Juízes na festa

Eles julgam o mundo, mas têm direito de se divertir

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6 de dezembro de 2005, 18h24

Já está virando tradição. Pelo quarto ano consecutivo, juízes e desembargadores promoveram a festa de confraternização da comunidade jurídica de São Paulo. Além de comemorar mais um ano que se passou, a festa, nesta segunda-feira (5/12), serviu também para fazer o bem: como nos anos anteriores, os convidados fizeram doação de brinquedos que serão distribuídos a crianças carentes no Natal. Serviu também para mostrar a busca dos juízes paulistas em se integrar e se socializar, quebrando um pouco aquela imagem de sisudez e imponência solidificada no uso da toga.

“Esse permanente contato com o mundo exterior ao Judiciário é sempre salutar e necessário”, diz o desembargador Carlos Teixeira Leite Filho, um dos idealizadores do evento. “Traz muitas informações, outras visões e compreensões da realidade de muitas coisas, algum conhecimento sobre temas e práticas comuns a outras atividades e que podem ser aproveitadas no exercício da nossa”.

Mas a idéia fundamental é fazer festa mesmo. Esta de fim de ano é apenas a maior delas. Mas uma outra tradição já vai se firmando entre os juízes paulistas: os encontros das noites de quinta-feira no bar Astor, na Vila Madalena, também de geração espontânea e que já reúne uma comunidade fiel.

A idéia da festa de fim de ano nasceu de uma conversa entre Teixeira Leite e um colega de Tribunal, Jaime Queiroz Lopes Filho, durante a comemoração de um aniversário. A idéia se espalhou, outros aderiram e se cotizaram para pagar as despesas e distribuir os convites. Logo, a freqüência da festa já era de 500 participantes. Este ano, a distribuição de convites teve de ser suspensa quando bateu no limite pré-fixado de 900 pessoas. Muita gente ficou do lado de fora.

Os brinquedos arrecadados são distribuídos entre creches e instituições indicadas pelos participantes sob a supervisão da Vara de Menores do Fórum de Pinheiros. O fórum de Pinheiros, localizado no coração da Vila Madalena, reduto de bares e restaurantes da noite paulistana, é, por sinal, o berço e o maior incentivador das festas, digamos assim, judiciais.

Inicialmente a festa acontecia no bar Marcenaria, na Vila Madalena, despojado e agradável, com música ao vivo (rock anos 70, assim como o DJ, haja vista a idade média da maioria). Este ano, com quase o dobro de convidados, o evento foi transferido para o Bar Avenida, também na Vila Madalena, mas muito mais amplo, com duas bandas tocando ao vivo. Teve também o sorteio de passagens da TAM, cortesia da empresa, por meio do advogado Antônio Celso Amaral Salles.

A movimentação nos dias imediatamente anteriores a festa é grande, com muita procura pelos convites, o que infelizmente é limitado em benefício da qualidade da festa. No lado do Judiciário local, do Fórum de Pinheiros, são convidados os juízes, promotores, estagiários, funcionários, advogados. O caso é comentado no Tribunal de Justiça, no Ministério Público, OAB, Aasp, Fóruns e demais tribunais. “Como todos são conhecidos e convidam conhecidos, as festas têm sido agradáveis permitindo integração e muita animação”, diz Teixeira Leite.

Quintas do Astor

Os encontros das quintas-feiras começaram há nove anos. Um juiz e um promotor foram conhecer o Pirajá, um bar que acabava de ser inaugurado, gostaram, passaram a freqüentar e foi se formando o grupo. Há quatro anos mudaram de endereço e passaram a se reunir no Astor. Com o tempo a roda foi se ampliando para profissionais de outras áreas, residentes no bairro e sócios do Alto dos Pinheiros, um clube muito freqüentado pelos juizes do Fórum de Pinheiros.

Essas reuniões são totalmente informais, apenas com local certo, o dia certo e, com as pessoas certas. Ninguém precisa ser convocado. Basta aparecer a partir das 18 horas e ocupar um dos lugares na grande mesa em forma de quadrado que fica reservada. O mesmo garçom, que já conhece os participantes e as preferências, dá o serviço.

Participam desembargadores, juízes, advogados de várias áreas, promotores de Justiça, empresários do mercado financeiro, da indústria e comunicação, engenheiro, e, não é raro, surgem convidados. Nessa condição já passaram por lá ministros do STJ, do TSE, integrantes do Conselho Superior da Magistratura. Conta-se que até no Supremo já se fala das noites de quinta-feira do bar Astor.

Uma figura constante no Astor é Antônio Rebelo da Cunha, empresário do setor financeiro. Rebelo da Cunha se sente à vontade, embora pudesse parecer fora de ambiente no meio de tantos juizes e desembargadores. “Aqui eu sou o réu”, costuma brincar. Com a habilidade adquirida no mercado financeiro, Toninho, como é chamado, acabou se transformando no tesoureiro da festa de fim de ano da classe (dos juizes, não dos réus).

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