Grito do silêncio

Manifesto contra corrupção reúne 40 entidades em São Paulo

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6 de setembro de 2005, 20h04

Entidades da sociedade civil e muitos manifestantes não se intimidaram com a chuva na manhã dessa terça-feira (6/9) na cidade de São Paulo. Cerca de 10 mil pessoas se concentraram na Praça da Sé com narizes de palhaço, bandeiras e faixas de diversos partidos e sindicatos.

O evento foi idealizado após as recentes denúncias de corrupção contra parlamentares e membros do governo. “Essa foi a primeira manifestação da sociedade civil. E quem achava que ia ser apenas uma ‘passeatazinha’ se surpreendeu”, disse Paulo Pereira da Silva, presidente da Força Sindical.

Em frente ao Teatro Municipal, o presidente da seccional da OAB em São Paulo, Luiz Flávio Borges D´Urso leu um documento formulado pelas mais de 40 entidades participantes da manifestação. Intitulado “O grito do silêncio: queremos a verdade!” será distribuído aos parlamentares na próxima semana. O documento criticou a paralisação do governo e o andamento das apurações por parte das três CPIs em andamento, considerando-as “lentas e confusas, com risco de punições brandas”.

Ao final, cobrou: “A Nação exige transparência e ética na política e nas relações do Estado com a sociedade civil. Exige desenvolvimento e emprego. Exige Justiça Social. Nossa manifestação hoje, na véspera do Dia da Independência, se expressa por um indignado silêncio. O silêncio da vergonha”. O Hino Nacional foi ouvido para finalizar a manifestação.

Em relação à repercussão do movimento, o presidente da APMP —Associação Paulista do Ministério Público, o procurador de justiça João Antonio Garreta Prats, acredita que a manifestação “além de demonstrar indignação perante os escândalos em Brasília, mostrou claramente que a acomodação pretendida no Congresso não será aceita pela sociedade”.

Leia a íntegra do Manifesto:

O GRITO DO SILÊNCIO: QUEREMOS A VERDADE!

O país assiste hoje, estarrecido, à maior crise política de sua história. A cada dia surgem denúncias de graves casos de corrupção no Governo Federal e no Congresso Nacional.

No mesmo ritmo, crescem as suspeitas de que partidos políticos saquearam os cofres públicos, em nome dos governos Federal e municipais, para comprar apoio de políticos e partidos, seja para troca de siglas, votações no Congresso, ou financiamento ilegal de campanhas eleitorais.

O andamento das apurações de três Comissões Parlamentares de Inquérito é lento e confuso, com risco de punições brandas. É inaceitável que membros do Governo e do Legislativo se esforcem para prejudicar as investigações e assim livrar os principais acusados das merecidas punições.

Não faltam denúncias, confissões e documentos para fundamentar inquéritos, processos, julgamentos e punições. Por isso a sociedade brasileira espera das CPIs, do plenário da Câmara dos Deputados, do Ministério Público e da Polícia Federal, que todos os crimes sejam desvendados e os criminosos processados e punidos com rigor, nos termos da lei.

O governo está paralisado há quase quatro meses. O Congresso também. Portanto, mais cedo ou mais tarde a economia será afetada. O Orçamento da União não é executado, interrompendo os benefícios dos programas sociais à população mais necessitada.

Precisamos de um projeto de Nação e não de tomada e aparelhamento do poder. O país espera o cumprimento de fato de um programa de governo, alterando com segurança a política econômica. Não há outro meio de reduzir os juros, renegociar a dívida pública sem desrespeitar contratos, e executar o Orçamento da União com responsabilidade fiscal.

Exausta de promessas não cumpridas, a Nação exige transparência e ética na política e nas relações do Estado com a sociedade civil. Exige desenvolvimento e emprego. Exige Justiça Social. Nossa manifestação hoje, na véspera do Dia da Independência, se expressa por um indignado silêncio. O silêncio da vergonha.

São Paulo, 6 de setembro de 2005

Assinam este Manifesto, entidades de trabalhadores, empresários, comerciantes, profissionais liberais, magistrados, promotores, parlamentares, mulheres, estudantes etc.

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