Saúde ABC

PT está fabricando um novo escândalo em Santo André

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16 de abril de 2005, 11h00

Em 18 de setembro de 47, de colete, chapéu coco e cavanhaque branco, Washington Luís, derrubado em 30, voltou do mais longo exílio político do País, foi recebido por uma multidão no cais da Praça Mauá, no Rio, saudado pelo general Euclides Figueiredo e pelo governador da Bahia Otavio Mangabeira, desfilou na Avenida Rio Branco em carro aberto, ao lado do chefe da Casa Militar de Dutra, general Alcio Souto, e veio para São Paulo.

No Rio e aqui, a imprensa queria uma entrevista, o ex-presidente não deu. José Carlos Pereira de Souza, do “Correio Paulistano”, não se conformou:

– Presidente, não nos deixe frustrados. Diga ao menos uma coisa. Por exemplo, qual a diferença entre o passado e o presente?

– Antigamente, faziam-se eleições desonestas para eleger homens honestos. Hoje, fazem-se eleições honestas para eleger desonestos.

“Saúde ABC”

O PT, aqui no ABC paulista, logo no ABC onde nasceu, está fabricando um novo escândalo em Santo André, que vai explodir a qualquer momento, como o que acabou matando o prefeito Celso Daniel. É uma história de corrupção explícita à custa do povo. Um jogo sujo: lesa a saúde da população e compra cobertura política com dinheiro para a campanha eleitoral.

1 – A empresa “Grupo Saúde ABC”, de plano de saúde, é campeã de irregularidades junto à ANS (Agência Nacional de Saúde), que já fez nela duas intervenções. Em 2004 teve o maior índice de reclamações no Procon de Santo André e fez reajuste abusivo de 41%, quando a ANS havia determinado aumento máximo de 11,75%. Por isso, foi autuada em R$ 6,3 milhões.

2 – Em 2003, a “Saúde ABC” apresentou balanço com prejuízo de R$ 1,9 milhão, escondendo o real prejuízo de R$ 9,3 milhões. O balanço de 2004 apresentou prejuízo declarado de R$ 3,5 milhões. Comprou outra empresa do seu próprio dono, pagando ágio de R$ 18,8 milhões, para subtrair recursos.

Os donos

3 – Em 2003, a “Saúde ABC” e os donos tiveram suas contas correntes bloqueadas pelo juiz da 42ª Vara Civil de São Paulo, Carlos Henrique Abrão, por dívidas não pagas ao hospital Mauá. Também em 2003, a juíza Adriana de Mello Menezes, da 3ª Vara Civil de Mauá, mandou a empresa devolver equipamentos desaparecidos do hospital Mauá, avaliados em R$ 4 milhões.

4 – Ricardo Silveira de Paula e Salete Pessanha de Paula, donos da “Saúde ABC”, respondem a um processo por “divórcio fraudulento”, porque, há 30 anos casados em comunhão de bens, divorciaram-se de mentira, não se separaram um só dia, dois anos depois novamente se casaram com separação de bens, e, para proteger dos credores suas mansões, carros importados, iate, passaram todos os bens para uma nova empresa, a “De Paula Representações”.

Os médicos

Diante do prontuário da “Saúde ABC”, o Sindicato dos Médicos e o Movimento dos Médicos do Grande ABC decidiram o descredenciamento coletivo dos profissionais, para não serem coniventes com um estouro certo.

O que mais indignou o sindicato e os médicos é que, em dezembro, outro plano de saúde paulista, a “Interclínicas”, quebrou com uma dívida de R$ 150 milhões e a ANS determinou que vendesse sua carteira de 166 mil clientes, menos para qualquer empresa que já tivesse sofrido intervenção dela.

Antes que os interessados apresentassem suas propostas, deputados do PT de São Paulo fizeram pressão em Brasília e conseguiram uma ordem da ANS para entregar a “Interclínicas”, plano falido com 166 mil clientes, à “Saúde ABC”, empresa menor, com 127 mil clientes e já com intervenção.

Os clientes

Os clientes e médicos estão apavorados: a “Saúde ABC” ficou com a carteira de clientes da “Interclínicas”, alugou seu hospital e os doze centros médicos, mas diz que nada tem a ver com as dívidas de R$ 150 milhões e o passivo trabalhista. Os custos dos atendimentos feitos em novembro e dezembro, que seriam pagos em janeiro e fevereiro, não têm mais quem pague. Ela pegou livres as receitas de janeiro e fevereiro e só vai pagar março.

Para a “Saúde ABC” pagar os alegados “R$ 10 milhões” da “compra” da “Interclínicas”, bastou tirar parte da receita de janeiro, e a receita dos dois meses ficou para adubar a caixinha político-eleitoral do PT paulista que arrancou a misteriosa ordem da ANS em Brasília. Todos os credores da “Interclínicas” (clientes, médicos, funcionários, etc.) foram passados para trás.

Clientes, médicos e funcionários lesados criaram a Associação dos Credores da Interclínicas e do Grupo Saúde ABC para cobrar os R$ 150 milhões. O ministro Humberto Costa, paulista-pernambucano dali perto, de Campinas, vai de novo cruzar os braços, como tanto tempo cruzou no Rio?

O ministro José Dirceu purgou muito desespero no estrondo do primeiro escândalo de Santo André, pior do que o de Waldomiro Diniz, porque deixou um cadáver coberto de sombra. Vai permitir que um segundo escândalo de Santo André exploda antes das eleições de 2006?

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