A diva da crise

Empréstimo ao PT é de mais de R$ 90 milhões, diz secretária

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18 de julho de 2005, 20h51

Quem paga os honorários do advogado Rui Caldas Pimenta para defender a ex-secretária do empresário Marcos Valério, Fernanda Karina Ramos Somaggio? Em entrevista exclusiva à revista Consultor Jurídico, a ex-secretária do homem do mensalão garante: os serviços de um dos advogados mais caros do país contratado para representá-la, uma simples assalariada de classe média, são pagos com recursos de sua família e de seus amigos. “Com eles terei uma dívida para o resto da vida”, diz a diva da maior crise do governo Lula.

Fernanda Karina diz que ainda não sabe se vai sair candidata a deputada — “isso é coisa para se pensar no futuro, com calma” — e descarta posar para a Playboy. Mas brande, a todo o momento, uma convicção que parece-lhe um ato de fé: a de que tudo o que Marcos Valério fala é uma vasta onda de mentiras a serem investigadas pela Polícia Federal e pelo Ministério Público Federal.

Fernanda Karina não dá um passo sem que a família saiba (“um motoqueiro me ameaçou no trânsito”) e avalia que valor dos empréstimos que Marcos Valério declarou publicamente ter dado ao PT são bem maiores. “Quando ele fala em R$ 30 e poucos milhões sabemos que são na verdade mais de R$ 90 milhões”, afirma.

Leia a entrevista

Conjur — O que você acha da nova versão de Marcos Valério, de que emprestou ao PT R$ 39 milhões?

Fernanda — É mais uma das versões dele sobre o assunto. Quem tem de apurar isso agora é a PF e o Ministério Público. Particularmente não acredito nessa versão dele, mas tem de se ir atrás disso, para se ver se é a última versão ou se há outra versão ainda.

Conjur — Do que ele falou, o que pode ser desmontado por você?

Fernanda — Não sei se posso ajudar mais. Eu falei o que vi, e o que falei foi comprovado. Acredito que agora a coisa não depende mais de mim, depende também da vontade política de se checar se isso é a verdade. Até porque Marcos Valério falou num empréstimo de R$ 30 e poucos milhões quando na verdade os empréstimos pro PT somam mais de R$ 90 milhões. É muito dinheiro para se emprestar. Não é qualquer pessoa que empresta isso.

Conjur — Você nunca ouviu falar nesse empréstimo?

Fernanda — Nunca.

Conjur — Está pronta para acareação?

Fernanda — Sim, claro. Já me coloquei à disposição da CPI e de quem precisar, vou a Brasília quantas vezes for preciso. Acho que de tudo isso a única pessoa que não mente sou eu. Os 37 fatos que eu expus foram comprovados.

Conjur — Você deu os nomes à CPI de duas operadoras do dinheiro de Marcos Valério junto ao PT. O que achou das explicações delas à Polícia Federal?

Fernanda — Uma é diretora financeira, que é a Simone, a outra é uma das secretárias, que é a Adriana. Do mesmo jeito que ele omitiu muitos fatos da Polícia Federal, elas também omitiram.

Conjur — Quem paga o seu advogado, Rui Caldas Pimenta, um dos mais caros de Belo Horizonte?

Fernanda — Não sou só eu que pago. É a minha família, a família do meu marido e os meus amigos. Agora tenho uma dívida com eles pro resto da minha vida

Conjur — O que achou dos papéis queimados, da DNA, encontrados na periferia de Belo Horizonte? Reconhece como sendo da empresa?

Fernanda — Pelo o que vi pela TV, aqueles papéis são de fato oficiais da DNA. Agora, o motivo pelo qual eles foram queimados eu não sei. Deve existir um motivo bem maior para isso, são papéis de empresas grandes, de empresas conceituadas.

Conjur — Você virou celebridade. É candidata a deputada ou vai posar nua para a Playboy como chegou-se a publicar semana passada?

Fernanda — Essas informações não procedem (risos). Mas essa especulação sobre candidatura foi que na semana passada eu estava em Brasília, na CPI, e um deputado veio conversar com o meu advogado. Enquanto eles estavam conversando a primeira palavra do deputado foi que agora não era o momento nem a hora de eu pensar nisso, e ele fez das palavras deles as minhas: agora não é hora de pensar nisso. Só penso em terminar tudo isso em que eu entrei, esses processos nos quais sou testemunha. Depois que passar isso, aí sim, a gente vê as coisas calmamente e vê se realmente vale a pena ou não.

Conjur — Como é seu dia-a-dia agora?

Fernanda — Corrido demais, sempre sendo convidada para vários programas. Todos me cumprimentam, me beijam e me abraçam na rua. Não ando sozinha na rua. Temo pela minha segurança, é claro. Desde que um motoqueiro me ameaçou não ando sozinha, não fico em casa. Tenho uma filha de 8 anos e não deixo ela sozinha. Sempre que volto pra casa ligo e digo de onde e a que horas estou saindo, o que eu vou fazer durante o percurso e em quanto tempo vou chegar em casa.

Conjur — Nesta terça o BC manda para a CPI os papéis dos saques no Banco Rural, feitos por gente indicada pelo PT. O que você conhece da relação de Marcos Valério com esse banco?

Fernanda — Acho que o Banco Rural realmente está muito envolvido em tudo isso, até porque o Marcos Valério e o ex-presidente do banco eram extremamente íntimos, estavam sempre viajando juntos, encontrando pessoas de alto escalão na política. Acho que o Banco Rural deu uma ajuda boa, mesmo porque o Banco do Brasil, apesar de eles terem conta, é uma instituição bem maior onde existem outras regras.

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