Idéias livres

Onze de Agosto comemora espaço para debates criado em 1930

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11 de agosto de 2006, 13h30

Um espaço para o livre debate de idéias e para marcar posição contra as proibições de manifestações públicas ou de caráter político. Com esse objetivo nasceu, em 11 de agosto de 1930, o Território Livre do Largo de São Francisco, numa reunião de estudantes de Direito do Centro Acadêmico Onze de Agosto.

Para comemorar instalação do território há 76 anos, será descerrada uma placa comemorativa, no hall principal do prédio da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, nesta sexta-feira (11/8), às 18h15.

A proposta de criação do território livre foi feita pelo então estudante de Direito Adriano Marrey e aprovada em assembléia do centro acadêmico. Surgiu às vésperas da Revolução de 30, numa mobilização contra a fraude eleitoral e da corrupção que marcava a Velha República. Um movimento pela moralização de costumes.

O espaço teve grande importância durante os anos de chumbo, quando foi ponto de reunião do movimento estudantil — único setor da sociedade realmente mobilizado contra a ditadura.

Criador intelectual do território livre, o estudante Adriano Marrey, mais tarde, foi conselheiro da seccional paulista da OAB, um dos primeiros integrantes do Tribunal de Alçada Criminal e desembargador do Tribunal de Justiça de São Paulo de 1961 a 1980. Também presidiu o Tribunal Regional Eleitoral e foi corregedor-geral de Justiça.

Eduardo César Marchi, que está deixando a diretoria da faculdade de Direito da USP, foi quem tomou a iniciativa de marcar a data com uma placa. A idéia foi prontamente acatada pelo diretor João Grandino Rodas, que toma posse do cargo nesta sexta-feira.

Estarão presentes ao evento o governador de São Paulo, Cláudio Lembo, o filho de Adriano Marrey, o secretário de Negócios Jurídicos da Prefeitura paulistana Luiz Antonio Guimarães Marrey, entre outras autoridades.

Leia o texto da Folha da Manhã sobre a assembléia, publicado em 12 de agosto de 1930

O Centro Acadêmico “Onze de Agosto” e o Conflicto do Largo de S. Francisco

Na tarde de hontem, os estudantes de direito convocaram, por intermédio do Centro Acadêmico “Onze de Agosto”, uma reunião, discutindo os acontecimentos de quinta-feira última afim de firmar a atitude que deveriam tomar em face das determinações da polícia, prohibitivas de qualquer manifestação pública, de caracter político.

Compareceram, como esperavam todos, muitos estudantes, tendo a reunião decorrido em grande ordem e tranqüilidade. Presidiu-a o acadêmico Edgard Pereira Barreto auxiliado pelos secretários Paulo Mazagão e Plínio de Oliveira Rezende.

Lidos varios telegrammas recebidos, o presidente tomou conhecimento da offerta feita pelo estudante José Dias de Menezes, de um retrato de João Pessoa ao Centro Acadêmico “Onze de Agosto”, bem como do requerimento apresentado pelo sr. Damaso Machado, solicitando a sua reintegração no seio dessa entidade acadêmica.

Iniciando, então, a reunião, o presidente Edgard Pereira Barreto expoz o fim único da assembléia convocada, aconselhando aos collegas muita calma e prudência, não admittindo que elementos extranhos se ponham de permeio, desvirtuando as intenções dos estudantes.

Dada a palavra ao acadêmico João B. de Arrudi Sampaio, passou este a ler o relatório dos acontecimentos do largo de S. Francisco, historiando a gênesis e o desenrolar delles todos, fazendo sempre salientar attitude dos estudantes em opposição á policia.

Vários requerimentos apuraram a parte final da sessão, entre os quaes um do sr. Paulo Mazagão, propondo um voto de pesar, na nota, pela morte do soldado João Villela. Outro do sr. Paulo Lauro, alvitrando que se mudasse uma comissão de acadêmicos visitar o collega Antonino Grassi, ferido no conflicto do dia 7. Um outro ainda assignado pelo sr. Paulo Salles lembrando a opportunidade de publicar o “Centro Acadêmico Onze de Agosto” um agradecimento ao povo e à imprensa, pela abtitude assumiria, nesses lamentáveis sucessos.

O sr. Adriano Marrey Junior afim de que não faltasse a reunião o sello do humorismo acadêmico, leu entre risos e jocosidades a proposta de se acclamar estado livre o largo de São Francisco, elegendo para seu presidente honorário o Sr. José Pereira.

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