Combate à fraude

PF estuda novo modelo de concursos para dificultar fraudes

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28 de maio de 2005, 23h01

A descoberta de um grupo que fraudava concursos públicos em oito estados brasileiros, a partir da UnB – Universidade de Brasíla, fez sugir um novo modelo de prova, que será apresentado ao governo federal esta semana. Francisco Carlos Garisto, presidente da Fenapef – Federação Nacional dos Policiais Federais, vai aos ministros da Justiça e do Planejamento oferecer o novo modelo, que consiste em dez provas diferentes, confeccionadas em dez gráficas diferentes, elaboradas por dez professores diferentes. A prova a ser aplicada será sorteada na frente dos candidatos.

Em depoimento ao jornal Correio Braziliense, o candidato Márcio Cundari, de 33 anos, relatou: “Fui entregar o relógio e o celular antes de entrar na sala para fazer a prova de agente penitenciário, em fevereiro deste ano. Enquanto estava na fila, um carioca começou a comentar que tinha comprado o gabarito e passaria de qualquer jeito. E se gabava. Em um fórum de concurseiros, cheguei a mandar mensagens de críticas a dois candidatos que diziam que tinham comprado as respostas. Para mim, eles são perdedores. Em 2002, me ofereceram a compra de um gabarito, mas eu não aceitei por princípios. Foi quando conversava com amigos no Quiosque do Atleta, no Parque da Cidade. O padrasto de um amigo meu disse que um conhecido pediu para comentar conosco, porque estávamos prestando concurso, que existia um esquema de compra das respostas do concurso da Polícia Federal por R$ 20 mil. Eles só entregariam o gabarito depois de depósito em conta, e combinariam como repassariam os dados. Não aceitamos. Meu amigo foi aprovado na Polícia Federal sem precisar disso. É uma prova de que é possível passar com o próprio esforço”.

Em entrevista à revista Consultor Jurídico, Garisto disse o seguinte:

Essa quadrilha vinha atuando há 20 anos. É uma coisa sem precedentes, atuavam em concursos e vestibulares. Não podemos fuzilar essa gente porque não há pena de morte, mas temos de dar a eles a prisão perpétua. O golpe é dado aqui em Brasília e em mais oito estados. E olha que a polícia está apenas no começo desta investigação.

Esta semana toda estamos atentos a isso porque aqui em Brasília não se fala outra coisa, é o assunto dos restaurantes. Estamos investigando o vazamento de informações no concurso da Polícia Federal. Um garoto disse que foi oferecido a ele um gabarito das provas para ingresso nos quadros da Polícia Federal. Temos que saber como é o sistema de sigilo das pessoas que controlam essas provas.

Estamos, então, bolando uma nova forma de se fazer concurso no Brasil. Analisando todas essas fraudes que foram descobertas, analisando junto com membros da Fenapef que são especializados em concurso e são diretores sindicais aposentados da PF, nós concluímos que esses vazamentos ocorrem através das gráficas ou através de pessoas ligadas a parentes de pessoas que confeccionam as provas intelectualmente.

É muita tentação: o camarada está elaborando a prova e tem um parente que está fazendo concurso para juiz, para procurador ou para delegado da polícia, ele fica tentado a revelar no mínimo algumas perguntinhas. É muita tentação e, portanto, muita responsabilidade para um homem só. Então o que nós queremos é que se faça dez tipos de provas diferentes em dez locais diferentes, em gráficas diferentes. É lógico que vai ficar mais caro, mas é muito melhor ser mais caro do que esse vazamento continuar colocando desilusão na cabeça de todo mundo que está fazendo concurso.

A prova final será sorteada entre as dez confeccionadas no dia do exame, na mesa, na frente dos candidatos. A pessoa vai precisar de uma sorte de Megasena para saber qual das dez provas ele vai fazer e qual a sala em que ele vai estar.

No caso de a pessoa conseguir o gabarito através de crime, já pensou um criminoso manuseando dez gabaritos na sala de aula? Ele vai ficar meio maluco. Essa portanto é uma solução que vai ser encaminhada ao ministro da Justiça, Márcio Thomas Bastos, e ao ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, e também à Academia de Polícia da PF. Não pode restar a simples idéia de que alguém tenha entrado na Polícia Federal pela porta dos fundos.

Liberado depois de depor

A Polícia Civil do Distrito Federal liberou neste sábado o professor Mauro Luiz Rabelo, diretor acadêmico do Cespe – Centro de Seleção e Promoção de Eventos da UnB, preso sob acusação de fornecer provas e gabaritos para a uma quadrilha especializada em fraudar concursos públicos em diversos estados.

Rabelo foi preso no fim da noite de sexta-feira por policiais do Deco – Divisão Especial de Repressão ao Crime Organizado, em Brasília. O diretor acadêmico do Cespe foi solto no final da madrugada, depois de prestar depoimento aos policiais, que não viram indícios de sua participação na “máfia dos concursos”.

As investigações chegaram ao nome de Rabelo após o depoimento de Carlimi Argenta de Oliveira, na madrugada de quinta-feira (26/5). De acordo com a polícia, ela seria a pessoa que levava os gabaritos das provas obtidos no Cespe para o técnico judiciário Hélio Ortiz, apontado como o líder da quadrilha.

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