Válvula de escape

Juíza do TRT de RO se livra de aposentadoria compulsória

Autor

14 de outubro de 2004, 18h20

Nepotismo, gasto indevido de dinheiro público, desvio de verbas de obras, improbidade administrativa, concessão irregular de diárias e de licença-maternidade. Alvo de todas essas acusações, a ex-presidente do Tribunal Regional do Trabalho de Rondônia, Maria do Socorro Costa Miranda, se livrou da pena de aposentadoria compulsória. O caso se desenrola paralelamente a outros tantos em que se investiga funcionários e juízes do estado, com acusações de corrupção e envolvimento sexual no ambiente de trabalho.

Na semana passada, o Pleno do Tribunal Superior do Trabalho decidiu, por nove votos a cinco, pelo afastamento da juíza. No entanto, a pena não será aplicada. Pela Lei Orgânica da Magistratura (Loman), seria necessário que pelo menos 12 ministros (dois terços da composição do tribunal) votassem pelo afastamento, o que não aconteceu. Com a decisão no processo administrativo disciplinar, que correu em segredo de justiça, ela poderá voltar ao cargo.

O Ministério Público Federal de Rondônia move seis ações civis públicas e uma ação popular contra Maria do Socorro. Ela é acusada de levar o namorado Frederico Sadek Filho e a mãe dele — Elna Thadeu de Castro Sadek — em viagens feitas pelo país quando era presidente do TRT de Rondônia. O MPF acionou os três por uso injustificado de diárias.

Maria do Socorro é acusada, ainda, de nomear irregularmente Ana Letícia Lando, filha do ministro da Previdência, Amir Lando. O MPF afirma que a ex-presidente do TRT de Rondônia concedeu, também, licença-maternidade indevidamente para Ana Letícia.

Curiosamente, dois dias antes de o caso ser julgado no TST, o ministro da Previdência esteve reunido com o presidente da Corte, Vantuil Abdala. Segundo informações do site do TST, “o tema principal da reunião” foi um convênio entre a Justiça do Trabalho e a Previdência Social. A revista Consultor Jurídico perguntou para a assessoria de imprensa do ministro, na quarta-feira (13/10), se ele tratou do julgamento da juíza com ministros do TST. Até o momento, a revista ConJur não obteve retorno.

Em uma Ação Civil Pública assinada pelo Ministério Público Federal e pelo Ministério Público do Trabalho, a juíza é acusada de nepotismo. Ela contratou sua irmã, Maria de Fátima Moraes Costa, como chefe de seu gabinete. Segundo o MPT, o caso será julgado pelo Superior Tribunal de Justiça.

Procurada pela revista ConJur, na quarta-feira (13/10), a juíza disse que se manifestaria sobre a decisão do TST, mas até o momento não deu retorno.

Histórico

Maria do Socorro e os juízes Pedro Pereira de Oliveira e Flora Maria Ribas Araújo foram acusados de desvio de verbas nas obras do TRT de Rondônia. Oliveira já tinha sido aposentado compulsoriamente pelo Pleno do TST. Flora Maria teve o processo suspenso porque se aposentou espontaneamente. Os três juízes assinaram a aprovação do estágio probatório de Ana Letícia.

O TST resolveu abrir sindicância depois de uma auditoria feita pelo Tribunal de Contas da União, que identificou irregularidades na construção do prédio do TRT-RO.

Em novembro de 2002, o TCU multou, individualmente, em R$ 10 mil, as juízas Rosa Maria Nascimento Silva, Maria do Socorro Costa Miranda e Flora Maria Ribas Araújo. Motivo: irregularidades apuradas no TRT da 14ª Região. Segundo o TCU, elas não esclareceram a nomeação de parentes para cargos em comissão.

O Pleno do TST decidiu pela abertura do processo administrativo disciplinar para cada um deles em dezembro de 2002.

O caso foi levado a julgamento, na quinta-feira (7/10), pelo ministro Emmanoel Pereira, que tinha pedido vista. O relator foi o ministro Ives Gandra da Silva Martins Filho.

Autores

Tags:

Encontrou um erro? Avise nossa equipe!