Telefone amigo

É mais útil monitorar ligações do que bloquear celular

Autor

  • Hugo Cesar Hoeschl

    post doc em governo eletrônico professor da UFSC. É também ex-secretario de Geração de Oportunidades de Florianópolis. Especialista em Informática Jurídica doutor em Inteligência Aplicada e pós-doutor em Governo Eletrônico. Ex-Promotor de Justiça e ex-Procurador da Fazenda Nacional.

29 de maio de 2006, 12h55

No meio de toda a polêmica sobre os ataques e rebeliões do PCC, espalhados pelo Brasil e concentrados em São Paulo, a TIC — tecnologia da informação e comunicação jogou como adversária da sociedade organizada e ajudou os criminosos a organizarem suas ações. Agora, surge uma unanimidade nacional: os celulares devem ser bloqueados em presídios. É uma unanimidade burra.

Geralmente, decisões tomadas apressadamente em cenários confusos tendem, por óbvio, a serem confusas. A melhor solução é utilizar os diálogos como instrumento de coleta de informações, monitorando a atuação das quadrilhas e destruindo as conexões que os grupos criminosos mantêm ativas fora dos presídios.

Como fazer isso? Utilizando a mesma TIC. E não é difícil. Existem várias tecnologias que permitem o monitoramento simultâneo de milhares e milhares de chamadas telefônicas em curtos períodos de tempo, com possibilidade de mapeamento de redes sociais por meio da detecção de padrões comportamentais e monitoramento de fluxos de comunicações e diálogos com o uso de ontologias dinâmicas.

Um exemplo de tecnologia desse tipo é a chamada Rede de Relacionamentos/Nexus. Ela permite, por exemplo, a visualização simultânea de mais de 10 mil chamadas telefônicas, identificando quem liga para quem, com que freqüência, com que tempo médio de duração e quais as seqüências de ligações que ocorrem entre o grupo monitorado.

Mais do que isso, ela identifica se existem conexões entre grupos monitorados em momentos e locais diferentes e como elas ocorrem. Tudo isso é muito rápido, acontece em tempo real. As gravações podem ser ouvidas de modo dinâmico, como se fossem arquivos dentro de um diretório, com avaliação dos conteúdos textuais, gerando alarmes específicos para ligações que contenham textos ou palavras determinados.

Para melhorar, esse tipo de tecnologia faz cruzamentos entre ligações telefônicas e movimentações bancárias. É comum transações bancárias suspeitas serem precedidas ou sucedidas por ligações telefônicas, com estabelecimento de padrões comportamentais.

Para se ter uma idéia mais detalhada da capacidade de processamento dessas tecnologias, uma planilha com, por exemplo, 65 mil linhas de dados leva, entre configuração, operação de carga e processamento, aproximadamente 10 minutos para ser analisada.

Nesse tipo de atuação, as forças de segurança e investigação ficam menos expostas aos meliantes. Todos os problemas técnicos e operacionais ligados aos bloqueios migram para o segundo plano e passamos a ter a TIC como aliada, invertendo a situação e utilizando a inteligência como ferramenta estratégica na construção de uma sociedade mais justa e perfeita.

Assim, ao invés de retroceder e tentar, mais uma vez, mudar leis em “regime de urgência” e “proibir” mais alguma coisa, é mais importante trabalhar a construção de novos cenários. Pelos valores que estão sendo apresentados, o custo total de implantação dos bloqueadores, em escala nacional e atingindo todas as bandas e faixas, vai superar a casa de bilhão. Por incrível que pareça, os sistemas de monitoramento, por serem mais otimizados e atuarem em escala, custam menos.

Outro aspecto importante: os monitoramentos não podem ser “puxados da tomada”, pois suas centrais ficam em lugares sigilosos e protegidos, com atuação sobre os fluxos de comunicações, remotamente. Em resumo, monitorar é mais seguro, eficiente e barato do que bloquear, além de ser mais inteligente.

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    post doc em governo eletrônico professor da UFSC. É também ex-secretario de Geração de Oportunidades de Florianópolis. Especialista em Informática Jurídica, doutor em Inteligência Aplicada e pós-doutor em Governo Eletrônico. Ex-Promotor de Justiça e ex-Procurador da Fazenda Nacional.

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