Jogo do Grampo

Promotor da Cidadania não acredita que tenha sido grampeado

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6 de setembro de 2005, 12h27

O promotor de Justiça da Cidadania Silvio Marques afirmou que não acredita que o ex-prefeito Paulo Maluf (PP) tenha obtido grampos telefônicos contra ele. A versão de Maluf é de que o advogado Jorge Serpa teria intermediado o seu encontro com o empresário José Carlos Kalil, que teria oferecido as gravações das conversas de Marques. Serpa nega qualquer envolvimento no episódio.

O material incluiria uma conversa do promotor com o ex-presidente da Câmara Municipal de São Paulo Armando Mellão, em que ele oferece benefícios da delação premiada ao parlamentar em troca de informações que comprometeriam Maluf. O ex-vereador chegou a ficar preso, acusado de tentar extorquir a família do ex-secretário de Obras Reynaldo de Barros, seu padrinho político. Na época, Mellão se oferecia para retirar o nome do secretário malufista do relatório final da CPMI do Banestado, que investigou remessas ilegais de dinheiro para o exterior.

No ano passado, Mellão entregou aos promotores uma fita em que negocia com o ex-vereador Brasil Vita (PP) o pagamento de um suborno para retirar as acusações que fez contra o ex-prefeito. Na conversa, Vita propõe que o ex-colega receba R$ 200 mil para dizer que fez as denúncias contra Maluf para beneficiar o hoje prefeito de São Paulo, José Serra (PSDB), nas eleições municipais.

Além da conversa de Marques com Mellão, Maluf teria também uma conversa do promotor que o investiga com uma mulher que identifica como “Senhora X”. Ela se apresentou ao promotor e a um jornalista como assessora do governador Geraldo Alckmin (PSDB) e conversou com ambos sobre as investigações.

Ao jornalista, ela fala sobre um suposto pedido de prisão contra Maluf e seu filho Flávio, que os procuradores da República iriam apresentar durante as férias da juíza Sílvia Maria Rocha, da 2ª Vara Criminal Federal. Esta seria uma estratégia para garantir que outro juiz analisasse o pedido, uma vez que a juíza já rejeitou em outro momento a determinar prisão do ex-prefeito.

A “senhora X”, na conversa com Marques, se oferece para ajudar o Ministério Público nas investigações. Ela cita a tentativa dos promotores de ouvir Edgar Leite, ex-secretário municipal da gestão Maluf, que poderia trazer novas denúncias contra o ex-prefeito. A interlocutora fala de um suposto interesse do governador em ajudar as investigações, uma tese na qual Maluf sempre insistiu.

Marques não acredita que tenha sido vítima de grampo telefônico. Para o promotor, Mellão pode ter gravado a conversa de ambos. “Jamais neguei que conversei com ele para que colaborasse com as investigações, a imprensa inclusive acompanhou conversas que ele teve conosco aqui na Promotoria. Estou tranqüilo porque sempre agi dentro da lei”, destacou.

O promotor confirmou também que teve com a “Senhora X” a conversa que foi reproduzida na sexta-feira (2/9) pela revista Consultor Jurídico. Diferentemente da versão de Maluf, Marques garante que a conversa foi pessoal, no prédio da Promotoria. “Desconfiei daquela mulher e também gravei a conversa. Por uma falha da portaria do prédio, não consegui a identificação dela”, explicou.

Segundo Marques, a primeira pessoa a oferecer a ele o depoimento de Leite foi Mellão. Na conversa com “Senhora X”, o promotor chegou a pedir a ela que o entregasse um cartão, mas ela não o entregou. Maluf teve suas conversas gravadas com autorização judicial. As informações serviram de base para um pedido de prisão feito pela Polícia Federal contra o ex-prefeito.

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