Lulismo e Imprensa

Mainardi quer dar uma bandeirada na cabeça de Amorim

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3 de novembro de 2006, 15h15

A imprensa cumpriu seu papel no processo eleitoral? Dois grupos corpulentos e entusiasmados estão em pé de guerra em torno dessa questão. Com o PT estão jornalistas que viram no noticiário sobre a pilantragem que cercou a eleição uma grande armação para evitar a vitória de Lula. Do lado contrário, posicionam-se aqueles que noticiaram exatamente os fatos produzidos pelo grupo de Lula.

Nesta mesma edição, este site publica entrevista do jornalista Luís Nassif, apontando o que enxergou como tentativa de suicídio da mídia ao forçar além dos limites o noticiário anti-PT. Abaixo, publicamos outro ponto de vista. A transcrição do PodCast de Diogo Mainardi sobre o assunto e o blog de Reinaldo Azevedo, coabitantes do mesmo endereço: o site da revista Veja.

O Lulismo e a Imprensa

Reproduzido do PodCast de Diogo Mainardi na revista Veja.

Tentei falar sobre o assunto (Lulismo e Imprensa) com Marco Aurélio Garcia, presidente do PT, mas ele se recusou a me atender, dizendo que seu infinito apreço pela imprensa não vai ao ponto de conceder-me uma entrevista. Tudo bem. É um direito dele.

Na semana que vem prometo falar com Paulo Henrique Amorim. Ele é o meu lulista preferido. Mas acho que estou proibido de dizer que ele é Lulista. Ele está me processando por causa disso. Mino Carta também está me processando por causa disso. Assim como Franklin Martins. Quero que Mino Carta e Franklin Martins se danem. Eu só gosto é de Paulo Henrique Amorim.

Tereza Cruvinel é lulista. Dessas que fazem campanha na rua. Outro dia mesmo ela foi vista em Brasília distribuindo santinhos do PT. Paulo Henrique Amorim pertence a uma outra raça de Lulistas. Ele é da raça dos lulistas aloprados, dos lulistas bolivarianos. Ele acha que a primeira tarefa dos lulismo é quebrar a Globo e a Veja. Paulo Henrique Amorim, certamente, daria uma bandeirada na cabeça de um repórter da Veja. Eu também daria uma bandeirada na cabeça de Paulo Henrique Amorim.

Ele formulou a seguinte pergunta a Ciro Gomes. Cito literalmente:

“A questão da mídia no Brasil na minha modestíssima opinião não é apenas o fato de que a mídia do Brasil é uma mídia de oposição, maciçamente, com exceções honrosas como por exemplo a Carta Capital, mas é também uma mídia que age no processo político. E a mídia na minha opinião tem se comportado como uma ameaça ao funcionamento do sistema democrático no Brasil. Como o presidente Lula deve agir diante desse quadro?”

Foi essa a pergunta de Paulo Henrique Amorim. Antes de tudo. fico feliz que ele saiba que sua opinião é, de fato, modestíssima. Como todos os lulistas ele acha que se opor a Lula é antidemocrático. Ele acha também que Carta Capital é uma revista honrada: por isso Paulo Henrique Amorim é meu lulista preferido. É por isso que eu daria uma bandeirada na cabeça dele.

A resposta de Ciro Gomes foi igualmente aloprada e bolivariana. Ele disse:

“É preciso incentivar dramaticamente os meios de comunicação alternativos fortalecer cooperativas de jornalistas, financiar e, nisso, conceder canais de televisão.

No processo que move contra mim Paulo Henrique Amorim me acusa de ter insinuado que em troca de dinheiro ele abriu mão de sua independência e imparcialidade como profissional de imprensa.

Como ensinam Paulo Henrique Amorim, Ciro Gomes, Marco Aurélio Garcia, Walter Pinheiro, Bernardo Kucinski é o oposto:

um jornalista só pode ser realmente independente e imparcial quando leva grana do Lulismo.

Eu daria uma bandeirada em minha cabeça.

O Caso Veja e os blogs de política

Reproduzido do Blog de Reinaldo Azevedo.

Na quarta-feira, às 4h da manhã (o blog registra 5h porque o Blogger já está em horário de verão), publiquei a seguinte nota:

Entre blogs voltados para a cobertura política e/ou mídia, ignoraram as agressões de que foram vítimas os repórteres da Veja: Observatório da Imprensa, Mino Carta, Paulo Henrique Amorim, Franklin Martins, Tereza Cruvinel, Ilimar Franco, Jorge Bastos Moreno e Paulo Moreira Leite.

