Mudança de quadro

Delegado paulista não vai a Brasília para indiciar Palocci

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25 de abril de 2006, 20h30

O ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci vai depor nesta quinta-feira (27/4) em Brasília, em investigação sobre o suposto recebimento de propina de R$ 50 mil mensais da empresa Leão Leão, de Ribeirão Preto.

O depoimento vai ocorrer na Polinter (Polícia Interestadual), em Brasília. Palocci vai ser indiciado pelos crimes de peculato (funcionário público que se apropria de dinheiro em função do cargo que ocupa ou de bem público), falsidade ideológica e formação de quadrilha.

Nesta terça-feira (25/4), ocorreram mudanças significativas na coreografia do depoimento. O delegado seccional de Ribeirão Preto, Benedito Antonio Valencise, que ouviria Palocci, não vai mais se deslocar a Brasília, como estava acertado. O depoimento ocorre agora sob emissão de carta precatória, a ser cumprida por policiais civis de Brasília.

Telefonema disparado ao delegado Benedito Antonio Valencise por um cacique da Polícia Civil de São Paulo sinalizou que “nunca” na história da Polícia Civil do Estado de São Paulo uma equipe havia se deslocado para tão longe em cumprimento de oitiva em local escolhido pelo depoente, mesmo sendo ele ex-ministro de Estado.

Na Polícia Civil de São Paulo essa mudança de ritual teve duas leituras: a primeira dá conta de que ir a Brasília especialmente para se ouvir um ex-ministro seria dar muita importância a um caso já tido com “esclarecido”. A outra versão sinaliza que a ida especial a Brasília poderia ser considerada “persecutória demais”, ensejando ser explorada pela imprensa com ares de “perseguição implacável”.

Até agora a única indiciada nas investigações sobre um suposto esquema de propina na coleta de lixo da prefeitura de Ribeirão Preto é a engenheira Luciana Muscelli Alecrim, ex-diretora técnica do Daerp — Departamento de Água e Esgotos de Ribeirão Preto.

A acusação de que Palocci recebia propina partiu do ex-assessor do petista na prefeitura de Ribeirão Preto, o advogado Rogério Buratti. Em depoimentos, Buratti afirmou que o ex-secretário de Fazenda de Palocci em Ribeirão Preto, Ralf Barquete, morto em 2004, entregava mensalmente ao então tesoureiro do PT, Delúbio Soares, R$ 50 mil. As entregas, segundo Buratti, foram feitas durante o ano de 2001 e 2002, período em que Palocci era o prefeito da cidade.

A aproximação entre Buratti e Palocci começou em 1992, quando Buratti captou recursos para a campanha à prefeitura da cidade do interior paulista. Com a vitória de Palocci, Buratti se tornou seu homem-forte. Passados dois anos, deixou o cargo com o vazamento de gravação em que negociava a distribuição fraudulenta de obras com empreiteira.

Anos depois, Buratti assumiu um cargo administrativo na maior empreiteira da região de Ribeirão, a Leão Leão. Chegou a vice-presidente do grupo, onde ficou até 2004. Saiu de kpa, atirando em Palocci.

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