Rumo à política

Edson Vidigal preside sua última sessão e se despede do STJ

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20 de março de 2006, 12h45

A sessão desta segunda-feira (20/3) da Corte Especial do Superior Tribunal de Justiça é a última presidida pelo ministro Edson Vidigal, que deixa o Judiciário até o final de março para se candidatar ao cargo de governador do Maranhão pelo PSB.

Na semana passada, Vidigal encaminhou seu pedido de aposentadoria do cargo para o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, que, por sua vez, encaminhará ao presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, para publicação do ato na edição do dia 29 de março do Diário Oficial.

No sábado (18/3), logo após despachar a liminar que suspendeu as prévias do PMDB do domingo numa queda de braço dentro do próprio STJ (na madrugada de sábado, o ministro Hamilton Carvalhido havia garantido a realização das prévias), Vidigal embarcou para o Maranhão para confirmar sua candidatura.

Ele terá o apoio do atual governador maranhense, do PSB, José Reynaldo, e também do PT. Vai disputar o cargo com a ex-governadora Roseana Sarney. Em seu discurso de despedida, Vidigal não abordou as críticas ao fato de ele sair do Judiciário direto para disputar um cargo eletivo. Preferiu apenas agradecer funcionários e amigos.

Leia o discurso do ministro Edson Vidigal

Senhoras ministras,

Senhores ministros:

Esta é, com certeza, a última sessão sob a minha Presidência nesta Corte Especial.

Na próxima semana não estarei mais ministro.

Ao antecipar a minha saída deste tribunal, estarei abdicando dos oito anos que ainda me restam para continuar juiz. E, por conseguinte, aos dias que ainda tenho na Presidência do Superior Tribunal de Justiça e na Presidência do Conselho da Justiça Federal.

Assim, estou desistindo, também, da possibilidade de vir a ser, já no próximo ano, o novo Corregedor nacional de Justiça, num mandato de dois anos.

Sei que alguns não alcançam em mim as razões para tanto desprendimento. Afinal, ocupamos um dos espaços mais cobiçados na República. Aqui, além dos apoios para uma vida pessoal segura, somos livres para o trabalho solitário à hora e lugar que queremos.

Pois estou abdicando disso tudo para atender aos impulsos irrefreáveis que me envolvem agora, de forma irreversível, nas expectativas mais escancaradas, me impondo que eu volte, o quanto antes, para encarar e vencer novos desafios no meu Estado, o Maranhão.

Portanto é o espírito público no interesse superior da causa pública que me leva agora de volta à vida pública para uma nova jornada no meu Estado. Seremos vitoriosos porque, como Dom Quixote, creio que não há derrota quando não se perde a honra, nem a dignidade. Continuarei defendendo princípios, trabalhando para resgatar valores.

Há uma pobreza que responde pela manutenção das outras pobrezas — é a pobreza política. Nas democracias, todas as soluções decorrem da ação política. Eu creio no consenso político. O entendimento político é o caminho natural para as soluções que se buscam na pluralidade de idéias que legitimam a democracia.

Precisamos dar mais valor no Brasil à atividade política. O mal prospera quando os bons se omitem.

Acredito na política como força propulsora da sociedade nas ações do Estado, em favor do desenvolvimento econômico e social, bases indispensáveis à melhoria de condições de vida do nosso povo e, portanto, do fortalecimento do regime democrático.

Antes do fim da próxima semana, terei por concluída a minha missão como juiz neste tribunal. Sobre o que fiz e o que não fiz, se fui bom ou não no meu oficio, o tempo, só o tempo dirá. Em mim, a convicção de que dei à causa da Justiça o melhor das minhas energias, da minha vontade, da minha experiência.

Vou levar comigo as boas lembranças da melhor convivência com os colegas, ministras e ministros e com todas as servidoras e servidores. Temos um dos melhores quadros de servidoras e servidores públicos do país. Temos aqui excelentes vocações também para outros setores da nossa vida pública.

Agradeço à minha família, especialmente à Eurídice, sempre comigo, no estímulo necessário e na crítica indispensável. Às amigas e amigos, próximos e distantes, filhos, irmãos, irmãs, demais parentes, aderentes, a todos eu agradeço.

Sou agradecido e reconhecido a todos os servidores do Superior Tribunal de Justiça e do Conselho da Justiça Federal pelo apoio que me deram nos longos anos da jurisdição e nos últimos tempos da administração.

Agradeço também, especialmente, aos servidores do meu gabinete, das Presidências do STJ e do Conselho da Justiça Federal. Mais que servidoras e servidores, são todos, hoje, minhas amigas e meus amigos.

Nada de olhar para trás. É seguindo em frente, em paz, que se vive vitoriosamente. O que eu disse quando cheguei, repito agora ao sair: minha origem é a estrada; meu destino é o futuro.

Obrigado.

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