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Dirceu quer empurrar para colo de Palocci crise do caso Waldomiro

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31 de março de 2004, 10h43

No Senado, o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, fez uma defesa serena da política econômica — que tem sido alvo de críticas do PT, dos partidos aliados e, especialmente, do ministro José Dirceu, que almeja empurrar para o colo de Palocci a crise do caso Waldomiro.

Pingos nos is

Duas frases ditas por Palocci em seu depoimento de ontem na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado são exemplares. A primeira: “Não espero unir o país com corte e superávit. Mas quero unir o país com o resultado da política econômica”. A segunda: “A política econômica, nos seus pilares fundamentais, não vai mudar e não deve mudar”.

É sério

Há, definitivamente, algo de muito errado quando o presidente da República é obrigado a dizer que: “Nós não estamos brincando quando afirmamos que a economia brasileira vai ter um crescimento sustentável. E ele será crescente a cada ano daqui para frente”.

Das duas, uma

Ou seja, não se confia na sustentabilidade do crescimento ou nas promessas do presidente ou, o que é pior, em ambas. Detalhe: com a frase, Lula queria incentivar os empresários a investir.

A todo vapor?

Ontem, foi a vez de o presidente da Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP), engrossar o coro governista de que a crise não paralisou o poder. “Nas últimas semanas, a Câmara aprovou 18 MPs. Mudamos a alíquota da Cide em tempo recorde de uma semana, garantindo mais dinheiro para os Estados. É claro que temos dificuldade, que o desemprego é uma chaga no país, é claro que há amarras na economia que precisam ser desatadas. É claro que ninguém está satisfeito com taxas de juros altas, mas o Brasil só vai superar isso se todos acreditarmos que esse Brasil vai dar certo”, afirmou.

Truque e eufemismo

Da reunião que o presidente fez ontem com o seu ministro do Desenvolvimento Agrário, Miguel Rossetto, saiu mais um eufemismo e um truque orçamentário. Depois de chamar as invasões de terras de “ocupações”, Rossetto disse que o movimento estava apenas aquecendo “o debate” em favor da reforma agrária. Então tá!

Metas e metas

O truque orçamentário é mais sutil. O governo prometeu aprovar uma verba suplementar de R$ 1,7 bilhão para cumprir a meta de assentar 115 mil famílias até o fim do ano. O Orçamento prevê R$ 1,4 bilhão. Até agora, o governo assentou apenas 11 mil famílias e promete fechar o primeiro semestre com 47 mil. Vai conseguir assentar 68 mil no segundo semestre?

Dinheiro preso

O Primeira Leitura teve acesso ao Siafi, sistema informatizado de acompanhamento das despesas federais. Dos R$ 492,6 milhões do Orçamento de 2004 para assentamentos, até o dia 21 de março, domingo retrasado, o Desenvolvimento Agrário havia conseguido liberar… R$ 4,2 milhões.

Gasta o que tem

Eis a pergunta: por que o governo promete R$ 1,7 bilhão suplementar se está segurando a liberação do R$ 1,4 bilhão previsto no Orçamento aprovado pelo Congresso? Estranho, não?!

Assim falou… Jaime Amorim

“Se eles [os fazendeiros] matarem um, nós mataremos dez deles.”

Do coordenador do MST em Pernambuco, em resposta ao presidente da União Democrática Ruralista, Luiz Antonio Nablan Garcia, que recomendou aos proprietários que contratem segurança particular para evitar invasões.

Depoimento de ocasião

A Casa Branca reviu sua posição e decidiu permitir que a assessora nacional de Segurança, Condoleezza Rice, deponha na comissão bipartidária responsável pela apuração das circunstâncias que levaram aos atentados de 11 de setembro de 2001. No domingo, a assessora havia dito que não iria à comissão.

Mas a pressão da opinião pública para que a administração atual esclareça as suspeitas levantadas pelo ex-coordenador de política antiterrorista Richard Clarke de que houve negligência por parte do governo no período que antecedeu os ataques fez com que o comando político revisasse a estratégia original. Rice admitiu que o presidente Bush havia pedido a Clarke que investigasse as relações entre a Al Qaeda e o governo iraquiano. Em outra decisão surpreendente, Bush e o vice Dick Cheney anunciaram que vão depor perante toda a comissão, e não apenas aos dois responsáveis pela equipe de trabalho, como estava acordado anteriormente.

*A coluna é produzida pelo site Primeira Leitura — www.primeiraleitura.com.br

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