Balanço geral

Lincoln Gordon e presidente da OAB avaliam golpe de 64

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30 de março de 2004, 13h02

“Não se deve trilhar o radicalismo que acabou levando ao período de vinte anos de obscurantismo no País”. A afirmação é do presidente da OAB, Roberto Busato, ao comentar nesta terça-feira (30/3) os 40 anos do movimento militar de 31 de março de 1964, que instaurou uma ditadura que só terminaria no início de 1985.

De acordo com ele, “temos apenas vinte anos de vida democrática restabelecida, o que, para o padrão de muitos países, é um tempo muito curto. Então, é sempre importante relembrar aquele momento difícil da vida brasileira, até para firmarmos uma direção no sentido de procurar construir esse país persistindo na via democrática, sem rancores, sem ódios e sem radicalismos”.

O ex-embaixador dos Estados Unidos no Brasil, Lincoln Gordon, afirmou que o Movimento de 1964 durou “demais”. Em entrevista ao jornalista Cláudio Julio Tognolli, repórter especial da revista Consultor Jurídico, ele resumiu o Movimento de 1964 em dois minutos de conversa.

“Minha esperança, no mês de abril de 1964, era de uma rápida redemocratização do Brasil. Eu acho que ela foi infelizmente adiada por um tempo longo demais. Eu ainda acredito que o período de dura repressão poderia ter sido evitado. Mas a linha dura não quis e sua recusa foi muito custosa para o Brasil. Seu triunfo completo veio em 1965, com o Ato Institucional número 2. Houve uma bem sucedida insistência do presidente Castelo Branco em se dar posse aos governadores eleitos de Minas Gerais e da Guanabara. Mas comparando o ano de 64 com o ano atual, 2004, digo que a trágica experiência dos anos 70 e 80 parece ter deixado um resíduo muito importante: o respeito brasileiro nacional pelo valor da democracia e o reconhecimento de que é muito mais fácil destruir do que construir”, disse.

Nascido em Nova York em 10 de setembro de 1913, Lincoln Gordon, embaixador dos EUA no Brasil entre 1961 e 1966, empolgou as fantasias das esquerdas a ponto de, após o movimento de 31 de abril de 1964, ter delas recebido a grita “Chega de intermediários: Lincoln Gordon para presidente”.

O fato é que Gordon — hoje aos 91 anos e trabalhando do Brookings Institute, de Washington — mesmo como amigo íntimo do presidente Castelo Branco condenava os rumos do movimento militar, sobretudo após o Ato Institucional nº 2, editado a 27 de outubro de 1965. Pelo AI 2, os julgamentos de adversários do regime passaram para a Justiça Militar. Foram extintos os partidos políticos e reinstaladas as eleições indiretas para a Presidência da República.

Gordon esteve no Brasil em março de 1979, quando se confessou “chocado com o desvirtuamento do movimento de 1964”.

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