Consultor Jurídico

Se houvesse respeito à democracia, não haveria terrorismo

26 de maio de 2006, 15h11

Por Antonio Baptista Gonçalves

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O terrorismo significa uma reação extremada por um desacordo de idéias entre uma nação e um reacionário. Tal divergência pode ser conceitual, mas na maioria das vezes reflete uma diferença eminentemente cultural. E se os ideais de democracia e cidadania fossem respeitados, certamente não existiriam atentados como os ocorridos no fatídico 11 de setembro, nos Estados Unidos.

A diversidade cultural é enorme, desde línguas, culturas até religiões, com notórios conflitos ideológicos. O grande problema reside no fato de alguns almejarem impor sua vontade coercitivamente a outros e se utilizarem para tanto de medidas econômicas para obterem êxito, ou pior, tentar impor sua cultura em detrimento de outra.

O terrorismo surge exatamente neste descontentamento, que pode ser representado por uma única pessoa, ou por um grupo, como é o caso de entidades sabidamente reacionárias como o ETA. Algumas vezes, as ações destes indivíduos se fazem tão presentes e fortes que ultrapassam os limites da democracia, e tal fenômeno também pode ser comprovado com o Talibã, que dominou um país e resultou na criação da República do Talibã. Neste caso, a pressão interna foi tão intensa que sobrepujou a soberania da própria nação.

Interessante como a política interna de um país pode influenciar decisivamente na política externa. No caso americano, o líder assumido dos atentados foi um soldado altamente treinado pelo próprio governo americano, que ficou muito rico ao longo do tempo e decidiu se “vingar” da política adotada por aquele país.

Ainda no caso americano, a pressão popular (conflito interno) foi tão intensa que praticamente obrigou o seu governo a tomar uma atitude. Os cidadãos americanos entenderam que, ao destruírem um dos símbolos de sua cultura (Word Trade Center, também conhecido como Torres gêmeas), a soberania dos Estados Unidos estaria ameaçada e que o conceito de superpotência se mostrava extremamente frágil.

A resposta foi uma cruzada maciça e destrutiva atrás do terrorista, que até o momento resultou infrutífera, já que este ainda não foi encontrado.

O exemplo do soldado que fez o mundo se voltar para os Estados Unidos em 11 de setembro, ou seja, Osama Bin Laden, reflete o que a diferença cultural pode produzir se extremada. Este indivíduo teve um alto treinamento e utilizou tudo o que aprendeu contra o seu próprio professor, simplesmente por não concordar com a metodologia daquele país.

O terrorismo é uma ameaça que surge do exterior, ao qual enseja uma luta, que ultrapassa os limites da democracia e da civilidade, já que alguns Estados compreendem como sendo armada.

Todavia, não é um conceito unicamente externo devendo ser considerado também o âmbito interno, mais especificamente as já mencionadas diferenças culturais fundamentais. O que enseja um conceito bélico, nem sempre respeitando os ideais da liberdade e da democracia, apesar de muitos presidentes se valerem exatamente destes argumentos para justificarem uma verdadeira cruzada contra o terrorismo.

A mais célebre justificativa é a de que, se não houver uma reação armada, haverá um subjuramento da nação ante ao inimigo, o qual Estado algum pode permitir, já que sem autonomia não existe governo.

Apesar de tais caminhos não serem conduzidos de maneira democrática, a defesa dessas premissas se faz pungente para dirimir e erradicar conflitos. Aceitando que cada cultura tem sua própria liberdade e ninguém, seja uma pessoa, um grupo ou até mesmo uma nação, pode sufocar seus ideais, porque a liberdade cultural e individual é imprescindível, contanto que os limites sejam respeitados.

Todo indivíduo tem o deito a ter uma crença, um idioma, uma ideologia, que pode ou não ser a mesma de seu vizinho. Desde que haja um respeito e uma tolerância a coexistência pode ser pacífica.

O que não pode ocorrer são conflitos exatamente por esta diferença. A sociedade em tempos de globalização avança em tantos aspectos, mas infelizmente mantém uns vícios até o momento considerados como insanáveis.

Um conflito físico ou armado não gera benefícios a nenhum dos envolvidos. A solução não é uma cultura única, um único idioma ou religião, mas sim um respeito imperativo destas diferenças, sem a necessidade de um tentar se impor sobre o outro pelo uso da força. A democracia existe para todos.

Com a opção de um atentado, toda a luta pela liberdade de expressão fica em segundo plano, já que agora o que passará a imperar é um conflito de soberania, principalmente em relação ao Estado atacado.

E este conflito deturpa o ideal original que é exatamente a livre expressão de crença, idéia, religião, por parte do suposto ofendido. Não é com um ato terrorista que o espaço pretendido será alcançado, exatamente o contrário, o conflito subseqüente ensejará um sufocamento e uma repressão maciça para que tal ato não se repita. E avanços sociais tão importantes como a democracia e a liberdade de expressão estarão dizimados.

O que nos reporta a épocas não muito saudosas como os grandes conflitos entre nações pela reafirmação de sua soberania. Acredito que a volta destes dias por meio de atos terroristas em nada irá ajudar os menos favorecidos.

O terrorismo não é a justificação para a defesa de nada. Um ideal não pode ser defendido por uso de violência. Outros meios devem ser utilizados.