Buarque também não oscilou e tem 2%.

Nos votos válidos, Lula soma 49%, contra 37% de Alckmin, 9% de Heloísa Helena, 3% de Cristovam Buarque e 2% dos demais candidatos somados.

A polêmica

Do ponto de vista petista, não faz sentido o troco, já que a economia cresceu, os empresários faturaram e a parcela mais miserável da população foi beneficiada. As peripécias criminais envolvendo o partido, desse ângulo, não seriam motivo suficiente para ejetar Lula do trono, já que seus adversários fariam ou teriam feito pior.

A exposição das fotos do dinheiro petista — da mesma forma como foram expostas mazelas e supostas mazelas ao longo do governo Lula — é interpretada como crime hediondo. A “ingratidão” da TV Globo, que tem noticiado as aventuras petistas no submundo da política é igualmente motivo de fúria. Afinal, a emissora mereceu do governo o melhor dos tratamentos.

Considerados os fatos dos últimos dias, contudo, tudo o que se noticiou foram atos praticados por petistas e não por seus inimigos.

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