O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e o Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) articulam no Congresso uma maneira de burlar suas próprias regulamentações, que impedem que os salários dos juízes e procuradores — incluindo benefícios e gratificações por tempo de serviço — ultrapassem o teto salarial para o Judiciário, fixado em R$ 24,5 mil (salário dos ministros do Supremo Tribunal Federal).
De acordo com o jornal O Estado de S. Paulo, o CNMP já conseguiu que o Congresso Nacional aprovasse projeto de lei que institui o jeton para os seus integrantes. Assim, a remuneração dos conselheiros passaria de R$ 23,2 mil para R$ 28,8 mil. A lei aprovada segue agora para sanção do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
No último dia 7, o CNJ enviou ao Congresso um projeto semelhante ao do Conselho do MP. De acordo com O Estado de S. Paulo, essas iniciativas dos dois conselhos poderão impulsionar uma onda de pedidos semelhantes de juízes, procuradores e promotores, que foram limitados pelo teto.
Casa de ferreiro
O mesmo CNJ que agora tenta fixar o salário de seus membros acima do teto salarial editou resolução determinando que os vencimentos do juiz — inclusive benefícios e gratificações — não pode ultrapassar o teto de R$ 24,5 mil. O Conselho do Ministério Público seguiu o mesmo entendimento do CNJ.
A Academia Brasileira de Direito Constitucional (Abdconst) criticou a proposta dos jetons. “A posição da ministra Ellen Gracie [presidente do CNJ] está equivocada e não representa os ideais republicanos que o STF deve defender”, afirmou Flávio Pansieri, presidente da associação.
Para Pansieri, a justificativa de excesso de trabalho e falta de estrutura citados por Ellen Gracie não serão solucionados com os jetons. “A postura mais republicana seria o encaminhamento de projeto para aumento de mais cargos de assessoramento do CNJ. Não podemos imaginar que a soma dos jetons mais o vencimento possa superar o teto constitucionalmente previsto, não existindo na Constituição qualquer exceção a esta regra.”
Rédeas frouxas
O CNJ foi criado para controlar possíveis abusos do Judiciário. Mas, desde que a ministra Ellen Gracie assumiu a presidência do Supremo Tribunal Federal e, consequentemente, do Conselho Nacional de Justiça, duas das principais decisões do CNJ foram afrouxadas — a do teto salarial e das férias coletivas.
O CNJ suspendeu sua resolução que regulamentava o fim das férias coletivas. Em flagrante afronta à Constituição que, a partir da Emenda Constitucional 45, proibiu o descanso coletivo, o CNJ decidiu liberar a questão para que cada tribunal resolva como bem entender.
A Procuradoria-Geral da República levou a história ao Supremo Tribunal Federal. Na Ação Direta de Inconstitucionalidade, o procurador-geral da República, Antônio Fernando Souza, questiona a Resolução 24/06 do CNJ, que suspensão a vedação das férias coletivas. A PGR também está questionando o Ato Regimental 5/06 do Tribunal de Justiça do Distrito Federal, que restabeleceu o descanso coletivo nos meses de janeiro e julho.
Há um consenso nos meios forenses de que o fim das férias coletivas prejudica tanto os advogados quanto o próprio Judiciário. Os tribunais de Justiça do Distrito Federal, Minas Gerais, Paraná e Pernambuco já restabeleceram as férias.
Por enquanto, o CNJ só mantém, firme e forte, uma de suas poucas medidas importantes, a que regulamenta a proibição do nepotismo. Resta saber até quando.
Comentários de leitores
12 comentários
Pirim (Outros)
DATA VÊNIA, OS "CONSELHÕES" (CNJ E CNMP) JÁ NASCERAM MORTOS, DAÍ COMO PODERÃO "ENQUADRAR" OS DEMAIS, SE OS MESMOS JÁ NASCERAM MORTOS....????
Lu2007 (Advogado Autônomo)
Essa Ministra e este CNJ perderam um momento ótimo para ficarem quietos. Mandaram muito mal. Eu achei que essa Minsitra ia moralizar o Judiciário mas está fazendo o oposto. Defendo só interesses do bolso dela!!! Tem que respeitar este teto sim, afinal ´´e com o dinheiro que eu e todos os brasileiros pagamos de imposto, que ela quer tirar dinheiro para pagar o salário dela, o jeton dela, os super salários desta turma. Que vergonha!!!! Dá raiva isso!!!!
Marco (Outros)
E eu, como a imensa maioria da população, pensava que com a entrada da Ministra Ellen Gracie, chamada por colegas de "Caxias", haveria moralização no CNJ. Que ilusão a minha. Ela tem se mostrado sim, corporativista, pouco interessada em moralização, pouco interessada em abrir a caixa-preta, pouquíssimo interessada em desatar os nós do Judiciário. Agora somos obrigados a ver mais esse descalabro, com a proposta de aumentos para os "semi-deuses". Belo país esse! Viva a independência dos poderes! Viva a indecência! Viva o CNJ!
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