Reação nacional

Juízes brasileiros rejeitam críticas feitas por revista britânica

Autor

27 de março de 2004, 13h16

Os juízes brasileiros reagiram duramente ontem à matéria veiculada pela revista inglesa The Economist, que classificou o Judiciário brasileiro de “disfuncional, emaranhado em procedimentos inúteis, instituição jurássica”.

Para os magistrados, “a crítica pretende reiterar manifestações dos organismos financeiros internacionais, cuja premissa básica é Judiciário mínimo e previsível”.

Segundo The Economist, os juízes brasileiros “parecem antiquados, lhes faltam experiência e educação”. Sobraram críticas ao presidente do STF, Maurício Corrêa. “Lula começou a abrir a caixa-preta, tarefa que achará mais fácil quando Corrêa se aposentar em maio.”

A revista traz uma página sobre a criminalidade no Brasil, na qual afirma que “apenas o endurecimento” por parte das autoridades contra o crime “não vai funcionar”.

Ouvido pelo jornalista Fausto Macedo, de O Estado de S.Paulo, o juiz Fernando Moreira Gonçalves, da Associação dos Juízes Federais do Brasil, ironizou: “É estranho que uma revista de um país onde os juízes usam perucas folclóricas venha falar que o Judiciário brasileiro é jurássico”. Fernando Gonçalves destacou ainda que “a necessidade de agilizar o Judiciário é apontada há vários anos pelos juízes brasileiros, empenhados na ampliação do acesso à população”, destacou.

Sem deixar de admitir que o Judiciário brasileiro apresenta deficiências gigantescas, chamou a atenção de juízes e ministros a incompreensão da publicação britânica, em sua crítica, para a responsabilidade que cabe em uma democracia ao Executivo, ao Legislativo e à própria população no formato que se dá à estrutura judicial de um país.

Para Gonçalves, “enquanto os juízes estão preocupados com o aperfeiçoamento da Justiça, a revista se preocupa com o capital estrangeiro no Brasil”.

O presidente da Associação dos Magistrados do Trabalho, Grijalbo Coutinho, também reconhece a morosidade do Judiciário, mas alertou para o fato de que “os agiotas internacionais não se cansam de insultar os juízes para extrair vantagens”.

O presidente eleito do Tribunal Superior do Trabalho, ministro Vantuil Abdala, atribuiu as críticas feitas pela revista ao Judiciário brasileiro ao pouco conhecimento da realidade brasileira e do próprio País. “É difícil para qualquer publicação estrangeira avaliar o que se passa no Judiciário do Brasil porque eles não conhecem nem a realidade nem o Judiciário do nosso País”, disse ao responder perguntas feitas sobre o texto publicado pela revista.

“Não se pode dizer que o Judiciário é retrógrado, porque é nele que a sociedade encontra guarida para os seus direitos”, disse o presidente eleito do TST, que também contestou as críticas feitas aos juízes. “Não são os juízes que são jurássicos, mas as leis, em muitos casos”, disse Vantuil Abdala depois da solenidade de inauguração do Fórum Trabalhista de primeira instância de São Paulo. “O que o juiz faz é nada mais que aplicar a lei”, enfatizou o vice-presidente do TST.

Tags:

Encontrou um erro? Avise nossa equipe!