Operações na favela

Entidades fazem campanha contra o caveirão da Polícia do Rio

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10 de março de 2006, 16h46

Na próxima segunda-feira (13/10), entidades de defesa dos direitos humanos iniciam uma campanha internacional contra a utilização pela polícia do Rio de Janeiro de veículos blindados como o caveirão nas comunidades pobres da cidade. A campanha será lançada simultaneamente no Rio de Janeiro e em Londres pela Amnesty International, Justiça Global, Rede de Comunidades e Movimentos contra a Violência e pelo Centro de Defesa de Direitos Humanos de Petrópolis.

No Rio, às 11 horas será realizada a apresentação oficial da Campanha na Rua México, 41, 12º andar, sede do Conselho Regional de Serviço Social. Às 15 horas, as organizações se reúnem em frente à Câmara Municipal do Rio de Janeiro, na Cinelândia, para a coleta de assinaturas do abaixo assinado contra a utilização do caveirão e de outros blindados pela polícia fluminense.

O caveirão é um carro blindado adaptado para ser um veículo militar. A palavra caveirão refere-se ao emblema do Bope — Batalhão de Operações Policiais Especiais, que aparece com destaque na lateral do veículo.

Segundo as entidades, nas operações realizadas pelo caveirão, a polícia faz ameaças psicológicas e físicas aos moradores, com o intuito de intimidar as comunidades. “O emblema do Bope — uma caveira empalada numa espada sobre duas pistolas douradas — envia uma mensagem forte e inequívoca: o emblema simboliza o combate armado, a guerra e a morte”, dizem.

As entidades também afirmam quer “o tom e a linguagem utilizados pela polícia durante as operações com caveirão são hostis e autoritários. As ameaças e os insultos têm um efeito traumatizante sobre as comunidades, sendo as crianças especialmente vulneráveis. Alto-falantes montados na parte externa do veículo anunciam repetidamente a chegada do caveirão: ‘Crianças, saiam da rua, vai haver tiroteio’. Ou de forma mais ameaçadora: ‘Se você deve, eu vou pegar a sua alma’. Quando o caveirão se aproxima de alguém na rua, a polícia grita pelo megafone: ‘Ei, você aí! Você é suspeito. Ande bem devagar, levante a blusa, vire… agora pode ir…’”.

O governo do Rio de Janeiro alega que um dos principais motivos para a utilização do caveirão é a proteção dos policiais em operações nas comunidades. As entidades alegam que “a polícia tem o direito legítimo de se proteger enquanto trabalha. Mas também tem o dever de proteger as comunidades que está servindo. O policiamento agressivo tem resultado em grande sofrimento para as comunidades pobres do Rio, bem como sua perda de confiança na capacidade do estado de manter e garantir a segurança”.

Para as organizações que promovem a campanha “com o caveirão tornou-se extremamente difícil responsabilizar a polícia em casos de violência. Embora, em teoria, devesse ser possível, através de investigações balísticas, traçar a origem das balas para as armas individuais que as dispararam, na prática este procedimento não é usado e raramente são feitos exames. O anonimato dos policiais quando operam dentro do caveirão agrava o problema. Em conseqüência, os policiais atiram nas comunidades de dentro do caveirão sem medo de serem identificados e processados”.

Para tais organizações, o caveirão é um símbolo das falhas da política de segurança pública do Rio de Janeiro. A campanha, além da remessa de cartões postais à governadora do estado, recolherá assinaturas da população em um abaixo assinado pelo fim do uso do veículo. Como forma de mobilização e de sensibilização, as organizações apresentarão um vídeo com depoimentos de crianças sobre o pavor que sentem do blindado.

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