Como se vê, não fiz juízo de valor. Entrei nessas páginas, procurei a notícia, não achei e registrei o fato. Como costumam ser páginas atualizadas diariamente e como o caso diz respeito à liberdade de imprensa, o tema me pareceu relevante. Mas é claro que cada um tem seu ritmo, seu tempo, suas ocupações. Por isso, visitei de novo cada uma das páginas.

Paulo Moreira Leite — às 15h31 do dia 1º, publicou o texto “Interrogatório de jornalistas é um insulto à liberdade de imprensa”. Ontem, dia 2, estava lá: “A Polícia Federal interroga jornalistas, mas não contesta a notícia. Estranho? Não”. Os dois textos estão, a meu juízo, corretíssimos. E é certo que o jornalista não postou a notícia no próprio dia 31 porque tem outros afazeres na reportagem. Já concordei com muita coisa que Paulo escreveu e discordei de outras tantas. Mas certamente não temos nenhuma divergência quanto à liberdade de imprensa. Fica aqui o abraço do leitor.

Observatório da Imprensa — No dia 31, o site ignorou o caso. Mas o assunto foi debatido naquela noite no programa de TV. Publicou o texto de Veja explicando o caso no dia seguinte e tem abordado a questão da relação conflituosa do governo Lula com a imprensa.

Jorge Bastos Moreno — Entrou no assunto no dia 1º, censurando a ação da PF e também Marco Aurélio Garcia.

Tereza Cruvinel — Tratou do assunto no dia 1º. Escreve ela o que vai em itálico: “Se o depoimento dos jornalistas da Veja transcorreu mesmo sob clima de intimidação, é lamentável. Um equívoco da PF, que prefiro atribuir a seus excessos enquanto organização que opera com tanta autonomia, não a uma orientação do governo. Os sinais são contraditórios, pois o presidente agora está disposto a conceder mais entrevistas, e começou fazendo isso logo depois de reeleito. Pelo que sei, a intenção é construir uma relação melhor com a imprensa. Seria estupidez comprar esta briga, partir para este confronto agora.” Eu e Tereza, definitivamente, temos maneiras distintas de escrever e, quero crer, de ler também. Abrir o texto botando em dúvida o relato dos jornalistas, dados o conjunto da obra e a guerra do governo contra a mídia, me parece excesso de boa vontade com o poder e falta de boa vontade com os jornalistas. Segundo ela, os “excessos” devem ser atribuídos à PF, “que opera com autonomia”. Marco Aurélio Garcia é da PF? Diz ainda que isso é contraditório porque “o presidente agora está disposto a conceder entrevistas”. Eu acho que é uma forma muito sutil de humor que nem todos captam. Eu estou entre eles.

Franklin Martins — Continuou a ignorar solenemente o assunto. Está preocupado com outra coisa. “As primeiras 48 horas posteriores ao segundo turno mostraram que estavam equivocados aqueles que apostavam num recrudescimento da crise política no caso da reeleição de Lula. A expressiva votação do presidente e sua forte recuperação no Sudeste, onde venceu, e no Sul, onde perdeu por pouco, sepultaram as teses aventureiras do ‘terceiro turno’ e da ‘eleição sub judice’. Nota: “terceiro turno” é uma expressão inventada por Fernando Collor de Mello. Em tempo: sou um aventureiro. Sou a favor do terceiro turno. No tempo de Collor, eu também era. Franklin certamente estava comigo naquele caso. Já neste…

Ilimar Franco — Continuou a ignorar o assunto. No dia 31, preferiu dar destaque ao que intitulou “A morte de um patriota”. Escreve: “Acabo de receber uma ligação do jornalista Luiz Carlos Azedo, do Correio Braziliense. Emocionado ele me conta que Geraldão, o estivador Geraldo Rodrigues dos Santos, morreu na noite de segunda-feira no Rio de Janeiro. Geraldão foi o principal dirigente do PCB, do Comitê da Guanabara, durante o regime militar, de 1970 a 1987”. Interessante. O que caracterizava antes o comunismo era o internacionalismo. Comunismo patriótico é uma coisa bem nossa, como jabuticaba e pororoca.

Mino Carta — Entrou no assunto no dia 1º. Para apoiar a Polícia Federal e atacar Veja, é claro. Mino, como a gente sabe, jamais verga a coluna aos poderosos. Tem joelhos resistentes.

Paulo Henrique Amorim — Continuou ignorando. Era o esperado. Paulo Henrique está para Mino Carta mais ou menos como Evo Morales está para Fidel Castro. Cada um entenda como quiser.

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