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Presidente do BNDES diz que apóia proposta criticada por Palocci

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9 de setembro de 2004, 12h03

Política do medo – 1

O PT, que já considerava a eleição municipal em São Paulo fundamental para a estratégia de reconduzir o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao Palácio do Planalto em 2006, decidiu federalizar de vez a disputa na capital paulista. A prefeita de São Paulo, Marta Suplicy (PT), candidata à reeleição, afirmou ontem que uma vitória da oposição na cidade pode resultar numa crise política no país, o que impediria o governo federal de criar condições para dar sustentabilidade ao crescimento econômico.

Política do medo – 2

Segundo a prefeita, que falava em palestra na Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamentos e Investimentos (Acrefi), a derrota do PT na cidade levaria à “abertura da própria sucessão presidencial”. Marta não mencionou nomes, mas evidentemente se referia à possibilidade de José Serra, candidato do PSDB à prefeitura, derrotá-la.

Política do medo –3

De acordo com Marta, “a transformação de São Paulo em alicerce da oposição ao governo federal, levará ao acirramento da disputa política”, o que, afirmou ela, impediria a realização de reformas de que o país necessita. Ela se referiu especificamente ao projeto que cria as Parcerias Público-Privadas (PPPs). Para a prefeita, a sociedade terá de escolher se, nos próximos dois anos, o governo de Luiz Inácio Lula da Silva seguirá o caminho “da união e do aprofundamento da atual política econômica” ou o “do estado de crise política”.

O que dizem os números

De acordo com a última pesquisa Ibope, Marta tem 30% das intenções de votos, enquanto o tucano está com 34%. No Datafolha, os números são os mesmos, só que invertidos. Os dois institutos apontam a vitória de Serra num eventual segundo turno (56% a 35% no Ibope; 52% a 40% no Datafolha). Marta mencionou o que considerou bons resultados da política do governo federal: queda no desemprego, crescimento econômico, melhoria do perfil da dívida e ajuste nas contas públicas.

Reforços

Nas últimas semanas, o comando da campanha de Marta tem cobrado maior empenho da cúpula do governo federal na disputa em São Paulo. Avalia-se que será necessária uma intervenção, inclusive com a oferta de cargos, para garantir apoios de outros partidos, como o PMDB, no segundo turno. Também tem havido tensão na relação entre Duda Mendonça, responsável pela propaganda no rádio e na TV, e o núcleo mais próximo da prefeita, que se relaciona com o publicitário por meio do marido de Marta, Luis Favre.

Quem paga o pacto?

O presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Carlos Lessa, disse ontem que apóia a proposta de pacto social, criticada pelo ministro da Fazenda, Antonio Palocci. Lessa referia-se ao entendimento nacional que a Central Única dos Trabalhadores (CUT) está propondo à Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e aos bancos para segurar a inflação e impedir um aperto da política monetária que iniba o crescimento. De acordo com o presidente do BNDES, o pacto seria uma saída para o país possa assistir a uma queda dos juros. Para o ministro da Fazenda, porém, só a negociação do pacto social pode trazer de volta a inflação, uma vez que desencadearia reajustes preventivos de preços.

Assim falou… Dick Cheney

“Se nós fizermos a escolha errada, então o perigo é que sejamos atacados de novo, de uma forma devastadora do ponto de vista dos EUA.”

Do vice-presidente dos EUA e candidato à reeleição na chapa de George W. Bush, adotando a política do medo. Segundo Cheney, a vitória do democrata John Kerry colocaria o país em risco de sofrer um outro atentado terrorista.

Tudo é história

No dia em que a prefeita petista de São Paulo e candidata à reeleição Marta Suplicy jogou com o medo de uma suposta crise política — absolutamente fora do cenário, diga-se — que adviria de sua derrota eleitoral, nada melhor do que lembrar do que o PT tanto criticou na eleição presidencial. Lembram-se que a atriz Regina Duarte participou do horário eleitoral do então candidato a presidente pelo PSDB, José Serra, em 2002, para dizer um sonoro “Eu tenho medo!”, referindo-se à eleição de Lula? A resposta petista, então, foi um slogan: “A esperança vai vencer o medo”. Na época, vá lá, ainda havia a temer a reação dos mercados à eleição de Lula, dado que a história do candidato era de apoio a bandeiras como a do calote de dívida. Mas que perigo a eleição de Serra como prefeito de São Paulo apresenta ao país? Caso clássico: a história se repete como farsa.

* A coluna é produzida pelo site Primeira Leitura – www.primeiraleitura.com.br

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