Fundo social

Governo dá subsídio e trabalhador é quem paga o pato

Autor

  • Luiz Roberto Kallas

    é consultor e professor nas áreas de Planejamento Estratégico Tecnologia da Informação e Mercado Financeiro no Brasil Estados Unidos Oriente Médio Uruguai e outros países. Foi professor em cursos de graduação e pós-graduação em Direito na Unip.

17 de dezembro de 2006, 9h59

Em fevereiro deste ano publiquei um artigo na revista Consultor Jurídico sobre a administração do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço. Foi reproduzido por inúmeros sites na Internet, de norte a sul do país. Um promotor federal comentou que o caso era de puro estelionato. Outro mais crítico dizia que eu não sabia fazer contas. Ainda hoje recebo críticas e apoios pelo que relatei. A lógica é a seguinte:

Se os fundos sociais como FGTS, Pis e Paseb fossem administrados no interesse dos trabalhadores, não somente eles estariam hoje numa situação muito melhor, como também o Brasil. Ressaltei ainda que o maior líder sindical do país, hoje o nosso presidente Lula, deixou de defender o interesse dos trabalhadores em assunto de primordial importância.

Em recente declaração do ministro da Fazenda Guido Mantega percebe-se de novo o aprofundamento do calote: O governo não tem recursos para financiar a construção de casas para as famílias de baixa renda. Na sua falta, apela mais uma vez para o pobre do trabalhador. O dinheiro que nós temos no FGTS poderá ser utilizado para esse financiamento, o que é justo. Porém, os juros subsidiados dos empréstimos serão arcados pelos próprios trabalhadores que estão emprestando o dinheiro. Isto não é justo.

O governo dá o subsídio e é o trabalhador que paga o pato, ao oferecer os recursos a uma taxa de juros que não possibilita a eqüitativa correção de seus fundos. Creio que todos nós devemos nos posicionar criando um movimento contra mais essa espoliação. Se for para subsidiar os mais pobres, que se retire o dinheiro do orçamento do tesouro e não do trabalhador. Dessa forma, todos nós brasileiros pagaremos pelo subsídio em condições eqüitativas. Podem alegar, no entanto, que o tesouro nacional não tem dinheiro para subsidiar os empréstimos. É fato. Todavia, a falta de recursos é provocada pela incapacidade do governo em encontrar os caminhos para o desenvolvimento nacional e mais uma vez escolhem uma classe para pagar o pato. O governo, eleito com mais de 60% dos votos, está deduzindo que só nós, que já fomos trabalhadores no passado, temos a força para impor mais essa arbitrariedade sem provocar comoção.

Em diversas oportunidades em meus artigos, afirmei que se encolhêssemos ações corretas, nos próximos 20 anos o país seria outro: mais justo, mais produtivo e mais rico. Para isso precisaríamos encontrar uma fórmula que possibilitasse a criação de um sistema de poupança para o desenvolvimento. Essa fórmula já existe com o FGTS, Pis e Paseb que, desde sua criação vêm sendo administrados no interesse dos poderosos e dos políticos demagogos, que destroem totalmente nossa capacidade de investir no futuro. O Ipea, órgão do próprio governo, afirma que só por volta do ano 2020 o país voltará a crescer como deve e como precisamos.

Essa é a conseqüência do nosso voto. Ninguém questiona o direito de um povo escolher seus dirigentes. O que eu evidencio é que a história se repete por nossa culpa. No futuro, quando percebermos o erro, poderíamos dizer que o presidente da república foi um enganador, o que não seria verdade pois ele acredita que está correto. Entre ele acreditar e ser verdade é outra história.

Segundo a classificação de Karl Albrecht, podemos afirmar que Lula tem uma brilhante inteligência social por meio de sua capacidade de comunicação que, tal qual Hitler sabe convencer a quase todos. Todavia falta-lhe e a seus assessores inteligência, cognitiva, abstrata para descobrir modelos para o país. Uma verdade é insofismável: ou criamos um sistema de poupança nacional, como poderiam ser os fundos sociais, ou as trombadas econômicas aumentarão a cada dia. Quando acordarmos, de novo será tarde e como poderia repetir o amigo do presidente e compositor Chico Buarque “o tempo passou na janela e só Carolina não viu.” Somos as Carolinas.

Autores

Tags:

Encontrou um erro? Avise nossa equipe!