Novos desafios

Precioso Junior assume coordenação nacional da Interpol

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17 de novembro de 2004, 10h51

Parar de consumir drogas é a única saída para brecar a intensa e lucrativa movimentação das máfias mundiais. A opinião é o delegado federal Roberto Precioso Júnior, que está assumindo a coordenação nacional da Interpol, a Polícia Internacional, em Brasília.

Homem de poucas palavras, Precioso é um mito na PF. Prendeu nos anos 80 no Brasil os 17 mais procurados mafiosos italianos, incluindo o chefão Thomazzo Buschetta. Ele foi escolhido pelo juiz Nicolau dos Santos Neto para se entregar, por exemplo.

A ótica de Precioso ganha profundidade quando cotejada com os números das Nações Unidas, a revelarem que as 10 maiores máfias do mundo, enraizadas em 23 países, movimentam por ano US$ 3 trilhões, fomentados por US$ 200 bilhões anuais que os traficantes de cocaína chegam a movimentar.

Leia a entrevista concedida à revista Consultor Jurídico

Qual a sua preocupação ao assumir o cargo?

A preocupação ao assumir o cargo de chefe da oficina central nacional da Interpol está na exata proporção do tamanho do que ela significa e representa. Para que você tenha uma idéia, a Interpol é a segunda maior organização mundial internacional, ela só perde em magnitude para a própria ONU.

Ela possui projeções em 182 países e no Brasil ela está inserida na PF, através de uma coordenação geral que tem sede em Brasília. A nossa maior preocupação de ordem profissional é a implementação, cada vez melhor, de ações contra o crime organizado, procurando cada vez ais promover a existência de uma sociedade, não só nacional mas internacional, mais justa e fraterna

Para quem prendeu Buschetta e Lalau, o que preocupa mais ainda?

Essa preocupação é de ordem genérica. O Brasil possui características bem próprias à instalação desse crime organizado aqui, pela nossa área que é continental, pelas grandes capitais, o tipo de comunicação, enfim, uma série de coisas que proporcionam a atração dessas grandes organizações para o Brasil, e a nossa nesse sentido é sempre atuante.

Os traficantes do Brasil possuem amplas conexões internacionais ainda?

Sem dúvida, o Brasil não produz esse tipo de entorpecente, que vem dos três países fontes, Peru, Bolívia e Colômbia e nós, desgraçadamente, possuímos uma posição geográfica privilegiada em relação e esses países-fontes.

O que mudou no mapa do narcotráfico?

O que observo é a incrementação do narcotráfico. Mas em termos de polícia internacional sei que posso fazer mais alguma coisa.

As Farc preocupam o senhor?

Sempre é preocupante, e a atuação política do narcotráfico sempre existiu.

Deu uma brecada a vinda de mafiosos italianos para cá, como aqueles que o senhor prendeu nos anos 80?

Esse negócio de eu ter prendido é relativo. A gente sempre trabalha em equipe. Quem prendeu o Thomazo Buschetta foi a Polícia Federal brasileira. E eu reputo essa prisão a uma das mais importantes da era moderna no combate a crime. Porque a prisão dele proporcionou justamente o desencadeamento da operação Mãos Limpas na Itália e esse eu acho que tenha sido o maior golpe sofrido pelo crime organizado até hoje.

Qual a espinha dorsal do combate? Brecar o consumo?

Essa questão é muito controversa mas pelo que a gente tem observado, pelo tempo que exerci a repressão a narcóticos, a gente acaba se conscientizando que esse é mais um problema de cultura. Isso só caba com a diminuição da demanda. Enquanto não houver uma conscientização, isso a longo prazo, com implementações maciças na área de ensino, na área médica, informação. Enquanto houver demanda toda e essa rede estará agindo.

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