Repasse federal

Governo precisa abrir os olhos para o endividamento dos municípios

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  • Robson Maia Lins

    é advogado consultor e parecerista na área tributária conselheiro da Câmara de Educação Superior do Conselho Nacional de Educação (CNE) membro do Conselho Superior de Direito da Federação do Comércio do Estado de São Paulo (Fecomércio-SP) membro do conselho consultivo do Instituto Potiguar de Direito Tributário (IPDT) professor dos programas de graduação e pós-graduação em Direito da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) professor do Mestrado do Instituto Brasileiro de Estudos Tributários (Ibet) professor Conferencista da Especialização do Ibet doutor em Direito Tributário na PUC-SP. mestre em Direito Tributário na PUC-SP e graduado pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).

9 de março de 2005, 15h11

Na semana iniciada em 7 de março, aconteceu em Brasília a oitava edição da Marcha em Defesa dos Municípios. O tema em discussão, nessa edição, foi “Federalismo: competências e fontes de financiamento para o fortalecimento do poder local”.

Dessa vez, a principal reivindicação dos prefeitos foi financeira. A maioria não está conseguindo equilibrar as contas municipais. Na prática, exige-se que a fatia de participação dos municípios no bolo tributário nacional volte aos níveis de 1991, ou seja, passe dos atuais 14,6% para cerca de 17,5%.

Os prefeitos estão cobrando do Governo Federal algumas promessas não cumpridas, como a realização da reforma tributária, que aumentaria os recursos repassados através do FPM (Fundo de Participação dos Municípios). Hoje, o FPM é composto por 22,5% da arrecadação do Imposto de Renda e do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados). Os prefeitos reivindicam 23,5%, o que, traduzido em números, significa um acréscimo de R$ 1,2 bilhão a R$ 1,5 bilhão nos repasses via FPM.

Todas essas reivindicações são acompanhadas de outro complicador. Ao corrigir em 10% a tabela do Imposto de Renda, através da Medida Provisória 232 (ainda à espera de aprovação), o governo vai perder arrecadação do IR e, por tabela, reduzir o montante do repasse para o FPM. E o que o governo pretende arrecadar, como compensação das perdas com o IR, elevando a Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) dos prestadores de serviços, não será repartido com os municípios.

Os prefeitos cobram também a regulamentação da exigência constitucional de as prefeituras ficarem com 100% do ITR (Imposto Territorial Rural). Hoje, apenas 50% do ITR fica com os municípios. E se preocupam ainda com um projeto de lei que está no Congresso e que ameaça uma conquista das prefeituras. Por esse projeto, seria reduzida a lista de serviços sujeitos à tributação pelo Imposto sobre Serviços (ISS), o único tributo genuinamente municipal ao lado do IPTU.

Embora o governo federal tenha criado, nos últimos anos, inúmeras ferramentas de arrecadação, através de reformas no sistema tributário brasileiro, não resta dúvida de que estas serviram apenas para reforçar o caixa da União, deixando de lado os municípios. O que foi feito até agora foi insuficiente para aliviar a situação alarmante das contas municipais.

As reivindicações dos prefeitos são justas, se analisarmos as responsabilidades, associadas à queda de receitas, que os governos federal e estaduais repassaram aos municípios, principalmente às pequenas cidades brasileiras. As prefeituras têm hoje entre suas atribuições a saúde, educação, transporte e uma série de outros serviços prestados à população. Mesmo assim, a maior parte do bolo tributário, cerca de 86%, ainda fica com os Estados e a União.

Enquanto a ‘pseudo’ reforma tributária realizada até agora no governo Lula aumentou a arrecadação dos tributos federais, os municípios brasileiros são muitas vezes obrigados a reduzir os tributos municipais (ISS) para estimular a permanência de empresas em sua base territorial e vêem suas dívidas crescer a cada dia. O repasse de recursos da Cide (Contribuição de Intervenção sobre o Domínio Econômico) é inexpressivo, não integra o FPM e o dinheiro deve obrigatoriamente ser aplicado em infra-estrutura de transporte.

Incluir no FPM apenas dois impostos, sendo que o montante do IPI muda sempre que o Governo Federal mexe nas alíquotas, é decretar a falência dos municípios. O FPM precisa ser ampliado, com a inclusão também das contribuições sociais (PIS, Cofins etc.) e outros tributos. Esta também é uma forma de colocar em prática a tão propalada justiça social para os cidadãos brasileiros.

É necessário que o governo abra os olhos para o endividamento dos municípios. As dificuldades são enormes e a falta de recursos é premente. Muitos já não têm como atender às necessidades básicas da população.

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