Caso Santo André

Morte de Celso Daniel completa quatro anos sem solução

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18 de janeiro de 2006, 6h00

Nesta quarta-feira completam-se quatro anos do seqüestro e posterior assassinato do ex-prefeito de Santo André e dirigente proeminente do PT, Celso Daniel. O empresário Sérgio Gomes da Silva, o Sombra, foi denunciado pelo Ministério Público de São Paulo sob a acusação de ser o mandante do assassinato do ex-prefeito. Está solto. Dois supostos comparsas do crime morreram.

Por que Celso Daniel morreu? Quatro anos depois do fato, a pergunta continua sem resposta ou tem respostas divergentes.

A polícia sustenta uma versão clássica segundo a qual Celso Daniel foi vítima de um seqüestro comum seguido de morte. A mesma versão brota das hostes petistas, representadas no caso pelo deputado federal Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP).

O Ministério Público de São Paulo defende que Celso Daniel foi morto numa trama que envolve obscuros interesses políticos, caixa 2 de campanha eleitoral, e corrupção. Como prova de que não se tratou de um crime comum, acena um laudo que mostra sinais de tortura do ex-prefeito antes de sua morte.

Em entrevista à revista Consultor Jurídico, um dos promotores do caso, José Reinaldo Guimarães Carneiro, descreveu como ele vê o caso quatro anos depois. “Nós nos deparamos com um caso de corrupção muito grave que envolvia uma prefeitura municipal, diversas pessoas entre funcionários públicos e prestadores de serviços se aproximaram de um prefeito com uma convicção ideológico partidária, mas as pessoas que estavam do lado dele não tinham e nem comungavam dessa mesma ideologia porque a ideologia delas era o dinheiro”.

Os passos seguintes, diz o promotor, culminaram no assassinato. “Daí para os crimes que se seguiram foi um passo muito rápido. A investigação que está em juízo hoje mostrou isso com absoluta segurança. Não foi crime político em sua concepção real, jurídica, foi um crime de dinheiro, um homicídio de mando e não aquele crime casual que tem início no primeiro credo da polícia. A prova que está hoje submetida ao Poder Judiciário resultou da investigação criteriosa do MP e é aquela sobre a qual o Judiciário no devido tempo vai se pronunciar. Eu tenho absoluta convicção que essa pronúncia será condenando aquelas pessoas pela morte do prefeito.”

Segundo José Reinaldo, “o caso se desdobrou em vários processos: temos lances de corrupção, que são quatro processos que tramitam em Santo André; e temos o caso da morte que é capitaneado pelo Sérgio Gomes da Silva. Todos os casos, contra os quais já se impetraram diversos Habeas Corpus, hoje estão com as datas marcadas para produção da prova de acusação. Nós acreditamos que 2006 é um ano em que as provas vão evoluir e os processos vão ter um andamento bastante rápido. Atrapalha muito o MP que a cada lance da investigação, que é bastante complexa, os promotores sejam acusados de manipulação de prova com fins políticos.”

Para o promotor, “Celso Daniel foi assassinado porque tomou pé de um esquema de corrupção cravado dentro de sua própria prefeitura, que já não tinha o objetivo eleitoral, político, que ele acreditava que era o primeiro objetivo e por conta disso, quando tentou conter aquela corja de pessoas que se vinculou a ele na prefeitura, isso custou a vida dele. Tenho a absoluta convicção que o TJ vai se pronunciar condenando Sérgio Gomes da Silva e as demais pessoas da favela Pantanal”.

CPI e laudo

Em novembro do ano passado o Ministério Público e os senadores Magno Malta, Romeu Tuma e Eduardo Suplicy, todos membros da CPI dos Bingos, ouviram depoimento de uma líder comunitária que aponta o empresário Sérgio Gomes da Silva, o Sombra, como mandante do seqüestro do ex-prefeito de Santo André, Celso Daniel.

De acordo com a testemunha, Sérgio Gomes da Silva conseguiu R$ 1,5 milhão para a campanha eleitoral do PT em 2000. O dinheiro foi “doado” por um traficante e em troca, o prefeito, se comprometeu com a legalização do transporte de lotação. O crime, na versão dessa testemunha, foi motivado pelo não cumprimento do acordo.

O traficante teria exigido o dinheiro de volta e o empresário resolveu seqüestrar o prefeito e pedir resgate de R$ 3 milhões. No entanto, no momento do seqüestro, Celso Daniel teria reconhecido um dos seqüestradores que, na versão da testemunha, trabalhava para Sérgio Gomes da Silva.

Dois personagens citados pela testemunha já morreram: o informante que teria repassado a ela essa versão e o seqüestrador reconhecido pelo prefeito.

O seqüestro teve a participação de Dionízio Severo a pedido de Sérgio Gomes da Silva. Dionísio foi resgatado de helicóptero de um presídio em Guarulhos na véspera do seqüestro. Depois foi recapturado e, mais tarde, morto em um centro de detenção.

Em abril de 2003, Dionísio Severo foi assassinado após ter dito que conhecia bem o Sombra e sua mulher Adriana Pugliese. Esta declaração foi fundamental para o MP, que via em Severo uma ligação entre Sombra e a quadrilha que seqüestrou e matou Celso Daniel, composta por Ivan Rodrigues (Monstro), José Edison, Itamar Messias, Rodolfo Oliveira (Bozinho), Elcyd Brito (John), Marcos Bispo e José Erivam.

Nesta semana, em laudo complementar sobre as circunstâncias da morte do prefeito de Santo André, Celso Daniel (PT), o médico-legista Paulo Vasques sustentou que o petista foi brutalmente torturado antes de ser morto.

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