Tudo sob controle

Como o crime se mostra mais organizado que o governo?

Autor

  • Antonio Baptista Gonçalves

    é advogado pós-doutor em Desafios en la postmodernidad para los Derechos Humanos y los Derechos Fundamentales pela Universidade de Santiago de Compostela pós-doutor em Ciência da Religião pela PUC/SP pós-doutor em Ciências Jurídicas pela Universidade de La Matanza.

18 de maio de 2006, 13h03

Quando se faz uma faculdade, seja ela qual for, o estudante sempre vai se deparar com uma matéria daquelas tidas como nada simpática: Filosofia. E nela irá estudar um filósofo que tinha como metodologia questionar tudo e todos para obter as respostas verdadeiras. Qualquer um acharia uma maluquice.

Mas, esse mesmo instrumento é utilizado pelas crianças. Elas querem saber tudo e perguntam a todo instante, até que o pai se depara com uma pergunta tão óbvia que fica sem conseguir dar uma resposta e manda a criança brincar.

E, mesmo já tendo saído da faculdade há muito, o estudante se deparou nos últimos dias com uma série de perguntas sem respostas!

Por que o governo do estado de São Paulo não tomou as devidas e reais medidas para evitar que essa crise provocada pelos membros da organização criminosa Primeiro Comando da Capital existisse?

Se o governo sabia, por que testou o potencial criminoso dessa organização?

Se houve um planejamento, como o secretário da Penitenciária afirma, então por que São Paulo parou?

Se tudo foi bem executado, por que atearam fogo em mais de 17 ônibus?

O governo afirmou estar preparado! Então como se justifica as mais de 80 mortes em apenas três dias?

Por que fecharam o aeroporto de Congonhas devido à ameaça de bomba?

Por que o mais refinado shopping center de São Paulo, reduto dos endinheirados, teve de ser fechado às pressas?

Por que os cidadãos tiveram de ficar sem ônibus para voltarem a suas casas?

Se o governador afirmou em rede nacional que tudo estava sob controle, o que veio fazer em São Paulo o ministro da Justiça?

Por que São Paulo não aceitou uma intervenção federal?

Por que surgiram boatos de que um acordo foi feito com os grandes lideres e o terror parou de um dia para o outro?

Como é possível as maiores avenidas da cidade estarem desertas às 21 horas?

Como uma facção criminosa se mostra muito mais organizada que o próprio governo?

É possível uma cidade de 15 milhões de habitantes se obrigar a aceitar um toque indireto de recolher e se submeter a passar por horas de incerteza e temor?

Se a ameaça era insignificante, como justificar a notícia ser veiculada nos maiores meios de comunicação da imprensa internacional?

Na terça-feira, o horror recomeça com uma notícia de que a Polícia supostamente teria matado a mãe do criminoso denominado Marcola e para quê?

A imprensa divulga que foram compradas informações sigilosas por R$200 sobre o crime organizado, e por quem? Pelo próprio crime organizado? Mas isso é possível?

A resposta da facção é uma rajada de 41 viaturas policiais destruídas por tiros e novas ameaças de destruição, mas a crise não tinha acabado?

A resposta é simples, até em demasia, e foi dita pela maior autoridade do estado: “porque está tudo sob controle”.

Autores

  • Brave

    é advogado, doutorando em Filosofia do Direito (PUC), mestre em Filosofia do Direito (PUC), especialista em Criminologia pelo Istituto Superiore Internazionale di Scienze Criminali, especialista em Direito Penal Econômico Europeu pela Universidade de Coimbra, pós-graduado em Direito Penal — Teoria dos Delitos (Universidade de Salamanca), pós-graduado em Direito Penal Econômico na Fundação Getúlio Vargas.

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