Papel de polícia

MP não tem legitimidade para investigar juiz, diz TJ de Goiás

Autor

30 de novembro de 2005, 19h02

Não compete ao Ministério Público presidir investigação criminal. Com este entendimento, o Órgão Especial do Tribunal de Justiça de Goiás rejeitou denúncia oferecida contra o juiz Joseli Luiz Silva, da Comarca de Jussara, acusado pelo Ministério Público de concussão e prevaricação.

Na denúncia, o MP afirmava que Silva cobrava indevidamente multa para liberar veículos apreendidos. Ele ainda estaria impondo obstáculos à investigação para apurar sua responsabilidade penal.

O relator no TJ goiano, desembargador Arivaldo da Silva Chaves, lembrou que não é nova a disputa entre o MP e a Polícia Civil sobre a competência para investigar. Ele explicou que a Lei Orgânica do Ministério Público (Lei Complementar 75/93) deu ao MP, além da atribuição de instaurar o inquérito civil, o poder de requisitar a instauração do inquérito policial. Para ele, então, o Ministério Público não tem competência para instaurar e presidir inquérito.

Isonomia

De acordo com o desembargador Chaves, o inquérito civil público, quando conduzido pelo MP, “assume contornos de juízo de instrução, que além de não existir previsão legal, ofende princípios do direito constitucional como o devido processo legal, onde são assegurados o contraditório e a ampla defesa”. Ele ainda ressaltou que apenas o Órgão Especial está autorizado a apurar possível infração penal praticada por juiz.

Ao acompanhar o voto do relator, o corregedor-geral da Justiça, desembargador Paulo Teles, salientou que o juiz não foi ouvido para demonstrar sua posição sobre a questão. Ele afirmou que a Loman é clara quando prevê que supostos delitos cometidos por juízes devem ser julgados pelo Órgão Especial.

Leia a íntegra da ementa

“Denúncia. Inquérito Civil Público. Legitimidade do Ministério Público para Instaurar Inquérito Policial. Atribuição da Polícia Judiciária. 1 – Dentre as funções do Ministério público (CF-art. 129) não se encontra a de presidir investigação criminal, pois a Constituição Federal outorga ao Parquet a atribuição de promover inquérito civil e ação civil pública, para a proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e outros interesses (inciso III). 2 – Não havendo previsão legal para que o Órgão Ministerial promova e presida colheita de prova destinada a formação de sua “opinio delicti”, o exercício de tal atividade caracteriza exorbitância nas sua atribuição constitucionais, já que cabe à Polícia Judiciária investigar sobre a materialidade e autoria de infrações penais. 3 – Tratando-se de possível prática de crime, por parte do magistrado, caberá ao Tribunal ou a seu Órgão Especial, a que pertencer ou estiver subordinado o juiz de direito a instrução do processo para a apuração da infração criminal. 4 – Rejeita-se a denúncia, quando baseada em inquérito civil público, cuja colheita de provas foi presidida pelo promotor de justiça, sem obediência ao devido processo legal. Denúncia rejeitada”.

149-0/269

Tags:

Encontrou um erro? Avise nossa equipe!