Violência no campus

Professores da USP condenam fechamento de prédio por grevistas

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30 de junho de 2006, 7h00

Os professores da ECA — Escola de Comunicações e Artes da USP divulgaram manifesto contra o fechamento do prédio principal da faculdade e da antiga Reitoria pelo Sintusp — Sindicato dos Trabalhadores da USP. Os funcionários estão em greve desde o dia 8 de junho e como os professores decidiram não aderir, resolveram trancar o prédio para impedir a entrada de professores e alunos.

“Esta decisão unilateral contraria o espírito coletivo que historicamente norteou a ação de professores, alunos e funcionários em defesa da universidade pública,” dizem os professores na nota. Segundo eles, “uma universidade pública de qualidade não será construída através do uso de medidas de força.”

Os funcionários das três universidades estaduais paulistas reivindicam 7% de reajuste salarial e mais verbas para a educação em São Paulo. Até agora, os reitores apenas ofereceram 0,75% de reajuste, aplicado sobre o salário de maio. Na nota, os professores dizem que apóiam as reivindicações dos funcionários, mas condenam as medidas de força.

Leia a íntegra do manifesto:

Manifesto à comunidade

Os docentes da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da Universidade de São Paulo manifestam seu repúdio à atitude arbitrária de fechamento do prédio principal da unidade e da Antiga Reitoria por parte do Sindicato dos Trabalhadores da USP (SINTUSP).

Devemos ressaltar que os docentes desta unidade são favoráveis às reivindicações apresentadas pelo Fórum das Seis, tanto no que diz respeito à obtenção de mais verbas para a educação quanto ao aumento dos índices de reajuste salarial propostos pelo Conselho de Reitores das Universidades Estaduais Paulistas (CRUESP). Tais reivindicações contribuem para a defesa de uma universidade pública de qualidade, luta que entendemos legítima e que também é a nossa.

Não nos encontramos em greve, seguindo as decisões tomadas nas Assembléias Gerais promovidas pela Associação de Docentes da USP (ADUSP) desde o início de junho. Nesta campanha, ao contrário do que ocorreu em anos anteriores, a greve não foi deflagrada por nossa categoria, optando-se por paralisações pontuais nos dias de negociação junto à Assembléia Legislativa e ao CRUESP.

No dia 8 de junho, porém, fomos surpreendidos com a decisão unilateral da Assembléia dos Funcionários da ECA, que deliberou por fechar o prédio principal da ECA e dependências do CTR localizadas no prédio da antiga reitoria. Medida de força isolada, devemos ressaltar, pois nenhuma unidade de ensino da USP se encontra neste momento impedida de dar continuidade ao semestre letivo.

Esta decisão unilateral contraria o espírito coletivo que historicamente norteou a ação de professores, alunos e funcionários em defesa da universidade pública.

Em primeiro lugar, por desconsiderar que o respeito à diferença constitui prática essencial de uma convivência democrática. Em segundo lugar, por interromper atividades essenciais que nunca foram paralisadas, tais como: o atendimento às demandas institucionais externas, exemplificado neste momento pela entrega do relatório CAPES, cujo trabalho de coleta de informações foi comprometido; a realização de concursos públicos para docentes, de exames de qualificação e defesas de mestrado e doutorado; o andamento de processos administrativos os mais variados referentes aos conselhos de graduação, pós-graduação, pesquisa, cultura e extensão; a continuidade dos trabalhos acadêmicos destinados à publicação e apresentação em congressos; por fim, mas não menos importante, impediu-se o direito de acesso às nossas salas de trabalho para tratar de compromissos acadêmicos.

Devemos ressaltar que desde o início nossa disposição foi a de dialogar, esforço constante que contou inclusive com mediação da ADUSP. Os resultados foram, no entanto, infrutíferos. Atitudes isoladas e arbitrárias desviam nossa atenção da pauta de reivindicações colocada pelo Fórum das Seis, em um dispêndio de energia e acirramento de ânimos que não interessam àqueles que lutam em defesa de mais verbas para educação. Uma universidade pública de qualidade não será construída através do uso de medidas de força.

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