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Juiz e senador trocam acusações na CPI dos Bingos

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16 de fevereiro de 2006, 20h42

Durante a sessão da CPI dos Bingos nesta quinta-feira (16/2), o juiz de Cuiabá, Julier Sebastião da Silva, e o senador Antero Paes de Barros (MT) discutiram por mais de três horas sobre a existência de um suposto caixa dois do PSDB em Mato Grosso. As informações são de Gustavo Noblat, repórter do Blog do Noblat.

Leia a íntegra da notícia

A temperatura subiu a um nível quase insuportável na sessão da CPI dos Bingos que acabou há pouco.

O juiz de Cuiabá, Julier Sebastião da Silva, e o senador Antero Paes de Barros (MT) discutiram por mais de três horas sobre a existência de um suposto caixa dois do PSDB em Mato Grosso.

Segundo Julier, entre 1995 e 2003, o PSDB recebeu dinheiro não contabilizado do bicheiro José Arcanjo Ribeiro, o Comendador, e o usou para campanhas de deputados federais, estaduais e de Antero ao governo do estado.

Nesse período, segundo Julier, a Assembléia Legislativa depositou mais de R$ 80 milhões nas contas de empresas de Arcanjo — que, segundo ele, “é o líder de uma máfia com ramificações na política.”

Julier lembrou que a Polícia Federal identificou 84 cheques num valor total de R$ 240 mil da Vip Factoring, empresa de Arcanjo, para o comitê de campanha do PSDB. A factoring servia como uma espécie de banco e fazia empréstimos, ferindo a lei.

Julier disse ainda que o irmão do ex-governador do Mato Grosso, Dante e Oliveira, trabalhou para Arcanjo.

Segundo ele, o Banco Central identificou um deposito de R$ 2 milhões de empresas do bicheiro para a gráfica de João Dorielo Leal, que prestou serviços à campanha do PSDB em 2002. Citou anda o depoimento à Justiça do ex-contador de Arcanjo em que ele revelou um depósito R$ 5,7 milhões do bicheiro para a campanha de Antero.

E, por fim, revelou que entrou na Justiça em 2005 com uma ação contra Antero depois de receber do deputado federal José Mentor (PT-SP) um relatório sobre as investigações da CPI do Banestado.

Segundo Mentor, Antero, que era presidente da CPI, fez tudo para obstruir as investigações da CPI quando elas se aproximaram de Arcanjo.

Indignado com as acusações, o senador do PSDB chamou Julier de mentiroso e acusou-o de “estar na CPI a serviço do PT” apenas para desmoralizá-lo.

“É um lixo! Um lixo de um bandido que é o José Mentor, um gângster! Os ladrões têm de me respeitar. Ladrões de minha honra! Não me venha com esse papo de crime organizado para cima de mim. Crime organizado é com o PT.”

Antero disse ser vítima de perseguição política do PT por ter denunciado, entre outras coisas, a história do Paulo Okamotto, presidente o Sebrae, que pagou dívidas de Lula junto ao partido.

O senador tentou desqualificar o juiz. Disse que ele pratica nepotismo ao contratar o próprio irmão, perito, para serviços no estado. Contou que Julier foi responsável pelas obras do Tribunal de Justiça de Mato Grosso. E que no fim da obra foi publicado um livro sobre o tribunal que só serviu mesmo para promover o juiz — a publicação trouxe 13 fotos dele.

Ainda no ataque, Antero lembrou que Julier testemunhou a favor de Alexandre César, candidato do PT ao governo de Mato Grosso em 2002, processado por atropelar e matar um aposentado.

Antero fez questão de ligar Alexandre ao juiz. Ele lembrou que os dois são amigos desde os tempos de faculdade e que a implicância de Julier com ele por pouco não serviu para eleger Alexandre.

O senador garantiu que todos os fatos levantados pelo juiz estão explicados na contabilidade oficial do PSDB.

Sobre a transferência de recursos da empresa de Arcanjo para o partido, Antero disse que tudo foi legal. Lembrou que o PSDB organizou um jantar em que foram arrecadados mais de R$ 700 mil. Esse dinheiro, segundo senador, foi recebido pela factoring de Arcanjo que o repassou ao PSDB.

Por último, Antero disse que tentou enviar uma carta a Arcanjo, que estava preso no Uruguai, com perguntas feitas pela CPI do Banestado — mas que Mentor boicotou a iniciativa dele. Contentou-se com um simples depoimento do bicheiro.

O senador Efraim Morais (PFL-PB), presidente da CPI, apressou o fim da sessão.

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