Protocolo de Kyoto

A sociedade deve fazer um pacto pelo bem do planeta

Autor

  • Laís Bacilla

    é assistente social pós-graduada em Marketing com especialização em Marketing Social. É também presidente da ONG Ifas — Instituto de Fomento Ambiental e Social e consultora em projetos MDL.

6 de fevereiro de 2006, 14h10

Nos últimos dois anos, estamos vivenciando uma verdadeira mudança no clima do planeta. São verões sem medida, invernos com recordes de frio, ondas gigantes levando as costas e até blocos de gelo do tamanho de continentes desprendendo-se de grande geleiras. Vemos os piores números na agricultura e na pecuária, são secas e chuvas demais. Todos estes fenômenos são facilmente percebidos. Afinal o que está acontecendo o planeta?

O Protocolo de Kyoto, oficializado em 1997 pelos países signatários, começou a nos mostrar essa triste realidade: o planeta está mudando. Geramos gases (em especial o C02) em quantidade para mudar a ordem natural de nossa atmosfera, resultando nesse fenomenal processo de aquecimento.

Como seres viventes deste planeta, também estamos mudando. Afinal, fazer parte deste mundo é sentir e perceber as mudanças que nele acontecem e ir se moldando, transfigurando, segundo o meio em que vivemos, para nele sobreviver.

Além disso, estamos intervindo na ordem natural das coisas. O resultando é o nosso desequilíbrio e descompasso com o ritmo da natureza. Talvez por isso estamos vivenciando inúmeros casos de doenças endêmicas, como HIV e o stress, matando cada vez mais nossos semelhantes.

Infelizmente, esse processo de desarticulação e desentrosamento também está sendo constatado dentro dos próprios projetos de MDL — Mecanismos de Desenvolvimento Limpo, que deveriam atuar como uma busca às soluções.

Começando com o primeiro setor, o público (entenda-se, principalmente, prefeituras, secretarias e seus funcionários despreparados e desatualizados), que deveria agir como organismo de fiscalização, mas que ainda não entende seu papel nos projetos de MDL. O Ministério Público e os organismos fiscalizadores estaduais e federais seguem a mesma tendência.

Quanto ao segundo setor (empresas e indústrias), revela-se o mais interessado e é, com certeza, o mais beneficiado com os projetos de MDL. Porém, a meu ver, ainda está carente de orientação e visão das potencialidades desse mercado. Portanto, abre-se aí um grande espaço às consultorias e consultores de mercado.

Finalmente, o terceiro setor que, embora atue em projetos sócio-ambientais, encontra-se desinformado e desaparelhado para fazer a diferença nos trabalhos.

Objetivos distorcidos

Durante o último ano, estive participando de vários projetos MDL e percebo que nosso mercado interno está só desabrochando para este novo capítulo da história da humanidade.

Como simples observadora, constatei, em diversos projetos, que a procura pelos royalties torna-se o alvo principal e os recursos auferidos pela venda são, na verdade, a única preocupação em todo o processo.

O mercado financeiro é, sem dúvida, muito atraente e promissor para cada Cope (as partes do acordo internacional do Protocolo de Kyoto), mas tenho insistido para que os parceiros tenham outra visão, mais global e ampla. Precisamos nos focar nos reais objetivos e introduzir parcerias com outros segmentos da sociedade.

Os lucros gerados pelas vendas dos créditos devem e podem ser bem empregados e isso acontece quando realizamos boas parcerias, onde todos estejam ganhando, de forma direta ou indireta.

O processo atual, pouco articulado, vem sendo criticado pelos nossos “primos ricos” (do hemisfério norte), quando em visita aos “primos pobres” (hemisfério sul), e está nos levando a perder oportunidades únicas, como, por exemplo, a introdução de programas de educação ambiental nas comunidades.

Como consultora, sinto o descaso com as agendas 21 locais, que são aqueles cidadãos ávidos de participação, mas com poucos recursos para ações ou campanhas de engajamento nas comunidades. Por quê? Não seria este um grande momento para que os três setores da sociedade fizessem, afinal, um verdadeiro pacto social pelo bem comum do planeta?

Mesmo porque nosso lar vem apresentado sinais de extremo esgotamento. Não seria o caso de uma mudança radical em nossa conduta, já que, caso alguns hábitos persistam, estaremos fadados à nossa própria destruição?

É neste sentido que este artigo vem reivindicar uma visão mais ampla do Protocolo de Kyoto. Não apenas aquela mercantilista, mas a de uma excelente oportunidade de nós todos desta sociedade brasileira podermos nos confraternizar e ajudar. Com lucros para todos, sim, mas dentro de um espírito de união por um bem maior: a saúde de nosso planeta!

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    é assistente social, pós-graduada em Marketing, com especialização em Marketing Social. É também presidente da ONG Ifas — Instituto de Fomento Ambiental e Social e consultora em projetos MDL.

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