Rambo II, a missão

Saulo de Castro cancela entrevista e agita campanha eleitoral

Autor

11 de agosto de 2006, 20h14

O secretário de Segurança Pública de São Paulo, Saulo de Castro, anunciou nesta sexta-feira (11/8) o cancelamento de sua participação no programa Roda Viva da TV Cultura. Em outro canal, a TV Bandeirantes anunciou que dedicará o próximo Canal Livre, no dia 21, a um direito de resposta em favor do Partido dos Trabalhadores. No programa desta semana, Saulo atribuiu ao PT os atentados e ataques tidos como da facção criminosa denominada PCC.

Os dois anúncios têm em sua raiz o traço mais marcante do secretário: a sua impressionante ousadia. No programa da Bandeirantes, logo no primeiro bloco, ele quis tirar de cena o advogado especialista em Direitos Humanos, Oscar Vilhena. A emissora manteve Vilhena no ar, mas Saulo não deu espaço para que o advogado pudesse se manifestar. O secretário chegou a mandar o advogado “buscar sua turma”, acrescentando o comentário de que os defensores dos direitos humanos “falam muito, mas saem daqui e vão tomar cerveja, enquanto eu saio e vou combater bandidos”. Os entrevistadores, por sua vez, saíram dali todos com a mesma impressão: a coragem física de Saulo é impreessionante.

A TV Cultura não anunciou o motivo do cancelamento do programa. Chegou-se a cogitar de que o secretário não gostou da escalação dos entrevistadores. A assessoria de imprensa da Secretaria de Segurança negou a possibilidade com veemência. Mas não informou qual novo compromisso o fez desistir da entrevista.

A vigorosa atuação de Saulo no Canal Livre seguida da desistência do programa da TV Cultura remeteu a outras atitudes do secretário, como a ordem de prisão ao dono de um restaurante paulistano que gerou uma queixa-crime contra ele por abuso de autoridade.

Enquanto o Tribunal de Justiça paulista discutia se aceitava ou não a propositura de ação penal por parte do Ministério Público, em depoimento na Assembléia Legislativa, contrariado com a pressão de deputado oposicionista, Saulo teria tapado o microfone e dirigido sonoro palavrão ao parlamentar.

A coragem cinematográfica de Saulo, que é oriundo do Ministério Público, rende-lhe a admiração ou, ao menos, a inquietação de quem constata que São Paulo tem um secretário valente e destemido em uma cadeira especialmente perigosa. Mas gera também desafetos. É o caso de um juiz cujo filho foi arrolado junto a um grupo de rapazes que teria praticado um furto na casa do secretário em Aldeia da Serra — área residencial requintada de São Paulo. Atribui-se ao juiz ressentimento e revolta pela forma como se procederam as investigações policiais, por envolver a casa do secretário de Segurança do estado.

A audácia de Saulo parece ilimitada. Seus desafetos o chamam de “Erasmão tucano”, numa jocosa remissão a outro secretário de Segurança, o coronel Erasmo Dias, que fez fama no mesmo cargo durante o regime militar. Depois de se ver pressionado pelo Ministério Público — que insistiu na reabertura do “Caso da Castelinho” (quando um ônibus lotado de criminosos foi crivado de balas e seus ocupantes todos mortos) e denunciou-o por abuso de autoridade, mais recentemente — ele reagiu à altura. E trabalhou abertamente pela candidatura de Carlos Henrique Mundi, contra a postulação do atual procurador-geral de Justiça, Rodrigo Pinho. Mundi tornou-se conhecido pela veemente defesa que fez da invasão do Carandiru, no governo Fleury.

A coleção de episódios o coloca como um alvo fácil para “a turma dos direitos humanos”, como ele chama seus críticos. Mas uma coisa é certa: alinhado com a maior parcela da população — em especial com a “elite branca” do governador Cláudio Lembo — isso ele está.

Tags:

Encontrou um erro? Avise nossa equipe!