Meias verdades

Tesoureiro do PT mente ao dizer que TSE julgou mensalão

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8 de junho de 2005, 18h14

O tesoureiro do PT, Delúbio Soares, mentiu ao tentar defender-se da acusação de que seu partido suborna deputados em troca de votos na Câmara. Para afastar a prática de irregularidades, Delúbio afirmou que “essa investigação foi feita no Congresso e foi feita também no TSE e acabou de ser julgada semana passada”.

Segundo a assessoria de imprensa do tribunal, “não houve nenhum julgamento desse tipo nas últimas três semanas”. A possibilidade de a matéria ter sido tratada em decisão monocrática do presidente da Casa, ministro Carlos Velloso, foi repelida em seu gabinete. “Isso nunca passou por aqui. Só se ainda não foi protocolado”.

Procurados pela revista Consultor Jurídico, dois ministros do TSE mostraram estranheza. “Isso não é matéria para o TSE julgar”, afirmou um deles. O outro, ofendeu-se: “Isso é o fim do mundo. Como alguém pode dizer que o tribunal admitiu uma coisa dessas?” Nesse sentido, o único caso em trâmite no tribunal é uma consulta feita pelo PT referente à contribuição que o partido cobra dos seus filiados instalados em cargos públicos. O caso deverá ser apreciado nesta quinta-feira (9/6).

Em entrevista coletiva nesta quarta-feira (8/6), Delúbio disse que a “primeira vez que ouviu a palavra mensalão foi no Jornal do Brasil, em setembro do ano passado”. Segundo ele, o presidente da executiva nacional do PT, José Genoíno, teria tomado providências junto ao presidente da Câmara, que teria investigado o caso. A Câmara arquivou o caso depois de o então ministro das Comunicações Miro Teixeira negar as informações a ele atribuídas.

Batalha de nervos

Delúbio pretendia esclarecer as acusações feitas pelo presidente do PTB, Roberto Jefferson de que o PT teria pago mesada de R$ 30 mil aos parlamentares do PP e do PL, partidos que compõem a base de sustentação do governo no Congresso. Escoltado pelo deputado José Genoíno, ele estava visivelmente nervoso e foi evasivo na maioria das respostas da entrevista que durou cerca de meia hora.

O tesoureiro do PT foi incisivo apenas ao afirmar que o partido “nunca participou da compra de votos ou apoio de deputados” e que colocará seus sigilos fiscais, telefônicos e bancários à disposição da Justiça. “O PT participa de acordos eleitorais entre partidos e a base aliada, mas isso não inclui recursos”, disse.

Perguntado se o importante não é a quebra do sigilo fiscal do partido, já que a acusação é que o tesoureiro atuaria apenas como intermediário no pagamento do chamado mensalão aos parlamentares, ele afirmou que a medida “é desnecessária, já que o partido presta contas ao Tribunal Superior Eleitoral” todos os anos. Mas que, se necessário, “o sigilo do PT também será colocado à disposição da Justiça em qualquer momento”.

No momento, está em processo de instalação uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) no Congresso para apurar o desvio de dinheiro público dos Correios para o financiamento de apoio ao governo. Ao mesmo tempo se discute a conveniência de instalação de uma outra CPI para apurar o mensalão, um esquema de pagamento de mesadas aos deputados da base aliada do governo na Câmara dos Deputados.

Chantagem

Por mais de uma vez, Delúbio disse que as denúncias de compra de deputados fazem parte de uma chantagem contra o PT, mas não especificou qual seria o objeto dela. Disse apenas que as acusações teriam o intuito de ameaçar membros “do Congresso e membros de partidos políticos ali [na entrevista concedida por Jefferson à Folha de S. Paulo na última segunda-feira] citados [no caso o PL e o PP]”.

Durante a coletiva, Delúbio citou e corroborou o discurso feito pelo presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva nesta terça-feira (7/6) e se declarou “muito indignado com o que tem sido dito a respeito da minha pessoa e do nosso partido”. Disse, ainda, que “o PT não tem medo [das acusações] e eu também não”.

Questionado sobre o quê o tesoureiro do PT faz no Palácio do Planalto, onde foi visto diversas vezes, ele alegou que “a direção do PT tem por obrigação tratar de assuntos partidários com os demais partidos da base aliada e da oposição. Sou dirigente do PT e a mim foi delegado tratar de vários assuntos, principalmente os eleitorais de 2004. Fizemos reuniões inclusive com a direção do PTB”. Delúbio também afirmou não ver problema em receber presidentes e dirigentes de partidos em sua casa. “O Valdemar Costa Neto [presidente do PL] tem mantido diálogo constante com o PT e não tenho problema em encontrá-lo em qualquer lugar”, disse.

Ao lado do tesoureiro do PT na bancada armada para a entrevista aos jornalistas, o presidente nacional do partido José Genoíno afastou a possibilidade imediata de tirar Delúbio do cargo de secretário de finanças do partido. “A questão da saída [de Delúbio] da executiva do partido não foi tratada nem apresentada”, disse Genoíno. “Ele é dirigente do partido, foi eleito pela executiva e continuará o trabalho na executiva nacional”.

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