Veneno russo

Ex-agente secreto envenenado pode ter sido vítima de ex-colegas

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21 de novembro de 2006, 14h38

O processo que investiga a morte de uma jornalista russa agora se estende para fora da Rússia e ganha pitadas do melhor dos filmes de espionagem. Um ex-agente secreto e espião russo, envenenado na Inglaterra e hospitalizado sob escolta policial, pode ter sido vítima por causa de suas críticas contra ex-colegas de espionagem e pela investigação da morte da jornalista russa.

O coronel Alexander Litvinenko, um ex-agente da KGB, polícia secreta russa, disse na semana passada que se sentira mal em 1º de novembro, após ter almoçado com um “contato” que afirmou ter informações sobre a morte da jornalista russa Anna Politkovskaya. Ela tinha uma postura anti-Kremlin e sofreu atentado a tiros mês passado em Moscou. Um médico que trata do coronel Alexander Litvinenko disse à BBC de Londres, segundo o site FindLaw, que testes revelaram ter sido ele vítima de envenenamento por tálio – um metal tóxico encontrado comumente em veneno de ratos.

Alexander Litvinenko está sob forte escolta policial, internado no University College Hospital de Londres. “Ele tinha um diagnóstico de recuperação. Agora, ele tem um prognóstico de morte iminente”, disse John Henry, um toxicologista clínico que tratou do presidente ucraniano Viktor Yushchenko, em 2004, após ele ter sido envenenado durante sua campanha presidencial. O médico John Henry diz que apenas um grama do tálio pode causar danos no sistema nervoso e levar à falência múltipla de órgãos.

Em entrevista ao matutino Sunday Times, pouco antes de seu quadro ter se agravado, Litvinenko descreveu as condições em que almoçou com um contato italiano que teria informações sobre o assassinato da jornalista Politkovskaya, um crime ainda não resolvido. O italiano, segundo o site, foi identificado como Mario Scaramella, um acadêmico italiano que ajudou a investigar as atividades da polícia secreta russa na Itália durante a Guerra Fria. “Eles provavelmente pensavam que eu morreria depois de três dias, de falência do coração”, disse Litvinenko ao matutino.

Glenn Edwards, gerente de operações do restaurante Itsu, onde ocorreu o almoço, disse que no sábado passado à noite detetives ingleses estiveram no local para colher as fitas do circuito interno de TV.

Alexander Litvinenko trocou a Rússia pela Inglaterra há seis anos e se tornou um dos mais ativos críticos do Kremlin. No livro chamado “The FSB Blows Up Russia”, ainda inédito em português, ele acusou o serviço secreto de seu país de promover atentados a bomba que mataram mais de 300 pessoas na Rússia, em 1999, e de ter deflagrado a segunda guerra na Chechênia.

Boris Berezovsky, o magnata russo que ano passado esteve no Brasil para supostamente negociar jogadores de futebol e chegou a ser procurado pela Interpol, esteve durante toda a sexta-feira passada ao lado de Alexander Litvinenko, em seu leito. Boris Berezovsky disse à Associated Press que os serviços de inteligência russos são os suspeitos do envenenamento.

Casos de envenenamento são praxe na Rússia. Yuri Shchekochikhin, um magistrado russo responsável por uma cruzada contra a corrupção no país, morreu em julho de 2003 após violenta reação alérgica. Ele foi envenenado após ter denunciado uma máfia de oficiais da alfândega russa que movimentavam milhões em importações ilegais de móveis. Num dos mais notórios envenenamentos da Guerra Fria, o dissidente Georgi Markov foi morto, em 1978, com um dardo envenenado.

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